a fome apertava por dentro,
não a minha, a deles.
Invocámos a Trindade,
junto a essa igreja.
Em nome do Pai,
em nome do Filho,
em nome do Espírito
estivemos ali.
A paz foi correndo como um rio,
de chama em chama,
até que uma voz sonante
nos devolveu à realidade:
– Tenho fome. Quero comer!
E a comida chegou
repartida em sacos de ternura.
Eram homens, mulheres,
velhos e crianças de colo.
E até um homem-estátua
se moveu, agilmente,
para chegar aos alimentos
que iam sendo servidos.
Em todos os rostos estavam vincadas
as marcas, mais ou menos profundas,
de abandono.
Tocou-me em especial uma mulher
de olhar opaco, sem brilho nenhum,
que se manteve indiferente a tudo,
como se o instinto de sobrevivência
estivesse completamente ausente.
E havia alguém no meio deles,
que os chamava pelo nome,
que lhes dava um sorriso,
uma palavra de alento.
Os abraçava, como se abraça um amigo.
Alguém que tem um nome, uma identidade,
mas que se dá inteiramente aos outros,
em nome do Pai, do Filho e do Espírito.
Pelo seu testemunho
aqui fica o meu agradecimento!
Graça Borges