Lectio divina: 23º Domingo Comum (ano C)

Domingo após Domingo sucedem-se as catequeses que são autênticos quadros vivos de como seguir o Senhor que vai “a caminho de Jerusalém”.

É um caminho que acorda a sensibilidade do homem interior e faz com que a divina mensagem seja mais compreensível e transparente. Se bem lembrais, iniciamos este caminho a 26 de Junho, com a leitura de Lucas 9, 51 (XIII DTC). Hoje as pistas que se abrem neste Domingo são muito humanas e suscitam a experiência da fé. Todos os pais, educadores e catequistas deveriam fazer este caminho. A primeira leitura leva o homem à escola da sabedoria. A segunda leitura conta-nos uma história de amor de quem ama de verdade. É Paulo a pedir a libertação do escravo Onésimo. O Evangelho fala-nos da renúncia como caminho de liberdade e de vida: renúncia aos afetos, aos bens materiais. São as exigências do evangelho de Lucas. O poema final “Ser homem” descreve o projeto de Deus para a nossa vida. Bom Domingo.
1. Introdução
Domingo após Domingo sucedem-se as catequeses que são autênticos quadros vivos de como seguir o Senhor que vai “a caminho de Jerusalém”. A primeira leitura leva o homem à escola da sabedoria. A segunda leitura conta-nos uma história de amor de quem ama de verdade. É Paulo a pedir a libertação do escravo Onésimo. No Evangelho fala-nos da renúncia como caminho de liberdade e de vida: renúncia aos afetos, aos bens materiais. São as exigências do evangelho de Lucas.
2. Sabedoria9, 13-19 (gr. 13-18b)
2.1 Texto
Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode sondar as intenções do Senhor? Os pensamentos dos mortais são mesquinhos e inseguras as nossas reflexões, porque o corpo corruptível deprime a alma e a morada terrestre oprime o espírito que pensa. Mal podemos compreender o que está sobre a terra e com dificuldade encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem poderá então descobrir o que há nos céus? Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios, se Vós não lhe dais a sabedoria e não lhe enviais o vosso espírito santo? (…)
2.2 O homem na escola da sabedoria
Difícil para o homem o saber escolher o caminho duma vida feliz. A vida do homem é breve, prova o fracasso, está cheia de indecisões, frágil, limitada, como o tempo que a envolve. Só a ação da presença de Deus deslumbrará a existência do homem e o tornará forte no meio de tantas dificuldades. Se o Rei Salomão a pediu a Deus quanto mais cada um de nós? Quais serão os projetos que Deus tem para nós? Procurá-los, sem canseira, é pisar, desde já, o chão do Reino de Deus.
3. Salmo 89 (90), 3-6.12-14.17 (R. 1)
3.1 A vida do homem e a eternidade de Deus
O Salmo 90 é um salmo realista: põe à nossa frente a caducidade de tudo quanto existe em confronto com a eternidade de Deus: “como a erva que de manhã reverdece; de manhã floresce e viceja, à tarde ela murcha e seca”. É Deus quem dá a solidez à existência: ”mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou”. Só resta ao homem pedir a Deus iluminação interior para seguir os Seus caminhos e confiar na Sua misericórdia.
4. Filemon 9b-10.12-17
4.1 Texto
Caríssimo: Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Cristo Jesus, rogo-te por este meu filho, Onésimo, que eu gerei na prisão. Mando-o de volta para ti, como se fosse o meu próprio coração. Quisera conservá-lo junto de mim, para que me servisse, em teu lugar, enquanto estou preso por causa do Evangelho. Mas, sem o teu consentimento, nada quis fazer, para que a tua boa ação não parecesse forçada, mas feita de livre vontade. Talvez ele se tenha afastado de ti durante algum tempo, a fim de o recuperares para sempre, não já como escravo, mas muito melhor do que escravo: como irmão muito querido. É isto que ele é para mim e muito mais para ti, não só pela natureza, mas também aos olhos do Senhor. Se me consideras teu amigo, recebe-o como a mim próprio.
4.2 Uma história de amor cristão
Belíssima a Mensagem de coração para coração que Paulo, “prisioneiro por amor de Cristo Jesus” envia a Filémon. Paulo pede para libertar o seu escravo Onésimo, recém-batizado. Lutero chamou a este acontecimento “delicioso exemplo de amor cristão”. É um bilhete-postal a obrigar a uma resposta irresistível e imediata. Oxalá se fizesse presença nas plataformas informáticas dos nossos dias.
5. Lucas 14, 25-33
5.1 Texto
Naquele tempo, seguia Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-Se e disse-lhes: «Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se mostre incapaz de a concluir e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo: ‘Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir’. E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar se é capaz de se opor (…) Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo».
5.2 Exigências para seguir o Mestre
Urge fazer opções e opções fortes diante da Palavra de Deus. Através de duas parábolas Jesus pede renúncia aos afetos com aqueles que nos são queridos, e renúncias materiais. Em seguida coloca diante de nós a cruz: “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. “Quem dá a vida pelo Reino” cresce e faz crescer o amor. O discípulo abraça valores mais absolutos. “O discípulo é alguém que, sobre a luz dos seus amores, espalha uma luz maior. E a fé leva a uma paixão infinita pela existência”. (Soren Kierkegaard)

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