Aliança fala de pacto, de casamento, de festa. Os livros do Antigo Testamento são memória vida da Primeira Aliança que Deus fez com a humanidade e com o seu povo eleito.
Ainda hoje encontramos cristãos “desconfiados” em relação ao Antigo Testamento. Dizem que, para nós, a verdade está toda no Novo Testamento, que o Antigo está ultrapassado, que nos mostra um Deus vingativo e cruel. Alguns catequistas até se convenceram que estes conteúdos são vistos como uma “seca” pelos catequizandos.
Mas a verdade é que Cristo e os apóstolos leram, rezaram e exprimiram a sua fé com o Antigo Testamento. Como cristãos, discípulos de Jesus, não podemos nem queremos prescindir do Antigo Testamento. Como Jesus, devemos conhecer e escutar o Antigo Testamento, para poder captar melhor a presença de Deus nas nossas vidas.
Os géneros literários
Para dizer as nossas experiências usamos diferentes formas de comunicação, diferentes géneros literários. Uma história de amor pode ser dita com um livro de história, com uma peça de teatro, um poema, uma sinfonia, uma pintura… Todas estas diferentes formas expressivas são legítimas e cada uma tem as suas caraterísticas próprias.
O povo de Israel quis transmitir a experiência de encontrar Deus na sua vida. E para o conseguir foi usando variados recursos literários: o mito, a lenda, a narração histórica, o poema, a oração, as leis, a reflexão, o discurso, as cartas…
Quando lemos os textos da primeira parte da Bíblia, escritos há milénios, temos de ter a lealdade de perceber qual o género literário que cada texto usa, para poder perceber bem qual o seu sentido.
Três famílias
A tradição judaica divide os livros do Antigo Testamento em três grandes grupos: o Pentateuco, os profetas e os “escritos”. O Pentateuco inclui os cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronómio. Acompanham a história da salvação desde a criação até à entrada do povo na Terra Prometida. Os Profetas incluem quer os livros dos profetas, quer livros de tipo histórico (Josué, Juízes, 1º e 2º de Samuel, 1º e 2º dos Reis, 1º e 2º das Crónicas). Os Escritos incluem o resto da literatura sapiencial e de oração.
Uma distribuição mais moderna fala de livros históricos, proféticos e sapienciais.
Os livros históricos têm este nome porque se apresentam como um relato do que sucede com o povo. Apresentam-nos Deus como companheiro de viagem da humanidade. Deus chamou Abraão e os patriarcas para fazer deles um povo escolhido. Quando o povo estava oprimido pelos egípcios, libertou-o e conduziu-o até a Canaã. Ao fim de algum tempo, o povo formou dois reinos: Israel e Judá. Estes livros contam a história dos reis e do povo, que se deixa guiar (umas vezes mais, outras menos) pela bondade providente de Deus. Esta história diz-se com muitas formas literárias: lendas de antepassados, narrações folclóricas, listas administrativas, anais da corte, listas geográficas, genealogias…
Os livros proféticos mostram-nos Deus como amigo da humanidade. Deus faz um pacto de aliança com o seu povo, compromete-se com ele e espera que o povo, por sua vez, viva de maneira coerente esta amizade: adorando a Deus e cultivando a justiça nas relações entre as pessoas. Os profetas são pessoas apaixonadas por Deus e pela sua causa. A partir da sua fé intensa, desafiam as pessoas do seu tempo a serem fiéis à aliança com Deus. Transmitem a sua mensagem com oráculos de salvação ou de castigo, acusam ou exortam, fazem gestos simbólicos ou têm visões fantásticas… Tudo isso, para criar impacto nos seus ouvintes e atraí-los de novo à aliança com Deus.
Os livros sapienciais apresentam-nos um Deus oculto que Se revela na vida de cada dia. Deus é o Criador do cosmos e ordenou tudo quando existe: montanhas e mares, noite e dia, ventos e chuvas. Ele rege o cosmos e tudo se realiza segundo a sua vontade. O crente, ao observar essa ordem na natureza, consegue perceber a mensagem de Deus. É na vida de cada dia, com a sua normalidade, onde Deus Se revela. É verdade que a vida diária está cheia de sofrimento e de coisas absurdas. Os sábios de Israel procuram perceber a mensagem de Deus por detrás de tudo isto. Os ditos e provérbios, os enigmas, as reflexões… servem para exprimir a experiência de Deus na vida quotidiana de Israel.
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Texto retirado do livro “A aventura de Caminhar” destinado à catequese do 5º ano. Neste ano, esta proposta conduz os pré-adolescentes pela descoberta do Antigo Testamento e dos Atos dos Apóstolos.