Uma mãe que perde um filho é uma dor maior que o mundo. A Palavra de Deus deste domingo fere a nossa sensibilidade racionalista com o mistério da ressurreição. O profeta Elias tem em mira mostrar o Deus verdadeiro em confronto com os falsos deuses. O mesmo acontecerá com Naamã. O profeta Jesus tem em mira tornar divino o gesto humano da compaixão e da misericórdia. O mesmo acontecerá no encontro com a filha de Jairo e com o seu amigo Lázaro. Temos diante de nós o mistério do sentido da vida nos seus começos, na sua realização e na sua finitude. Para qualquer ser humano o cortejo da vida só tem sentido descobrindo o projeto de Deus e vivendo-a na presença do seu criador. Habituemo-nos às visitas de Deus. A última será a mais bela quando o humano se diviniza. Bom domingo.
1. Introdução
Mensagem de vida, mensagem de esperança. Há um confronto entre a força de Deus e a debilidade humana, entre a vida e a morte. Duas mulheres desesperadas: a viúva de Sarepta e a viúva de Naim, cada uma delas com um filho único. A primeira recebe a visita de Elias que ressuscita o seu filho. Na segunda Jesus mostra o seu amor misericordioso.
Na segunda leitura Paulo mostra o seu cartão de identidade onde todos podem ler os dados da sua vida como apaixonado por Cristo.
2. 1 Reis 17, 17-24
2.1 Texto
Naqueles dias, caiu doente o filho da viúva de Sarepta e a enfermidade foi tão grave que ele morreu. Então a mãe disse a Elias: «Que tens tu a ver comigo, homem de Deus?
Vieste a minha casa lembrar-me os meus pecados e causar a morte do meu filho?»
Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho». Tomando-o dos braços da mãe, levou-o ao quarto de cima, onde dormia, e deitou-o no seu próprio leito. (…) Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e clamou de novo ao Senhor: «Senhor, meu Deus, fazei que a alma deste menino volte a entrar nele». O senhor escutou a voz de Elias: a alma do menino voltou a entrar nele e o menino recuperou a vida. Elias tomou o menino, desceu do quarto para dentro da casa e entregou-o à mãe, dizendo: «Aqui tens o teu filho vivo». Então a mulher exclamou: «Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a palavra do Senhor».
2.2. Situação demasiado humana
Aparece a marca da pobreza, o facto de ser mulher, de ter poucos recursos económicos e, sobretudo, a morte do filho. A mulher faz a maior profissão: «Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a Palavra do Senhor.»
3. Salmo 29 (30)
3.1. Deus do lado do homem
O Deus do salmo 30 é um Deus que está pelo homem, que lhe traz alegria e festa, que o cura e o salva, que o livra da morte. Eis as antíteses regidas por Deus: “morte e vida”, “descer e subir”, «as lágrimas ao cair da noite» e «a alegria ao amanhecer». “Vós convertestes em júbilo o meu pranto: Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente”.
4. Gálatas 1, 11-19
4.1 Texto
Quero que saibais, irmãos: O Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana, porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem, mas por uma revelação de Jesus Cristo. (…) Mas quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça, Se dignou revelar em mim o seu Filho para que eu O anunciasse aos gentios, decididamente não consultei a carne e o sangue, nem subi a Jerusalém para ir ter com os que foram Apóstolos antes de mim; mas retirei-me para a Arábia e depois voltei novamente a Damasco. (…)
4. 2 Chamamento radical
A entrada do Mestre nas suas convicções, a queda do cavalo no deserto ao ouvir a voz de Deus, mudou toda a sua vida. Paulo apoia a sua argumentação na sua breve biografia.
Foge a todo o racionalismo e apresenta a sua experiência na história da conversão, como nos vem relatada nos Atos dos Apóstolos. Tudo é fruto da graça, do chamamento. Deus chama ao coração do homem, à sua interioridade, ao seu eu profundo. A sua vocação é a eleição de Jesus.
5. Lucas 7,11-17
5.1 Texto
Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: “Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo”. E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.
5.2. Mistério da ressurreição
Um cortejo fúnebre sai da cidade de Naim, cujo nome significa “deliciosa”, “preciosa”.
Soam os passos na calçada enquanto densos rostos, envoltos em panos pretos, ensombram desesperadamente a cena. Tudo é fúnebre, tudo é luto, tudo é dor naquele coração materno. Mas há um outro cortejo que entra na cidade e o cruzamento é inevitável.
Nasce uma nova esperança e uma experiência de ressurreição. Como diante da filha de Jairo ou do amigo Lázaro ressuscitado, também aqui Jesus se comove. Jesus entra no coração daquela mulher condenada à solidão total ao perder o seu único filho. Jesus manda parar. Toca o corpo, apesar da proibição da lei. O exercício luminoso do seu amor torna-o livre. Pega na mão do menino e entrega-o a sua mãe. Aquela nova vida brilha novamente naquela manhã cinzenta.