Assumi o fascinante papel de especialistas investigadores e experimentai ver se estais em condições de enxergar em vós e nos vossos amigos os indícios que manifestam a presença desta importante idade da vida.
As pernas compridas
O corpo parece acordar de repente de um longo descanso e crescer a olhos vistos. Observai sobretudo as pernas que começam a alongar-se. A mãe preocupa-se: «O que se passa, que já nada te serve?» A tia, que te encontra passados três meses, exclama: «Já não te conheço! Estás tão
alta como a tua mãe».
Este corpo, que cresce rapidamente, cria numerosos problemas com o espaço circundante: tropeça-se, dão-se cabeçadas, as coisas caem das mãos. A mãe diz: «Está atenta! É já o terceiro prato que partes!». «Cuidado! não entornes o copo!».
As raparigas começam a sentir de improviso «um grande cansaço» e não querem entrar nos jogos desenfreados dos rapazes.
Os rapazes, pelo contrário, sentem-se estimulados a medir as forças que sentem nos músculos: correm, empurram-se, lutam… e até jogariam à bola enquanto comem.
Sinais de crescimento
No peito das raparigas despontam os seios: mais um lindo problema! Algumas caminham orgulhosas «como se só elas os tivessem», despertando a inveja daquelas que são planas como uma tábua.
Outras, pelo contrário, quase que se envergonham e andam curvadas quando alguém olha para elas, com receio de se mostrarem diferentes.
Nas raparigas acontece uma coisa ainda clamorosa e que antigamente suscitava medos e angústias, enquanto que agora, se houve uma oportuna preparação, constitui um alegre sinal de se terem tornado «mulherzinhas»: as menstruações. São, como se sabe, uma saída mensal de sangue através da vagina, no sexo.
Sabe-se que já se entrou nessa fase de crescimento quando vemos que a colega está estranha, tem uma cara de febre, não lhe apetece jogar, fala misteriosamente com uma amiga íntima. Sãosintomas que precedem a hemorragia das regras.
Nos rapazes não acontecem fenómenos tão definidos como nas raparigas, mas começam a despontar pêlos na virilha e debaixo das axilas. Em pouco tempo, a voz começa a fazer surpresas: experimenta escutar um grupo coral formado por rapazes do ciclo preparatório… As vozes falham nas notas altas e desafinam muito.
E o bigode debaixo do nariz? Que problema quando um rapaz não tem absolutamente nada, enquanto que o colega de carteira já o tem bem definido, já faz a barba!
O espelho
Estas transformações tão profundas trazem à baila um objecto que será o protagonista destes anos: o espelho.
Antes, era à tua mãe que recorrias para te pentear e ajustar-te a roupa; agora, pelo contrário, quando tens a certeza que ninguém te observa, para depois gozar contigo, o espelho torna-se o teu confidente.
Diante dele experimentas penteados, ensaias gestos, sorrisos, olhares.
Procuras a melhor forma de andar. Verificas a figura que fazes de perfil. O corpo suscita um enorme interesse.
Que desgosto se as pernas estão demasiado compridas e não são tão direitas como era de desejar; se os cabelos são tão rebeldes; se aqui e acolá há alguma gordura a mais; se a estatuta não chega à altura desejada; se aparecem furúnculos no rosto…
Tanto mais que qualquer defeito é cruelmente posto em evidência pelos amigos: esta é a idade dos «apelidos», das cruéis atitudes trocistas.
E ai se te irritas! Ainda fazem pior! A única táctica consiste em fingir que não se faz caso, para depois, em casa, se chorar e se desabafar com os pais e dizer: «Nunca mais vou à escola! Por que é que eu tenho de ter um narizcomprido?»
Por vezes, os pobres pais acabam por ficar também cheios de complexos: «Por que é que o meu filho tinha de ser parecido comigo!»
Eu como eu
Quando uma criança vem ao mundo, ao ser-lhe cortado o cordão umbilical, começa a viver de maneira autónoma.
Na pré-adolescência acontece uma segunda separação decisiva: o corte do cordão umbilical psicológico.
De facto, as mudanças que acontecem no interior não são menos importantes do que aquelas que se dão no corpo.
O pré-adolescente inicia um complexo esforço para se separar dos pais; quer criar uma imagem própria; já não deseja ser «o filho de», mas: «eu».
Esta operação não se faz sem dor, quer porque é sempre difícil enfrentar uma situação nova, quer porque não é simples nem sequer para os pais aceitar a independência do seu filho, habituados como estavam a ver aquele «miúdo» ou «miúda» completamente dependente deles.
A separação dos pais, além disso, torna-se mais espinhosa por causa de uma coisa óbvia, mas quase sempre pouco consciente. O pré-adolescente de 12 anos quer ser ele próprio, mas não possui um conjunto de ideias, de opiniões, de convicções que tornariam possível o confronto com os pais. Tem então apenas um caminho: uma contínua e irritante série de «nãos».
É com o «não» que se separa pouco a pouco do mundo dos adultos. Exemplificando com alguns breves diálogos:
– Veste a camisola, porque faz frio!
– Não, eu sinto calor.
– Primeiro estuda as lições, depois é que vais
jogar!
– Não, primeiro vou jogar e depois estudo as
lições.
– Tira essas calças que te ficam mal!
– Não, ficam-me até muito bem.
– Vai à Missa, despacha-te!
– Uff ! E tu por que é que não vais?
Às vezes lá se escapa alguma bofetada! Para se fugir a elas e para evitar «sermões» e gritos, o nosso herói aprende a dizer «não», não tanto com a boca, mas com os factos. Exemplificando:
– Não andes com aqueles companheiros, porque
não gosto nada deles!
– Está bem, mãe!
Mas acaba por andar com eles.
– Vai confessar-te, porque já há muito que não
o fazes!
– Eu vou, mãe.
Mas acaba por não ir.
Depois os pais vêm a saber tudo e acontecem cenas: gritos, encolher de ombros, portas batidas, encerramento na casa de banho…
Como é terrível esperar pela mãe que regressa da reunião de pais do final do trimestre; ela pensava que o seu filho tinha estudado e, afinal, aconteceu o contrário!
É um contínuo trabalho de «deitar fora» tantas coisas. O fenómeno atinge de modo particular aquelas coisas que o pré-adolescente considera «típicas de crianças».
Infelizmente uma destas coisas de «crianças» é a fé cristã!
A outra mãe
A situação de conflito com os adultos é compensada por uma laboriosa procura de amigos «verdadeiros», de amigos escolhidos, de amigos em quem se pode confiar, que não atraiçoam…
O sofrimento é grande quando se dá conta que a amiga íntima ou o amigo íntimo passou para um outro grupo; que até disse mal dele ou dela, que revelou um segredo.
É este o momento em que o grupo de amigos pode correr o risco de se tornar numa outra «mãe». Isto sucede quando, para não se sentir sós,
para não perder os amigos, se torna praticamente escravo ou dependente dos outros; faz tudo aquilo que os outros fazem; segue-se o «chefe» como as ovelhas que seguem fielmente o pastor.
A mãe poderá dizer: «Não te quero mais ver com essa gente!» E o pai: «Se te apanho com eles, levas uma bofetada!» Apesar disso, os filhos preferirão as bofetadas ao ficar sós, tanto mais que estes pais, que se irritam e nem sempre estão de acordo, até os fazem sentir-se finalmente «maiores».
É de desejar que os pré-adolescentes encontrem neste momento «grupos» construtivos.
Não os «bandos» que se encontram junto da sala de jogos ou fora da escola, mas os grupos organizados, com programas educativos, com educadores competentes.
Grupos onde os pré-adolescentes possam raciocinar, discutir, dialogar acerca das convições e hábitos da infância.
Infelizmente, por vezes estes grupos não são do agrado dos pais porque, tendo programas bastante empenhativos, são vistos como fazendo concorrência à escola. E também porque estes grupos não são bem vistos nem sequer por certos educadores porque… criam confusão, sujam a sala, não aceitam imposições.
É muito importante fazer a experiência em associações e grupos empenhados. Aqui, pouco a pouco, os pré-adolescentes podem livremente expressar-se, espetar os seus ferrões: «Quem é que disse que era preciso fazer assim?». «Onde está isso escrito?».
«Mas eu não quero fazer nada disso!» «Se todos fazem assim, por que é que eu hei-de ser diferente?»
«Todos fazem assim!»: a terrível arma dos pré-adolescentes para se tornarem conformistas, precisamente no momento em que procuram ser eles próprios.
Estúpidas, grosseiros e namoricos
Vimos já como de improviso os rapazes e as raparigas se diferenciam. Também este acontecimento está cheio de problemas.
Pode facilmente imaginar-se que este dar-se conta que a colega de escola e de brincadeira aparece de improviso tão diferente traz as suas consequências.
«Aqueles grandes olhos; aqueles cabelos tão macios; aquela maneira de andar… de onde surgiram tão de repente?»
É um choque!
De facto, como já dissemos, o desenvolvimento nos rapazes e nas raparigas acontece com um ano de desfasamento; estes encontrarem-se diferentes suscita inicialmente vivazes contraposições entre rapazes e raparigas.
Para os rapazes, as raparigas são umas estúpidas e fanáticas, que fazem tudo para dar nas vistas e se mostrarem.
Para as raparigas, os rapazes são prepotentes, só capazes de fazer brincadeiras estúpidas.
As raparigas não percebem nada, porque riem-se e dão gritos como galinhas assustadas.
Os rapazes não percebem nada, porque só pensam em jogar.
As raparigas são falsas, etc. Os rapazes são mal-educados, etc.
São escaramuças que abrem o caminho a um interesse recíproco sempre mais forte.
E começam a nascer, aqui e além, «namoricos», que depressa se tornam famosos na escola e no bairro.
«Namoricos»: um fenómeno importantíssimo desta idade, porque constitui certamente o estímulo mais forte à abertura aos outros e, portanto, à ruptura do egoísmo infantil.
Eu não sei quem sou eu!
Os pré-adolescentes, no meio de todas estas mudanças exteriores e interiores, acabam por não compreender os adultos.
É que estes, se lhes interessa que façam uma determinada coisa, gritam: «Já não és nenhuma criança!». Mas, se são estes a pedir-lhe alguma coisa, sentenciam: «És ainda muito novo!»
O pré-adolescente interroga-se: «Então sou grande ou sou pequeno?»Muitas vezes, ele próprio se dá conta que se comporta como uma criança e goza com isso. É que fazer de criança, sobretudo com os pais, evita aborrecimentos e dá direito a carícias e a prémios…. E se os amigos o vêm a saber?
Seria cruelmente gozado. Também se torna infantil no grupo: promete mundos e fundos e, cinco minutos depois, já esqueceu a palavra dada.
E eis o trágico desta idade: O adulto, irritado, diz: «Tu não sabes quem eu sou!»; o pré-adolescente nos momentos de tristeza, de solidão, de mau humor, de repreensões que chovem como trovoadas de Agosto, desabafa com um lamento: «Eu não sei quem sou eu!»
Nem uns nem outros dormem verdadeiramente num leito de rosas. É um tempo de crescimento que exige esforço. Mesmo que a publicidade diga que tudo são facilidades na vida, a conquista da própria identidade ão é tarefa fácil. É um novo nascimento: morre a criança e nasce o adulto.