Bíblia na catequese: como não usar

Bíblia e catequese são duas realidades inseparáveis. Na verdade, toda a catequese tem como fonte inesgotável a Bíblia. A Palavra de Deus ilumina a experiência humana e desperta as pessoas para a oração e o compromisso. 

Mas, como utilizar a Bíblia na catequese?
Para ajudar a responder a esta pergunta, vamos recordar algumas formas que fazem com que desvalorizemos a Palavra. As deficientes formas de utilização da Bíblia fazem com que passe completamente ao lado dos nossos catequizandos que a Bíblia é fundamentalmente uma história de amor.

{slider=Marginal}

Quando se utiliza a Bíblia como mina onde se podem encontrar inúmeros e interessantes episódios que se podem contar às crianças e adolescentes , estamos a fazer uma utilização marginal. Ficamos à margem do que é verdadeiramente esta Biblioteca.
A Bíblia não é propriamente um conjunto rico de “histórias sagradas” que servem de anexo à catequese. Não são contos basados em factos do passado, como se contam as façanhas dos heróis da história nacional ou universal.
Podem ser interessantes as histórias de Adão e Eva, de Caím e Abel, dos patriarcas, de Moisés em caminhada no deserto e com muitas peripécias, do rei David e Salomão, etc. Mas toda esta “folhagem” colorida e movimentada esconde uma mensagem de Deus a todo o homem.

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{slider=Doutrinal}
Quando se utiliza a Bíblia apenas para demonstrar verdades da fé, ficamo-nos apenas numa utilização ao serviço da doutrina.
É fácil encontrar certos livros onde em primeiro lugar se faz uma afirmação dogmática. Num segundo momento, procura-se alguma breve citação do Antigo ou do Novo Testamento para justificar essa afirmação. Por vezes, estas frases até estão tiradas do seu contexto.
A síntese doutrinal é necessária, mas deverá surgir apenas depois da leitura e reflexão dos textos da Escritura. E essas sínteses doutrinais devem estar mais baseadas no que diz a Palavra de Deus do que naquilo que dizem as formulações teóricas e abstractas de filósofos e teólogos.

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{slider=Moralizante}
A Bíblia por vezes torna-se num pretexto para o catequista debitar o seu moralismo. De todos os textos saem lições de moral: “Devemos fazer assim… porque…”
Vamos exemplificar. O catequista lê a narração da perda e encontro de Jesus no Templo; conclui dizendo: Este texto ensina-nos que assim como Jesus gostava de estar no Templo de Deus, seu Pai, assim também nós nos devemos dedicar às coisas de Deus”. Ou então: “Assim como Jesus desceu para Nazaré e era obediente, assim também nós devemos ser obedientes aos nossos pais”.
Esta utilização moralizante das escrituras, enquanto serve apenas para apoiar normas de comportamento, desvaloriza o fundamental. A Bíblia não é um livro de moral mas uma experiência de fé de um povo enamorado por Deus, o qual toma a iniciativa de enviar o seu Filho para que todos sejamos salvos por seu intermédio.

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{slider=Explicativa}
Pode haver também o perigo de ficar apenas em informações mais ou menos profundas acerca da Bíblia.
É importante, sem dúvida, dar informações sobre a composição dos livros do Antigo e do Novo Testamento, sobre as características de cada livro, sobre a grande variedade de géneros literários, sobre os lugares onde decorreu a história do Povo de Israel. Mas isto não é o fundamental.
O catequista está atento a todas as contribuições dos estudos bíblicos, mas sabe que a Bíblia é muito mais que cultura dirigida á inteligência. Esta Palavra tem de falar também ao coração, porque Deus continua a levar-nos para o deserto para nos dizer palavras de amor.

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{slider=Reducionista}
A Bíblia pode ser “reduzida” apenas a alguns aspectos da mesma. Neste caso, só se aceitam aquelas frases que nos servem, omitindo as outras. É, por exemplo, reducionismo ver no Antigo Testamento apenas a libertação histórica de um povo oprimido, como se toda a longa história de povo de Israel se reduzisse ao êxodo. É reducionismo ver nos Evangelhos apenas as expressões de Jesus que nos parecem mais suaves, omitindo na catequese as palavras duras que ele pronunciou.

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{slider=Fundamentalista}
O fundamentalismo consiste em tornar o texto bíblico à letra, sem ter em conta os géneros literários ou a cultura que está subjacente a esses textos. Ler o Génesis de maneira fundamentalista é tomar as descrições poéticas à letra, como se a bíblia fosse um livro de ciências naturais. Ler os Evangelhos de maneira fundamentalista é considerá-los biografias de Jesus: é ler as suas palavras como se tivessem sido gravadas em directo pelos seus seguidores. Um melhor conhecimento do que é a Bíblia pode ajudar a evitar conflitos com a ciência e a história.
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Texto (adaptação) retirado do livro “Casa sobre a Rocha“, PEDROSA, Ferreira, Edições Salesianas (1991)

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