Margarida tinha que ir a uma aldeia próxima. Antes disso, recomendou ao seu menino que tivesse juizinho, e não fizesse alguma das suas. Prometeu ele, como prometem todas as crianças; e note-se que prometeu para cumprir. O mal foi este: viu em cima do armário uma latinha…
Já me parece ouvir os meninos que lêem estas páginas: se calhar… Era a lata dos bolos ou do açúcar.
E agora digo eu: se calhar… Era; mas Joãozinho não o sabia, ou melhor, não tinha a certeza; e mesmo a história não diz que fosse a lata dos bolos ou do açúcar. O que é certo é que ele olhou para o armário e, medindo-lhe a altura, falou com os seus botões:
— Como chegar até lá acima?
Joãozinho, esperto como era, encontrou logo o meio de se empoleirar e chegar até à latinha. Todo contente e saboreando já o fruto do seu trabalho, levantou o braço, e estendeu a mão, com tão pouca sorte, porém, que, tocando sem querer num vaso de azeite, fê-lo cair, entornando-o e deixando no soalho uma grande nódoa. Apanhou os cacos. Recolheu, conforme pôde, o azeite entornado, mas… a nódoa, essa lá estava e, por muito que limpasse, não havia maneira de a fazer desaparecer.
Aflige-se, então, reconheceu a travessura que tinha feito e pensou logo no castigo. Mas — coisa rara! — não era tanto o castigo que temia, quanto o pensar que a mãezinha ia ficar triste, por ele não ter sido obediente. E, como tinha muito bom coração, pensou logo em diminuir e suavizar o desgosto da mãe. Sabeis como?
Foi-se a uma sebe que havia ali perto, pegou numa vara, tirou-lhe os nós conforme pôde, alisou-a, desceu até ao fundo do vale e lá esperou pela mãe. Mal a viu:
— Então como está, mãezinha? Fez boa viagem?
— Sim meu filho; e tu estás bom? Tiveste juízo? Não fizeste travessuras?
Joãozinho, como resposta a estas últimas perguntas, mostrou-lhe a vara.
— Ah! Já vejo que fizeste alguma das tuas…
— Tome lá, mãezinha, bata-me com ela, pois bem mereço. Imagine que entornei o vaso do azeite; e foi ao subir, para ver o que estava na latinha… em cima do armário…
A mãe, apreciando a atitude do pequeno e reconhecendo que estava arrependido, perdoou-lhe, não sem recomendar:
— Meu filho, se agora que és criança, não mortificas a tua curiosidade e não pensas, antes de fazer as coisas, quando fores maior encontrar-te-ás cheio de defeitos e terás pena de ser assim; mas então será muito mais difícil corrigir-te deles.