O LONGO CAMINHO DO AMOR

Começa com os olhos. Aos 12, 13, 14 anos, conforme o ambiente, a educação recebida, o grau de desenvolvimento físico, inicia-se um processo maravilhoso. O ex-menino ou a ex-menina, até então convencidos que eram o centro do mundo, habituados a ver toda a gente afectuosamente inclinada sobre o seu berço, sentem-se prepotentemente chamados a sair de si próprios.
Há alguém lá fora que não te deu nada, que nem sequer é teu parente nem sequer teu amigo, que chama por ti.
Já não te satisfazes a ti próprio, nem te bastam os teus pais nem os amigos. É ele! É ela!Fazes cem vezes aquele caminho para a veres
passar. Não ouves a professora, correndo o risco de uma má nota. Lês a página do livro sem te recordares absolutamente de nada. Os pais falam-
te e tu não percebes o que te pedem. É ele! É ela!
Até há poucos dias jogáveis juntos, brincáveis… Uma saudação e depois deixaste para trás a bola e as amigas. Agora, pelo contrário, adormeces e acordas com aquele pensamento fixo.
São os olhos que te levam para fora de ti. Fazem-te perceber que não és o centro do mundo, que não és tudo: tu não és senão uma parte e aquilo que falta tem-no ele ou ela.
Aquele sorriso desarmante, aquelas pernas esbeltas como ramos em flor na Primavera!…
Aqueles ombros robustos, aquela madeixa traquina, aquelas mãos fortes. E aqueles olhos profundos!…Meu Deus, como posso eu pensar na matemática?

A paixoneta

Esta imprevista atracção pelo outro sexo é chamada com o nome simpático e afectuoso de «paixoneta» ou «namorico».
Não é um fenómeno exclusivo da idade da escola preparatória, porque se pode repetir e representar em todas as idades da vida.
Conheci comovedores velhinhos a esperar durante horas, à beira do caminho, para ver passar alguém que os acariciasse um instante com o olhar, iluminando assim o resto do dia!
Este fenómeno, porém, é típico da adolescência, porque é nesta idade que sucede pela primeira vez e de forma aguda.
É o acabar com o egocentrismo infantil. É a primeira atracção a dar-se conta que existe «o outro».
É a descoberta admirável e esforçada de que nós não somos «tudo», mas um substantivo ao qual falta o adjectivo; um verbo ao qual falta o complemento; cordas de uma guitarra que necessitam de alguém que dela arranque lindas melodias.
É o momento em que revivemos e compreendemos o sentimento primordial de Deus: «Não é bom que o homem esteja só!» e o entusiasmo de Adão: «Esta sim!» (Cfr.Gn 2, 18-24)).

O sex appeal

É o corpo que chama e não poderia ser de outro modo, porque é o corpo que nos apresenta.
Um corpo sexuado: são as diferenciações sexuais que nos fazem descobrir diferentes.
A atracção é tanto mais forte quanto mais for acentuada a diferença.
Há raparigas que são verdadeiras «iscas de anzol»: os bichinhos que servem para atrair os peixes.
Os rapazes andam atrás delas porque elas representam de modo particularmente eficaz «o outro sexo». Como é grande o desespero das outras, porque não conseguem atrair tantos peixes!
No campo masculino há os que, pelo seu aspecto físico acentuado por um comportamento atrevido, atraem enxames de raparigas.
A centelha que acende o fogo da paixoneta é a imagem corpórea. Quem é ela verdadeiramente? Que é ele verdadeiramente? Não interessa.
Ela é um caminhar elegante, uma linda cabeleira loira, uma boca encantadora, dois seios misteriosos.
Isto explica por que é que a paixoneta desaparece com a mesma rapidez com que nasceu.
Dá-se um cartão à menina loira com a palavra:«Amo-te»; mas, pouco tempo depois, aparece uma morena que parece ainda mais bonita. Diz-se adeus à loira, para se ir com a menina morena.
As pessoas são muitas e todas elas têm os seus atractivos. Enquanto o sentimento não for capaz de ir além dos aspectos exteriores para entrar no mistério da pessoa, o amor não será capaz de fidelidade.
É este o motivo por que tantos adultos permanecem para sempre na fase da paixoneta, absolutamente incapazes de um amor fiel: não conseguem ir além da pele do outro.

A professora «bestial»

As paixonetas acontecem a todos? Sim.
Mas, atenção, que ninguém entre em crise: «Mas eu nunca estive apaixonado por ninguém. Serei anormal?»
Este fenómeno não segue sempre o esquema clássico: a rapariga do 6º ano namora com um rapaz do 8º ano. Ele conhece caminhos mais misteriosos e tortuosos.
É normal encontrar rapazes e raparigas do ciclo que, enquanto se dedicam à maior parte das matérias escolares com resignação, experimentam uma grande «paixão» por uma determinada matéria: matemática, português, educação musical…
Se fôssemos a aprofundar esta preferência, veríamos que esta «paixão» na realidade se dirige à professora ou ao professor.
O entusiasmo pelo professor («Este sim que é um professor bestial»), os sorrisos, a prontidão em corresponder ao seu mínimo desejo nascem de um secreto e inconsciente namoro.
O mesmo se verifica no relacionamento com o educador ou a educadora do grupo do qual se faz parte; do treinador de voleibol; do tio simpático; do jovem padre…
Todos os adultos empenhados no meio da gente nova estão sujeitos a isto e, infelizmente, nem sempre conscientes deste fenómeno, consideram apenas «inteligentes, obedientes e maduros» o rapaz ou a rapariga «enamorados» por ele.
Quantos adolescentes, muito bons numa matéria, mudando de professor, passaram a tirar as piores classificações!

Os olhos na parede

A paixoneta tem outros recursos tortuosos.
Como explicar a paixão pelos pósteres que explode nesta idade?Quantos sonhos diante daquele artista dependurado cuidadosamente na parede do quarto! Aqueles olhos, aquele cabelo, aqueles músculos possantes… Pode cantar a canção mais estúpida; será sempre o máximo.
O fenómeno das fãs em êxtase à frente do palco do «big de turno» explica-se ainda com a paixoneta. Este facto normal das adolescentes delirantes serve para que outros arrecadem muito dinheiro nos seus cofres.
Outras raparigas, além do póster, enchem a agenda escolar com fotografias do seu «ídolo», para o terem sempre debaixo dos olhos e suspirarem por ele todas as vezes que o desejarem.
Os rapazes não escapam a este fenómeno. Gozam as raparigas por causa dos seus entusiasmos amorosos, mas é uma atitude de fachada. É um pouco como as lágrimas!
O rapaz de 13 anos, que não pode chorar para não ouvir apelidos menos agradáveis, fá-lo às escondidas ou disfarça-o com atitudes espalhafatosas.

Crescer é belo!

A paixoneta é uma fase do crescimento e é maravilhosa.
É como encontrar-se no campo nos finais de Abril: todo um esvoaçar de pássaros que cantam, voam, se perseguem, mostram as penas coloridas, gorjeiam, fingem lutar…
Talvez os pássaros, nas frias noites de Inverno, para se animarem e manterem vivo o pensamento da Primavera, se dediquem a espiar os rapazes e as raparigas!
Pobres pássaros, devem sentir então uma grande inveja! «A estação dos amores» acontece-lhes uma vez ao ano, como a todos os animais, enquanto que na espécie humana passará a ser a misteriosa paixão de todos os dias.

O perigo das imitações

Existe um perigo para a paixoneta que, se não é evitado, prejudica um crescimento gradual e harmonioso. O perigo é este: viver este fenómeno como uma imitação do namoro ou, inclusivamente, do casamento.
Vítimas de uma velha mentalidade, que não imaginava qualquer relacionamento entre rapaz e rapariga senão o de se juntarem para se casar, e vítimas de uma visão superficial e estúpida do sexo, vendida às mãos cheias pelos mass-media, um rapaz e uma rapariga «atingidos» pela paixoneta podem meter-se a «brincar aos namorados».
Neste caso, todo o encanto da paixoneta, uma fase própria do crescimento no amor e que está destinada a ser ultrapassada, desaparece numa triste imitação dos comportamentos adultos.
Infelizmente, esta eventualidade não é rara, devido à falta da educação sexual de grande parte dos adultos. Esta educação não se resume a saber como são formados os órgãos genitais e como se faz a cópula. Ignorância que se manifesta também em publicações «destinadas» aos adolescentes.
É muito mais do que isso: inclui a educação da afectividade em vista de um amor humano feliz.

O prejuízo do supermercado

O estupendo encanto da paixoneta está sujeito a uma emboscada ainda mais prejudicial: aquela de uma mentalidade, nunca vencida e continuamente relançada, que reduz o sexo a «objecto», a «coisas»: a pornografia. Os sinais de «identidade sexual» que um sexo lança ao outro como convite à abertura, ao encontro, ao diálogo, são empobrecidos em objectos a apalpar, a adquirir e a utilizar. Precisamente como as embalagens que estão em exposição num supermercado.
Não há alma, mistério, maravilha, mas sensações a experimentar e a voltar a experimentar para encher desejos que permanecem desesperadamente insatisfeitos. Todos sabem que beber bebidas geladas não mata a sede. Mas muitos continuam a recorrer a esta ilusão, até arruinarem o estômago.
A pornografia está ao mesmo nível.
Olhos cheios destes «produtos» dificultam o esforço de perceber o «mistério» profundo que emana do facto de se ser homem ou mulher.
Que diríeis a uma pessoa que, diante de uma rosa, não tivesse outros pensamentos senão este: «Quanto pesa e quanto custa?» Seria de lamentar! Assim se comporta quem não consegue ver o corpo como mensagem de uma realidade profunda.

A chaga da vulgaridade

Estimulada por estes «vendedores do sexo-mercadoria», estende-se cada vez mais entre os rapazes e as raparigas a chaga da vulgaridade.
E o que é a vulgaridade? Experimentemos explicar-nos com uma definição simples: gestos, palavras, pensamentos que tiram ao sexo a componente de respeito, de discrição, de poesia que lhe são próprios: que reduzem os elementos sexuais a «coisas» desligadas das pessoas que, através delas, se revelam: que impõem com violência e brutalidade a própria sexualidade aos outros.

O prado da descoberta

As flores são belas mesmo nos vasos, mas o seu verdadeiro esplendor é nos prados e jardins, com o vento que as aproxima e afasta, misturando as suas cores e perfumes. O mesmo sucede com a paixoneta.
Estes sentimentos que surgem inesperadamente encontram o seu florescimento mais belo no estar juntos.
Felizmente, hoje a sociedade consente que os rapazes e as raparigas vivam, lado a lado, na escola, no grupo, no desporto, no tempo livre…
É importantíssimo para os rapazes e as raparigas da idade da paixoneta viver juntos e permanecer juntos, mesmo quando «um» ou «uma» foram «apanhados».
A riqueza e a variedade dos sinais que chegam dos outros consentem que o amor continue o seu caminho.

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