Qual de vós não tem no seu quarto, pelo menos, um póster com aquele grandalhão que vos fixa intensamente nos olhos?
Mas também acontece convosco, rapazes, andardes loucos por Mariah Carey, por Cláudia Schiffer ou por qualquer outra bonita rapariga; não esquecendo, é claro, a Fórmula 1 e as motos de grande cilindrada. E os pósteres demonstram bem quem sois, mesmo no vosso quarto, com grande desapontamento das vossas mães: «Dás cabo das paredes!».
A imagem dos mitos que se trazem no coração é de tal maneira forte que se contempla o seu rosto e sente-se reconfortado, enche-se os
Se o mito não responder aos vossos porquês, abri a janelae procurai um amigo: ele há-de responder-vos! cadernos com as suas fotos, fala-se com eles, confia-se-lhes tudo, na certeza de que eles compreenderão. O amor pela personagem famosa anima os vossos dias. Em casa tendes colecções de fotos, de bugigangas, de t-shirts, de cachecóis e de postais. A tal ponto que a vossa mãe ainda não decidiu se vai deitar ao lixo tudo aquilo ou se será a vós que deitará fora!
DEIXAI-ME SONHAR!
O mito, isto é, a personagem pela qual o vosso coração foi literalmente abalroado, embora seja inatingível e intocável, parece-vos ao alcance da mão. Por isso, contais-lhe tudo o que vos acontece e, dado que da vossa parte há sinceridade, afecto e participação, no final da conversinha não podeis deixar de suspirar: «Mas por que é que não falas?». Com a personagem cria-se uma relação fantástica, irreal, que vos permite deixar de lado, por um momento, tudo o que não funciona na vossa vida e reencontrar-vos com um belo sonho, onde, talvez, o vosso «amado» vos peça em casamento (suspiro!). «Maravilhoso!» – pensará alguém. «Não me acordeis!» – pedirá outro.
O AMOR ESTÁ A CHEGAR
Quando tudo isto acontecer, será o caso de … alegrar-se. Sim, porque é sinal de que está a chegar o tempo do amor. O primeiro amor da nossa vida foi um amor de admiração: a nossos olhos, a nossa mãe não tinha todas as qualidades? «És a mamã mais bela e melhor do mundo» – diziam-lhe muitas vezes os filhos.
Quando, na adolescência, volta o tempo de amar, explode novamente o desejo de atribuir ao amado todas as qualidades mais extraordinárias e mais positivas: beleza, força, inteligência, ternura… Ainda não se trata de amor propriamente dito, que há-de vir mais tarde, gradualmente. É o começo do chamado «processo de identificação», para usar um termo científico. Na prática, significa exactamente o que estais a experimentar; isto é, a projecção numa personagem de tudo aquilo que, de belo, o vosso coração deseja («Como num filme», dizia a canção).
E, também, um desejo de fusão, de ser um com. Caracterizado pelo sonho de amor (Tom Cruise nunca te fará uma declaração de amor, sabe-lo tu muito bem!), pouco falta para o teu coração se escancarar perante uma pessoa real, de carne e osso, que te amará porque és tu e receberá
amor de ti, na vida concreta de todos os dias. Com os seus altos e baixos, com as suas dificuldades. A identificação é tão-somente um momento de passagem para a identidade, quer dizer, a tua identificação mais bela e mais verdadeira.
UM DESEJO
No tempo em que os pósteres dos Duran Duran forravam as paredes dos quartos como aconteceu, depois deles, com os Take That, estava na moda um filme intitulado «Vou casar com Simão o Bom», no qual a protagonista, durante todo o filme, seguia sempre o seu mito, esquecendo-se completamente de que em casa estava um rapaz que a esperava! Que significa tudo isto? Que apaixonar-se por um mito é uma coisa normalíssima (perguntai aos vossos pais quais foram os seus mitos). O cantor, a actriz ou o jugador de futebol são mitos, precisamente porque estão longe e nunca se aproximarão. Não, não arranqueis os pósteres das paredes dos vossos quartos. Só que, de vez em quando, recordai-vos de espreitar a vida real e dizer: «Olá, eu continuo aqui!».
É bom que saibais perceber o sinal que chega desta entusiasmante experiência do «mito»; isto é, que o vosso coração se está abrindo ao amor. Que vós o possais acolher da maneira mais bela quando chegar a pessoa que deveis amar.