A sexualidade dos animais e o amor dos animais são idênticos aos do homem? Esta pergunta introduz-nos na última parte do discurso. O homem faz perguntas acerca da sua sexualidade e sobre a sua capacidade de amar. Portanto, também o cérebro entra no amor.
Há uma frase à qual eu daria o prémio da estupidez, que é esta: «Ao coração não se manda!» Esta frase é boa para as telenovelas e para os foto-romances, mas não para a vida.
É típico do homem meter tudo sob o controlo do cérebro. Também o amor não pode escapar a esta exigência.
As diferentes culturas e o amor
Como todos vós pudestes notar observando a realidade, enquanto que os animais vivem a sexualidade do mesmo modo, na espécie humana existem grandes diferenças.
Há aqueles que se abandonam completamente ao instinto, enquanto outros e outras, para viver o amor a que nenhuma pessoa pode renunciar, rejeitam completamente o instinto.
Também à vossa volta, de entre os vossos companheiros e companheiras, podeis muito bem constatar grandes diferenças na maneira de entender o sexo e o amor.
É a prova mais imediata de como o homem e a mulher não vivem a sexualidade e o amor segundo a força do instinto que tornaria todos os comportamentos iguais, mas segundo uma «cultura», isto é, um modo de ver as coisas escolhido livremente, ou (e este é infelizmente muitas vezes o caso de hoje) que lhe é mais ou menos suavemente ou violentamente imposto.
Instinto e cultura são dois termos contrapostos. O instinto é uma força que temos dentro de nós desde o nascimento; a cultura é uma nossa conquista feita muitas vezes com esforço.
Quais são as «culturas» sobre o amor?
Vamos resumi-las, brevemente, em dois grupos.
O instinto
Existe uma cultura, hoje fortíssima, que raciocina assim: «O homem é como os animais.» O seu comportamento sexual, portanto, deve ser regulado pelo instinto, como acontece nos animais.
Qualquer lei ou convicção que procure dominar o instinto arruína e espontaneidade e a felicidade do homem».
Segundo este modo de pensar, o amor não é senão o prazer sexual.
Salvas as normas higiénicas para não apanhar doenças ou pondo-se a salvo de inconvenientes indesejados (gravidez não desejada), tudo pode ser feito.
O afecto, o namoro, o jogo não são senão meios para se chegar ao prazer sexual.
«O sexo – dizem alguns – não é nada de diferente de todas as outras coisas; não é nada de misterioso, de particular, verdadeiramente de sagrado.
Pelo contrário, o sexo é o material mais adequado para inventar anedotas de humor fácil.
Mas isto é desmentido continuamente pela vida que, a cada passo, nos pede para dominarmos os instintos, não para os ignorar mas para os guiar. Uma viúva não vai atrás do funeral do marido em fato de banho, mesmo se é Agosto e estão 40 graus à sombra!
A cultura do instinto não sabe responder a algumas perguntas muito importantes: por que é que entre os animais que seguem o instinto não existem violências sexuais, traições, tragédias… enquanto que, quando os homens se entregam ao instinto, se desencadeiam as coisas jamais imaginadas e torpes?
Por que é que os animais nunca separam o acto sexual do galanteio amoroso, do afecto, enquanto que entre os homens existem prostituições de todo o tipo, onde é tirado ao amor o mínimo sinal de afecto e de respeito?
Por que é que no campo sexual se deve seguir o instinto, enquanto que noutros campos, como na busca do alimento e do poder, aparece urgente refrear os instintos de roubo e de domínio?
Com aqueles que aceitam a cultura do «sexo-instinto» é inútil discutir acerca da não leicidade das relações pré-matrimoniais e extra-matrimoniais; acerca da virgindade e do celibato… É tempo perdido!
O empenho
Uma segunda cultura sobre o sexo e o amor exprime-se assim: «O sexo e o amor são umarealidade estupenda que exige empenho como tudo o que é belo».
Como é cansativo instruir-se, tornar-se atleta, aprender a tocar um instrumento ou exercitar uma profissão, também é difícil aprender a amar.
É uma «cultura» mais difundida do que pode parecer, porque a realidade da vida, com as suas regras duras, impõe-se por si.
É verdade que o sexo e o amor são realidades como as outras, mas também é verdade que são diversas das outras: têm uma importância particular!
Uma coisa é perder um ano de escola, e uma outra é enganar-se na pessoa com quem se quer viver junto toda a vida.
Um casal, com pouco dinheiro e muito amor, pode viver feliz.
Um outro, com muito dinheiro e nenhum amor, vive numa tragédia.
A sexualidade e o amor são cuidados, educados, controlados porque os sucessos e os insucessos neste campo têm consequências muito sérias.
A melhor psicologia e, sobretudo, o bom senso seguem, com diversas motivações e graduações, esta cultura do empenho.
A fé
Existe ainda uma cultura acerca do sexo e do amor que brota da fé cristã, seguida por quem vive a fé não por simples tradição, mas numa opção livre e convicção pessoal.
A fé cristã diz-nos que o amor entre um homem e uma mulher é sinal privilegiado do amor de Deus pelo homem.
O amor de Deus é único, fiel para sempre, total, generoso, limpo. O cristão enamorado é consciente de que tem de dar aos homens este testemunho que serena e conforta: «Deus ama-nos sempre e eu dou dele testemunho com o meu modo de amar a pessoa que Ele me fez encontrar».
O amor humano é sinal, é sacramento. É por isso que celebra o sacramento do Matrimónio.
Nesta cultura a sexualidade e o amor atingem as metas mais elevadas. O amor entre o homem e a mulher torna-se uma realidade maravilhosamente séria, como é sério o amor de Deus, e alcança profundidades dificilmente compreensíveis ao simples raciocínio humano.
Nesta cultura é possível um dom de amor que não conhece o divórcio, mesmo quando o outro é doente, infiel, ingrato.
Apenas nesta cultura se pode entender que o encontro sexual é plenamente verdadeiro quando não admite mudanças de opinião, quando está aberto à doação da vida, quando está baseado numa séria maturidade psicológica e espiritual.
Nesta cultura são possíveis um homem e uma mulher que renunciam livremente ao encontro sexual para se darem à comunidade e para testemunhar que no Reino de Deus o amor superará também o sinal do encontro homem-mulher.
É uma cultura do amor difícil, mas fonte de grande alegria. Nada alegra mais o coração do que ver um homem a amar uma mulher doente ou um casal de idosos ainda enamorados como dois adolescentes.
E como é triste ver um jovem casal separar-se poucos meses depois de se terem prometido um amor eterno!