Lectio divina: 13º Domingo Comum (ano C)

Começamos este domingo com a “grande viagem” de Lc 9,51-62.

Este versículo 51 é uma espécie de vértice-charneira onde chegam e partem os temas deste Evangelho. Mais do que caminho geográfico é um caminho teológico. Mais do que palavras a anunciar, Lucas traça caminhos a percorrer, estilos de vida a abraçar, projetos a construir. É uma grande aventura onde o estilo para assumir com radicalidade, com frontalidade o programa de Cristo é uma constante. Jesus explica os princípios que devem orientar quem quer ser seu discípulo. Este deve despojar-se de tudo para nascer para uma nova liberdade. Diz S. João da Cruz: ”o cristão é o peregrino sem estrada, mas constantemente a caminho”. O caminho do discípulo é exigente, irrevogável e de entrega total. A figura de Eliseu (1.ªLeitura) é o modelo alegre de aceitação do chamamento de Deus.  Bom Domingo
1. Introdução
Jesus “vai a caminho de Jerusalém” onde viverá a sua paixão. Diz o versículo 51 de Lucas: «Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém». Aqui se juntam os temas do Evangelho de Lucas. Até aqui, teve lugar a missão na Galileia com todas as suas palavras, sinais e mensagens.
Agora inicia-se o compromisso de vida. É uma escola de liderança. É uma exigente aventura, radicada em cenários de seguimento: “porque Te amo, quero estar contigo”.
2. 1 Reis 19, 16b.19-21
2.1 Texto
Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa.
Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.
2.2. Chamamento de Eliseu
O autor do livro do Deuteronómio encena o chamamento de Eliseu. Elias lança-lhe a capa como sinal de domínio sobre ele. Então “levantou-se e seguiu Elias”. Queima o arado e oferece um banquete de confraternização e despedida. Deixa a família e a profissão e disponibiliza-se para uma vocação profética.
3. Salmo 15 (16), 1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. cf. 5a)
3.1. “Ó Senhor, Tu és a minha herança”
No seu Sermão 344, Santo Agostinho comenta assim: «O salmista não diz: “Ó Deus, dá-me uma herança”. Diz antes: “Tudo o que me podes dar fora de Ti, é vil. Sê Tu a minha herança. É a Ti que eu amo… Esperar Deus de Deus, estar cheio de Deus. Ele te basta; fora d’Ele, nada te pode bastar». É a súplica da alma mística que confia no Senhor aqui e na eternidade.
4. Gálatas 5, 1.13-18
4.1 Texto
Irmãos: Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. (…) Se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.
4.2 “Fostes chamados à liberdade”
Os Gálatas estão preocupados pela imposição da lei por parte dos judaizantes. Paulo esclarece-os dizendo-lhes que a verdadeira liberdade é dom do Espírito de Deus. A Liberdade é sair de si e fazer da vida uma partilha. A verdadeira liberdade é o amor de Cristo que se manifesta na caridade. A ela se opõe o pecado, a escravidão.
5. Lucas 9, 51-62
5.1 Texto
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação.
Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores».
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».
5.2 O caminho do discípulo
Este novo ritmo do Evangelho de Lucas está cheio de exigências para aqueles que querem seguir o reino de Deus. Mais do que um caminho geográfico é um caminho teológico.
A recusa dos samaritanos e os encontros fortuitos que aparecem no caminho facilitam a palestra de Jesus. A atitude deverá ser de paciência e tolerância, de exigência e entrega total.

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