6. Meditação
Celebração do mistério de Deus. Na sociedade contemporânea foram oficializadas muitas cerimónias que não passam de encontros sociais sem a dimensão do mistério. É uma espécie de alquimia humana onde não há sinais e fome de Deus. Lembremos alguns batizados, casamentos, festas… Lucas, com um trato fino, mostra-nos como o publicano percebeu o mistério de Deus, adoração, sacralidade, transcendência. As celebrações não deveriam ser passatempos, mas acontecimentos de graça onde o orante fizesse a experiência da presença de Deus; onde tivesse espaços de silêncio e contemplação, onde, no final, pudesse dizer: “encontrei-me com o meu Deus, saio mais rico desta celebração. Deus falou-me e eu pude responder-Lhe”. Por isso todos os agentes que entram na celebração deveriam ser paradigmas duma alma crente.
7. Oração
Imersão em Deus. Uma mística medieval descreve assim a oração autêntica. “Não pode o peixe afogar-se na água, não pode a ave cair no ar, nunca o ouro desaparece no fogo, mas ali recebe riqueza e radioso esplendor. Deus concedeu a todas as criaturas poder viver segundo a sua natureza. E como poderei ir contra a minha natureza? Deixarei as coisas e irei para Deus que é meu pai por natureza, meu irmão pela sua humanidade, meu esposo por amor. E quero ser sua sem início (Matilde de Magdeburgo, A Esperança que nasce da Palavra).
8. Contemplação
Senhor, escuta o meu regresso que deseja aprender a Tua humildade.
Que a minha oração nunca me afaste de Ti e dos outros.
Viver e orar percorrem o mesmo sulco profundo e desejam o mesmo:
a busca de um tu, homem ou Deus,
num contínuo florescer do meu ser.

Poema
Subir e descer
Todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado». Lc, 18,14

Encontrou-se a Caridade
Com o Orgulho, certo dia:
Subia o Orgulho uma escada
E a Caridade descia.

Ela humilde, ele arrogante,
No patamar dessa escada,
Os dois, cruzando-se, viram
Uma rosinha pisada.

Emproado, o Orgulho, vendo
Deu-lhe nova pisadela;
De joelhos, a Caridade
Deitou-se aos beijos a ela.

Mas nobres passos se ouviram
De som divino e tremendo;
O Orgulho seguiu, subindo,
E a Caridade, descendo…

E a voz de Deus entretanto
Disse, bramando e sorrindo:
— «Tu, que sobes, vais descendo
«Tu, que desces, vais subindo!»
Eugénio de Castro

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