Lectio divina: 27º Domingo Comum (ano C)
6. Meditação
Força energética da fé. “Trazes a história de uma semente pequenina, microscópica. Dizes, para espanto meu, que, lançada à terra, dela nascerá uma árvore grande, em cujos ramos vêm abrigar-se os pássaros do céu, fazendo dela uma lareira carregada de alegria. E dizes, outra vez para espanto meu, que a fé tem o tamanho e o virtuosismo dessa semente pequenina, que semeada no meu coração e no coração do mundo pode desenraizar o que nos parece seguro, sólido, assegurado, fazer ruir os nossos cálculos mais estudados, fazer florir o alcatrão das nossas estradas, fazer sorrir a nossa história desgraçada, arrancar embondeiros, plantar no mar aquilo que parece só poder viver na terra” (Dom António Couto).
7. Oração
Senhor, faço minha a prece dos apóstolos: “aumenta a minha fé”. No meu mar a amoreira ainda não nasceu porque a minha pequenez não chegou ao grãozinho microscópico de mostarda. Que misterioso crescimento. Um dia crescerá.
8. Contemplação
«Somos servos inúteis, só fizemos o que devíamos ter feito»
Quanta gente se auto recompensa pelo serviço que faz anestesiando-se.
O serviço torna-se o seu deus, pântano intelectual.
Dá garantia à sua idolatria.
Pelo contrário, o “serviço evangélico” é gratuito,
humilde e confiante ao longo dos dias.
Em cada cidade, cada lar, em cada encontro de amor com Deus e com os irmãos
nasce e cresce a fé.
Ler “Milagre Oceânico”
Poema – Milagre oceânico
«Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Lc17, 6
Belo era o jardim imenso no mar;
Minhas amoras brancas, pretas e vermelhas
Brincavam na tarde luminosa e azul,
Numa brisa suave.
Amava esse meu recanto infindo transparente
Que pela noite me fazia dormir docemente.
Vim a boiar no ermo mar.
Como aqui cheguei ao oculto ilhéu, não sei.
Quem me pintou de mil cores
E me plantou num jardim de flores?
E dormia recostada nas algas
Com peixinhos azuis e vermelhos a meus pés
Nesse mistério só meu, oceânico.
Um dia, um anjo me visitou.
Baixinho me revelou o segredo
Da Palavra do doce rabi da Galileia
Que um dia desafiara seus ouvintes na Judeia.
“Apareceu um jovem pregador com fé,
Grande como o grão de mostarda”.
E o milagre por encanto aconteceu:
“A amoreira da terra foi arrancada
E transplantada,
Bela com suas amoras perfumadas,
Para o alto mar”. E ali estava.
“Vem, Espírito que lavras a terra,
Vem, artífice do mundo”.
José Augusto Mourão
