Acontece muitas vezes ouvir uma adolescente a exclamar: «Não me meto mais nisso! O namoro com o Paulo fez-me sofrer imenso… e depois acabou por me deixar. Basta!» Expressões destas podem esconder um medo secreto: «Por que é que já não me enamoro? Antes, todos os meses tinha uma paixoneta… Será que me tornei insensível?»
Depois das primeiras, imprevistas e rápidas escaramuças, parece que se sente a necessidade de um repouso. Mas esta pausa não dura muito tempo.
Por volta dos 15, 16, 17 anos, o coração começa a reclamar. O desenvolvimento corpóreo e sexual aproxima-se do seu final, trazendo consigo uma capacidade nova que o jovem descobre com trepidação e alegria: o desejo de ser amado e, evidentemente, de amar.
Também a criança quer ser amada, mas isso é totalmente diferente! Aqui quer-se ser amado em casal, por um outro como nós, por um que nos conquiste pouco a pouco.
Que tristeza se ninguém se põe ao nosso lado a falar connosco, para acolher os nossos suspiros, as nossas confidências!
Que pena se ninguém nos olha por algum tempo sem pestanejar!
Que sentido tem a vida se ninguém é terno connosco, se ninguém está disposto a compreender-nos, e estar a escutar-nos durante horas e horas; se ninguém nos agarra a mão para caminharmos juntos! Que imenso potencial de afecto se sente dentro de nós! «Se encontrar alguém a quem amar verdadeiramente, saberei torná-lo feliz. Saberei consolá-lo, acariciá-lo, fazê-lo sentir seguro!»
Inventam-se tácticas belíssimas e astutas.
A mulherzinha vai sentar-se num ângulo solitário, com os cabelos na fronte, os olhos como quem chora e espera: «Não se vê que estou a sofrer? Certamente que virá alguém consolar-me!»
O homenzinho, por seu lado, com muita facilidade, irrita-se imenso: mete-se com todos, grita, ameaça provocar tragédias. E, sem o pensar, pensa: «Alguém virá para me acalmar!»Tácticas do coração para. ter êxito no amor!
A estação dos amores
É esta propriamente a estação dos namorados.
Com respeito à paixoneta, no enamoramento não é exclusivamente a imagem corpórea a atrair, mas o «interior» da pessoa.
Sobretudo existe uma pungente necessidade de amar e de ser amados que brota das novas conquistas do corpo.
O desenvolvimento sexual está a fazer amadurecer novas sensibilidades: a capacidade de perceber o belo em si e nos outros (sensibilidade
estática); o gosto dos perfumes (sensibilidade olfactiva); o prazer de se sentir acariciado por tudo o que é macio (sensibilidade táctil); uma relação nova com o espaço que o corpo crescido tem um grande desejo de experimentar (sensibilidade cinestésica)…
Esta é a idade do espelho, dos perfumes, do vestido procurado, da paixão pela dança.
São capacidades relacionais: destinadas ao encontro com o outro. Pode servir de ajuda um breve olhar para o mundo animal.
Na estação dos amores, eles vestem as penas mais coloridas para atrair a companheira; cantam, dançam, farejam, lutam…
É um mecanismo que a natureza põe em acto para perpetuar a espécie.
Em nós sucede a mesma coisa, mas com uma enorme diferença: as novas capacidades permanecem constantes, não ligadas ao período do acasalamento. E ultrapassam a esfera sexual, difundindo-se a toda a actividade da pessoa.Podemos de alguma maneira afirmar que o homem
é capaz de criar catedrais porque é sexuado! Por que é que há quem pense que o sexo é uma coisa má ou suja?
Não só «o outro» mas um «tu»
Aquilo que dá nas vistas é que agora a procura do outro é mais aprofundada e personalizada. Não são prevalentemente as diferenças sexuais a «atrair»: já não basta o sex appeal.
A voz que chega do outro vem muito mais de dentro: é um «tu» que chama e que é desejado: é a «pessoa appeal»! Agora acontece que as raparigas bonitinhas podem ser substituídas por outras menos sedutoras, e os rapazes escolhidos nem sempre são os externamente mais elegantes.
Entram em cena o carácter, o empenho na escola, o saber vestir-se com estilo, a situação familiar e sentimental, a educação, os hobbies. Uma rapariga triste e em dificuldade por causa de problemas familiares pode resultar mais atraente que uma «bela e sem problemas».
O jovenzinho maltratado pelos professores pode atrair mais que um atleta. Quem quer encontrar «a alma gémea» não pode continuar a esforçar-se apenas diante do espelho!
Uma rapariga que sabe tocar guitarra, cantar, dançar… fere mais corações do que aquela que sabe apenas passear o seu belo corpo.
Um jovem todo músculos e pouco cérebro, se não sabe ser terno, corre o risco de permanecer sem ninguém.
Esta é a sorte de tantas «belezas» que, prisioneiras da sua imagem corpórea, são admiradas por todos, mas ninguém as quer consigo.
Dois corações e uma cabana
Este amor adolescente tem uma característica que constitui, simultaneamente, uma beleza e um risco: é completamente independente da realidade concreta.
Quando os dois corações se agarraram um ao outro, inicia-se um período de «afecto dado e recebido» que prescinde radicalmente das exigências da realidade. Os dois não vivem, mas sonham juntos.
Dizem-se coisas belíssimas que não existem nem no céu nem na terra, e palavras muito gastas como se fossem pronunciadas pela primeira vez. Não pensam no dinheiro, nos pais, na casa…
Muitas vezes deixam até de pensar em estudar! O «outro» é como um ovni que veio de um planeta longínquo. Também esta é uma fase importante do crescimento. Se não fosse assim, não floresceriam amores mas contratos.
E quem assinaria um contrato para se unir ao «mistério» que, de qualquer maneira, a pessoa permanece?Não saberá jamais amar quem tem medo de se lançar sem certezas. É preciso, porém, ser consciente de que isto não é «todo o amor»; de outro modo, não tardariam os desgostos.
Os jornais estão cada vez mais cheios de amores adolescentes que acabam em tragédias: partos feitos às ocultas e bebés abandonados, suicídios, prostituição, exploração…
Um jovem de 26 anos não acha inconveniente algum em perguntar à namorada quanto dinheiro tem no banco e quais as possibilidades do seu futuro sogro; o seu amor não sofre por causa desta pergunta.
Imaginai agora uma pergunta semelhante entre dois adolescentes enamorados!
Um jovem de 27 anos, em tempo de namoro, não deixa de estudar ou de ir para o trabalho, só para estar com a rapariga. Pelo contrário, quanto mais está enamorado, mais trabalha.
Mas, pelo contrário, conheceis certamente adolescentes enamorados que perderam um ou dois anos de escola!
O perigo da pressa
De novo, superando uma carência de educação sexual quase espantosa, é preciso ter em conta a realidade. É difícil manter-se em equilíbrio.
O desenvolvimento das capacidades afectivas convive com um grande e ardente desejo de emoções sexuais.
O desenvolvimento dos órgãos sexuais já chegou quase ao fim e as glândulas sexuais (ovários e testículos) alcançam o nível mais alto de actividade.
O estímulo sexual é muito forte e o desejo de emoções físicas está a par da necessidade de afecto e de ternura. Surge o tormentoso problema: esperar ou queimar imediatamente todas as etapas?
Um dilema cuja solução não pode ser encontrada com a imposição dos pais, das leis, do pároco, mas educando cada adolescente.
Por um providencial cálculo da natureza, agora também o cérebro está a crescer e em condições de meditar sobre algumas questões.
Não se aprende matemática fazendo exercícios ao acaso, mas com uma aplicação cansativa e lenta que nos faça assimilar as leis e os princípios matemáticos. Este paciente trabalho de aprendizagem vale para todas as capacidades, também para a sexualidade.
O rapaz de 13 anos gostaria muitíssimo de conduzir o automóvel, mas a sociedade proíbe-lhe de pôr as mãos no volante; deve chegar aos 18 anos.Será, porventura, um disparate dizer que também o exercício da sexualidade exige maturidade?
O que é mais difícil: guiar um carro ou estabelecer uma relação amorosa entre duas pessoas?
Por causa de uma determinada cultura, hoje dominante, estas são perguntas absurdas, beatas e ultrapassadas. Partamos então de um outro ponto. Se fosse verdade que uma sexualidade fácil e imediata faz amadurecer uma pessoa, nós teríamos uma geração de casais absolutamente amadurecidos.
Contudo, verificamos que são os casais mais jovens, aqueles que cresceram com hábitos de «sexo apressado», que denotam uma crescente dificuldade em construir uma relação duradoira.
Levamos as mãos à cabeça por causa do tristíssimo fenómeno das violências sobre as crianças que está a preocupar os governos dos países «consumistas». Crianças agredidas selvaticamente, colocadas no frigorífico (notícias dos jornais!), drogadas… porque choram de noite!
Aos 16 anos, dois enamorados podem jurar um amor eterno, julgando que as crianças são como as da publicidade: sãos, gorduchos, calmos, com as fraldas sempre limpas.
E se a criança depois é diferente? Infeliz dela! E a imprensa, num escândalo hipócrita, conta os factos mais sensacionais, sem ter a coragem de ir até ao fundo da questão.
Ou então sugere a intervenção dos organismos públicos, quando não insinua que há um remédio muito simples para evitar as tragédias: evitar que as crianças nasçam.
Tudo isto a propósito do risco da pressa, do desejo de queimar etapas, do não ter paciência de esperar que o amor primaveril chegue à estação estiva.
O risco da hera
Além do perigo da pressa, existe um outro grave risco para o «amor jovem».
Está praticamente ligado ao precedente ao ponto de ser, muitas vezes, um consequência do outro e vice-versa.
É a «hera»! Significa a tendência e a facilidade com que dois enamorados se isolam do mundo, dos amigos, das actividades, para se fecharem num relacionamento exclusivo e asfixiante.
As características sentimentais do enamoramento impelem de por si a fechar-se com o «tu» que finalmente chegou a pôr-se em sintonia com o «eu».
Este acontecimento deve ser um caminho para nos abrir à vida, aos outros, não uma relação «prisão», que agarra um ao outro como a hera à planta ou ao muro.
De outro modo a abertura não será senão um bocadinho de ar incapaz de dar vida nova à casa.
É fundamental que os dois enamorados, passada a maravilha dos primeiros momentos, se esforcem em permanecer no grupo de amigos, a não ignorarem as relações sociais.
Isto não significa que os dois não devam ter momentos exclusivamente «para si»!
O importante é que não passem todo o tempo agarrados atrás das portas, das paredes, dos cantos, com a ilusão de que o mundo se resume a isso.
A respiração boca a boca é útil em situações de emergência, mas não por norma! Permanecer no grupo de amigos, sobretudo se é um grupo onde se fala, se discute, se tomam iniciativas, vem reforçar o sentimento surgido entre os dois.
No grupo há outros e outras que podem ajudar-vos a crescer no amor. O grupo educa ao jogo da vida.
«A dois» podem iludir-se julgando que estão superados os contrastes de ideias, as diferenças de carácter, a diferente educação recebida, pois sozinhos são capazes de falar de lua ou de simplesmente se saciarem de sensações e emoções.
No grupo, não. Nele há confronto com outras maneiras de pensar, de sentir, de fazer.
O contínuo confronto com os outros estimula a um constante empenho por melhorar a todos os níveis: físico, sentimental, cultural: Além das enormes vantagens dos recíprocos sentimentos de amor, de estima e de conhecimento.
Um amor que resiste à tentação da hera encaminha-se para um amor cada vez mais amadurecido, que se caracteriza pela preocupação de se dar ao outro, de tornar o outro feliz.
Também no tempo do namoro há mais alegria em dar do que em receber.
Cada qual deseja para o outro o melhor, e este intercâmbio gratuito constrói felicidade que irradia como suave perfume numa sociedade egoísta aeutilitarista que gera tristeza.
Para os cristãos, este amor-doação é sinal privilegiado do amor de Deus pelo homem.
Tantos «adultos» (adultos porque alcançaram um certo número de anos) nunca saem de um amor «adolescente», que é belo se é vivido por adolescentes, mas é fonte de desgostos se vem fora de idade. Cada coisa no seu tempo.
Não seria nada simpático, por exemplo, que uma criança de 11 anos andasse ainda na primeira classe e se comportasse como crianças de 6 anos!
O amor humano é dinamismo, crescimento.
E seremos sempre aprendizes na arte de amar, sobretudo quando se tem como referências permanentes a mensagem de Jesus Cristo.