Canto da árvore dourada
A árvore florida,
fugaz primavera,
palácio de trinos!
Mas antes de se ouvir,
como cresceu lenta.
Abria na terra
escuros caminhos;
pedia ao ar
a vida a suspiros;
ao sol, dia a dia,
era ouro denso.
A luz e o silêncio,
e um tempo infinito,
levantaram o tronco
que de si mesmo sonhava.
(Adorava-o, talvez,
a estrela do orvalho;
na casca absorta
gravaram a sua marca
os apaixonados…).
Tem agora mil ninhos?
Coração do homem!
(Cantos incendiados
do poeta!) Árvore
verde e florescida!
Eugenio de Nora, Siempre
Soneto
Senhor, o velho tronco desfaz-se,
rompe-se o rijo amor nascido
pouco a pouco. O coração, pobre louco,
chora a sós, e em voz baixa,
do velho tronco fazendo pobre caixa
mortal. Senhor, a azinheira em ossos toco
entre minhas mãos desfeita, e te invoco
na santa velhice que se parte
na sua nobre força. Cada ramo, cada nó,
era irmandade de seiva, e todos juntos,
sombra feliz davam, e brisas boas.
Senhor, no tronco mudo o machado bate,
golpe a golpe, e perguntas invadem
o coração do homem onde te fazes ouvir.
Leopoldo Panero, La estancia vacia
1 O machado é um dos perigos que as árvores correm; conheces outros que as possam destruir? Explica quais e por que motivos.
2 Qual a tua opinião sobre os fogos florestais? Comenta as suas causas.
3 Lê os seguintes poemas relacionados com árvores.
Para um olmo seco
Ao olmo velho, fendido pelo raio
e podre pela metade
as chuvas de Abril e o sol de Maio
trouxeram umas poucas folhas verdes.
O olmo centenário na colina
que lambe o Douro! Um musgo amarelado
mancha a casca embranquecida
do tronco carcomido e empoeirado.
Não será, como os álamos cantores
que guardam o caminho e o ribeiro,
habitado por rouxinóis de pardas cores.
Exércitos de formigas em fila
por ele vão trepando, e nas suas entranhas
tecem teias cinzentas as aranhas.
Antes que te derrube, olmo do Douro,
com seu machado o lenhador, e o carpinteiro
em suporte de sino te converta,
ou canga de bois ou varão de carroça;
antes que vermelho ardas na lareira, amanhã,
de alguma mísera choça
à beira do caminho;
antes que pela raiz te arranque um remoinho
e quebre o vento dos montes brancos;
antes que o rio até ao mar te empurre
por vales e barrancos,
olmo, quero registar nos meus papéis
a graça da tua ramagem reverdecida.
Também o meu coração espera,
para a luz virado, e para a vida,
outro milagre da Primavera.
Antonio Machado, Campos de Castilla
Soneto XIII
A Dafne já os braços lhe cresciam
e feitos longos ramos se mostravam;
em verdes folhas vi que se transformavam
os cabelos que o ouro escureciam;
Da mais áspera casca se cobriam
os tenros membros, que ainda se agitavam,
os brancos pés em terra se fincavam,
em torcidas raízes se volviam.
Aquele foi a causa deste mal,
à força de chorar, crescer fazia
a árvore, de com lágrimas a regar.
Miserável estado, desgraça tal,
que por a chorar cresça cada dia
a causa e a razão por que carpia!
Garcilaso de la Vega
4 Conheces alguma poema para além destes?
5 Coloca no quadro de cortiça da turma uma pequena antologia subordinada ao seguinte tema: “Poemas relacionados com árvores”.
As árvores que se animam
Havia uma colina, e sobre a colina um extenso prado atapetado de relva verde. Não se via nenhuma sombra naquele lugar; no entanto, depois do poeta descendente dos deuses ali se sentar e começar a tanger as suas cordas sonoras, de sombras tudo se cobriu. Não faltou a árvore da Caónia (a azinheira), nem o bosque das helíades (os álamos), nem o ésculo (variedade de roble) de copa alta, nem a suave tília, nem a faia, nem o virginal loureiro (veja-se A Dafne), nem a frágil aveleira, nem o freixo, bom para fazer lanças, o abeto sem nós, o sobreiro curvado pelo peso das bolotas, o plátano, o bordo de cores diversas e, com estas, os salgueiros, que crescem à beira dos rios, e o loto aquático, e o bojo, eternamente verde, e o delgado tamariz, o mirto de duas cores e a alfena de bagas anegralhadas. E vós também, heras de pés flexíveis, e igualmente vós, videiras cheias de pâmpanos, e os olmos cingidos de vinhas, arbustos carregados de frutos vermelhos, as palmeiras flexíveis, prémio dos vencedores e ostentando a cabeleira alto, com o cimo eriçado, e o pinheiro, amado pela mãe dos deuses; porque Átis, favorito de Cibele, abandonou a forma humana e naquele tronco em madeira se endureceu.
Ovídeo, Metamorfoses
Procura no dicionário as palavras sublinhadas e escreve os seus significados à margem.
7 Quantas árvores, de entre as que aparecem no texto anterior, reconheces?
8 Alguma vez reparaste nas árvores que crescem na zona onde habitas?
9 Conheces o seu nome e características?
10 Procura num dicionário de mitologia clássica os nomes que aparecem no texto anterior: Átis e Cibele. Por que razão Átis se transformou em pinheiro? Escreve a continuação do texto e explica as últimas linhas desta narrativa.