Lectio divina: 15º Domingo Comum (ano C)

Continuamos a ler Lucas 10 onde a figura do discípulo de Jesus vai recebendo novos contornos na sua formação.

Deslumbrante a figura do «Bom Samaritano», saída do coração misericordioso de Jesus. Notemos o final: “Vai e faz tu o mesmo”. A parábola diz-nos que toda a nossa vida não está assente em ritos, em “coisas a fazer” mas no amor. É Jesus quem sara as enfermidades.
A Palavra de Deus e os seus mandamentos só serão eficientes quando passarem das tábuas da lei para o coração do homem (cfr. Jer 31; Ez36).
A primeira leitura fala-nos do amor de Deus pelo seu povo. A segunda leitura coloca Cristo como centro da teologia paulina. Bom Domingo saboreando esta bela Palavra saída do coração de Deus.

1. Introdução
Continuamos a ler Lucas 10 onde a figura do discípulo de Jesus vai recebendo novos contornos. Deslumbrante a figura do «Bom Samaritano», saída do coração misericordioso de Jesus. A parábola diz-nos que toda a nossa vida não está assente em ritos, em “coisas a fazer” mas no amor. É Ele que sara as enfermidades. Notemos o final: “Vai e faz tu o mesmo”. A primeira leitura fala-nos do amor de Deus pelo seu povo. A segunda leitura coloca Cristo como centro da teologia paulina.
2. Deuteronómio 30, 10-14
2.1 Texto
Moisés falou ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance. Não está no céu, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós subir ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’(…) Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».
2.2 Exigências da Palavra de Deus
Este texto faz parte do terceiro discurso de Moisés na planície de Moab. São catequeses escritas por teólogos deuteronomistas num ambiente de exigência de fidelidade à aliança, já no fim do exílio da Babilónia. A Palavra de Deus e os seus mandamentos só serão eficientes quando passarem das tábuas da lei para o coração do homem (cfr. Jer 31; Ez36). ”Esta palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Nenhum homem fará caminho espiritual se não acolher a Palavra de Deus e a meditar no seu coração. É imperioso.
3. Salmo 68 (69), 14.17.30-31.33-34.36ab.37 (R. cf. 33)
3.1 Súplica dum pobre
O Salmo 69 é um salmo de súplica dum pobre desamparado, prestes a afogar-se. Grita a Deus de muitos modos descrevendo a situação que lhe vai na alma. São muitas as imagens do afastamento de Deus e do seu abandono interior. Termina concluindo a sua prece louvando a Deus e convidando todo o universo criado a fazê-lo. Encontramos citações deste salmo aquando da paixão de Jesus.
4. Colossenses 1, 15-20
4.1 Texto
Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. (…)
4.2 Síntese da cristologia paulina
Paulo, que está na prisão, descreve a maravilhosa figura de Cristo neste hino solene, denso, bem cuidado, à maneira da Sabedoria divina. É uma síntese da cristologia paulina e descrito à maneira do prólogo de S. João. Tem essencialmente duas partes: a primeira voltada para a soberania sobre a criação e a segunda voltada para a soberania e poder de Cristo na redenção. Os atributos colocam Cristo como centro, desde a criação à morte na cruz e ressurreição, e ao nascimento da Igreja.
5. Lucas 10, 25-37
5.1 Texto
Um doutor da lei perguntou a Jesus: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo ». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele (…) perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus (…) disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio-morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita (…) viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. (…)
5.2 Ser próximo dos que vivem comigo
A parábola do bom samaritano é uma obra de arte para descrever o amor misericordioso de Deus. É uma escalada difícil. Descrito o cenário e a sua geografia, Jesus coloca em cena os personagens da parábola: os bandidos na emboscada, a passagem, ao longe, do sacerdote e do levita e, finalmente o ator principal, o samaritano, pertencente ao povo desprezado. No entanto é precisamente este que vai usar de misericórdia dando todos os passos indispensáveis: pegar nele, levá-lo à estalagem e pagar tudo. O final da parábola é deslumbrante: “Vai e faz tu o mesmo”. Não se trata de saber quem é o meu próximo mas de “ser próximo dos que vivem comigo, dos que se cruzam comigo”. O amor não aceita ser teorizado. O amor vive-se com gestos e atitudes.

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