Quando a vida é dura

«Ao Sérgio, meu colega de escola, morreu a mãe. Coisas que acontecem! Eu sei, já não sou uma criança, mas, há cinco anos, já lhe tinha morrido também o pai. Isto é demais! Se Deus é tão bom como se diz, por que é que se comporta assim? Rezámos tanto e tanto para que a mãe do Sérgio não morresse, mas não serviu para nada.
Será mesmo verdade que orar não serve para nada?».

O espinho da dor

Pode ouvir dizer-se que o sofrimento aproxima de Deus. Quase sempre é verdade o contrário: a dor é uma dura provação para a fé e, se não consegue purificá-la, acaba por destruí-la.
Poderia tentar encantar-vos com uma chuva de frases bonitas; escolho, pelo contrário, um caminho mais difícil: raciocinemos um pouco todos juntos.
Sem que ninguém nos ensine, sabemos que quando temos fome devemos comer e, quando somos agredidos, devemos defender-nos. Do mesmo modo descobrimos muito cedo que, em algumas situações, somos absolutamente impotentes.
Vamos na motorizada: «E se rebentasse um pneu?». Não havia nada a fazer. Apenas descer e ir a pé. «Mas se um camião vem contra nós?». Podemos estar em casa, livres dos perigos. Mas se vem um terramoto que a deita abaixo?
A experiência de «não poder fazer nada» leva-nos instintivamente a pensar em «ALGUÉM» mais forte que nós.
Este é o «instinto religioso» que acompanhou o homem desde quando apareceu na terra. O nosso lon­gínquo antepassado, antes de sair para a caça de ani­mais, quatro vezes maiores que ele, desenhava na parte mais escondida de uma caverna a figura desse animal com uma seta no lugar exacto. Era a oração a «Alguém» mais poderoso que ele para que o protegesse.

Das cavernas à técnica

Quantas vezes esses nossos valentes antepassa­dos das cavernas não terão sentido o desejo de se libertar desse «Alguém» tão pouco previsível e domesticável! Mas só quando o homem conseguiu munir-se da arma omnipotente da técnica, julgou que podia viver sem esse «Alguém» e afirmar que «Não existe ninguém acima do homem!».
Aos quinze anos, ao lado de um colega de escola que ficou sem pai e mãe, pode chegar a concluir-se como o homem «técnico»: «Não existe ninguém acima de mim»!
Mas o adolescente de quinze anos pode, porém, percorrer um outro caminho: superar o instinto com a razão.

«Alguém» é Deus

A Bíblia diz-nos que esse «Alguém» revelou ao homem a sua identidade: «Eu sou aquele que está ao lado do homem, como um amigo ao lado do amigo». Deus criou o homem feliz e quer que ele viva feliz no tempo e para sempre.
No mundo entrou o «pecado», porque o homem não confiou em Deus. E daqui vieram todos os males. Mas o homem não deve ter medo de Deus que, apesar disso, faz todo o possível para o salvar.
As desgraças, as doenças, os acidentes, a morte não são queridas por Deus, e o homem deve fazer todo o possível para evitá-las com a força da inteligência, do amor, da solidariedade. Se, apesar de todas as precau­ções, uma pessoa é atingida, Deus, como um Pai, permanece ao seu lado com um amor, se possível, ainda maior. O Sérgio não é, portanto, uma vítima de Deus, mas está sob a protecção especial de Deus: «Eu sou aquele que está ao lado do Sérgio».

E a oração serve

Se vou de motorizada com os olhos fechados e, entretanto, rezo: «Ó Deus, faz com que não vá chocar contra ninguém!»… não posso esperar que Deus pegue no guiador no meu lugar!
Se guio com os olhos bem abertos e rezo, porei em acto todas aquelas atenções exigidas pelo respeito à minha vida e à dos outros…
Se todos os motociclistas e automobilistas, e também camionistas, orassem ao Deus da vida cinco minutos antes de se meterem na estrada, os acidentes diminuiriam vertiginosamente!
Se, apesar de todas as precauções, acontece um acidente, mesmo então a oração não terá sido em vão: far-me-á descobrir aquilo que Deus quer de mim; por exemplo: que devo reagir com todas as forças.

Voltemos ao Sérgio

Coloquei-vos diante uma série de estímulos, não de respostas. Estas são para aprender a procurá-las com paciência, tempo e sofrimento.
Tivestes a sensação de que eu não quis falar concretamente do Sérgio? Nada disso. Vou já à questão.
Deus não quis a morte do pai e da mãe do Sérgio. Sim, teoricamente, podia até fazer uma excepção às leis da natureza.
É  verdade que agora Deus está mais perto do Sérgio. Como? De tantas maneiras misteriosas, mas sobre­tudo através da amizade afectuosa, dedicada, paciente, generosa dos seus amigos que, tendo orado por ele, obtiveram a luz e a força para dizer: «Estamos próximos do Sérgio como sinal da presença de Deus junto dele».

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