Lectio divina: 2º Domingo quaresma (ano C)

O Pe. Rocha Monteiro, mais uma semana, partilha a sua proposta de lectio divina, a partir dos textos da liturgia.

1. Introdução
O segundo domingo da Quaresma tem, nos três ciclos A-B-C, a Transfiguração e a presença de Abraão. Este é a figura do ser humano à procura duma terra e à procura do suporte de Deus. Atravessa desertos humanos e planícies estéreis. Está inquieto: sem filhos, sem terra, e cheio de dúvidas. Aposta numa fé como aventura, como um caminho a fazer, uma peregrinação sagrada. Jesus é o homem novo a apontar-nos para os novos céus e a nova terra, neste ano, com os rasgos da misericórdia. O Tabor aponta-nos para a Páscoa e para a terra definitiva. É um tempo que exige de nós trabalho árduo.
2. Gen 15,5-12.17-18
2.1 Texto
Naqueles dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência».
Abrão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído em conta de justiça.
Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abrão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?» O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». (…)
Ao pôr-do-sol, apoderou-se de Abrão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abrão uma aliança. (…)
2.2. Ritual de aliança
Abraão é envolvido num ritual muito antigo de celebrar uma aliança diante de animais devorados pelo fogo ao pôr-do-sol. Assim nasce e cresce a fé de Abraão que deposita a sua confiança total em Deus. Diz D. António Couto: “É tão simples, tão novo e tão decidido este sono/sonho dado a Abraão, a Pedro, João e Tiago!
Talvez devamos mesmo seguir o conselho de Isaías, o profeta: «Olhai para Abraão, vosso Pai» (Is 51,2). E partir com ele DAQUI, do penúltimo e provisório, ao encontro de Cristo Transfigurado / Ressuscitado”. O símbolo do fogo que aparece no ritual será a coluna de fogo que guiará Moisés na noite da fuga do Egito. Esta Aliança com Abraão prefigura, de alguma maneira, a Aliança com Jesus Cristo. Jesus não usará animais mas será o seu próprio sangue derramado pelos homens que selará a Aliança.
3. Salmo 26 (27)
3.1 Confiança no Senhor
O Salmo 26 é um salmo de quem se encontra em aflição e recorre ao senhor. Sabe que pode colocar n’Ele toda a confiança: “O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é protetor da minha vida: de quem hei de ter medo? Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me”(…) Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos”.
4. Filip 3,17-4,1
4.1 Texto
Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição. (…) A nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo. (…).Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.
4.2 Vivemos do amor
O homem não pertence à terra. Deus é o autor do amor. As pegadas do nosso caminho são as de Jesus. Passam pela cruz. O valor do que fazemos vem do amor que tornamos presente. O cristianismo não é uma teoria nem a fé um conjunto de saberes. A nossa vida é o estar com, o viver na presença de Deus. Não é o ver-se envolvido em normas mas o permanecer firme na espera do Senhor.
5. EVANGELHO Lc 9,28b-36
5.1 Texto
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». (…) Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». (…)
5.2. Sentido da transfiguração
O mistério da transfiguração do Senhor tem três sentidos muito importantes. O primeiro é apontar-nos para o itinerário da Páscoa do Senhor. O segundo é preparar o futuro dos discípulos. O terceiro é dar sentido ao nosso caminho quaresmal. A transfiguração é iluminada pelo mistério da paixão de Jesus Cristo; do monte Tabor, diz-se, pode ver-se o monte Calvário em dias com boa luminosidade. O que escutamos de Deus «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O», acena para o seguimento que todos devemos fazer de Jesus. Somos um povo na estrada. Temos sempre novos “Êxodos”. Jesus ao explicar o seu caminho convida-nos a percorrê-lo com as mesmas peripécias e na mesma direção.

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