A realidade de hoje é caracterizada essencialmente por uma
fuga ao compromisso. Mas qual compromisso? Comigo? Com o outro? Predominam as
amizades coloridas, as ‘curtes’, uma espécie de “one night stand” (sem envolver
necessariamente a noite) em que predomina a dimensão física. Aliás, é este um
dos principais problemas do acto de namorar, o excesso de corpo e a total
desplicência pelos afectos, pela construção de um projecto comum. A total
confusão entre sexo e sexualidade. É este mesmo exagero que faz com que a
dependência gere o cíume. E o próprio ciúme cria dependência. Um círculo
vicioso de onde e extremamente doloroso sair. E quando se sai, o elo rompe-se
completamente. Não se olha mais para trás, procura-se esquecer o que vivemos, a
pessoa com quem estivemos e o quanto crescemos. Encontrar gratidão nestas
alturas é um exercício difícil, muito difícil, mas perdoar pode ser o primeiro
passo. Afinal estamos a construir a nossa própria história.

É incrível a facilidade com que se recorre à palavra ‘amor’ e
outras da mesma família. É incrível, e como diz uma conhecida música dos Da
Weasel, que sabendo a ‘razão da palavra consagrada’ tanta gente a dê ‘à toa em
troca de quase nada’, sem reflectir tudo o que ela envolve. A mim arrepia-me.
Assusta-me. Dizer ‘amo-te’ por dizer, encarar esta palavra como mais uma e não
como a expressão acústica do mais belo sentimento de todos, é um acto
irreflectido, mas comum em
demasia. Claro
que tenho que me dar ao outro, mas a entrega
não tem que ser obsessiva, não implica um total esquecimento das minhas necessidades
em detrimento do outro. Não implica deixar de estar com os meus amigos, só
porque não são amigos comuns. Há, apenas e só, mais um membro a somar às
equações do quotidiano: a minha/o meu namorada/o.

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