6. Meditação
Seduz-me este Jesus livre que segue o seu caminho, porque o amor de Deus é livre e contraria os egoísmos. Encanta-me um Deus sem guetos nem fronteiras, que segue estradas inusuais e caminhos imprevistos. Fascina-me este nomadismo no Espírito, porque a pátria de Jesus é o mundo e, no seu Reino, o outro é sempre a terra prometida!
De facto, a vida e a fé não mudam por causa dos milagres, mas pelos prodígios de um amor livre que nunca se rende.
A Deus não se trava nem se bloqueia, não se encaixilha num quadro como uma fotografia, nem se arruma como uma pagela no meio dum livro. Deus é mais vasto e grande do que os nossos pequenos horizontes pessoais! E só um dia, mais tarde, compreenderemos que toda a potência de Deus se manifestará na impotência da cruz.
Ali veremos, caros amigos e amigas, a evidência do Evangelho!
(Sementes de Evangelho)
7. Oração
Somos hoje confrontados pela vocação profética de Jeremias e pela estranha teimosia dos conterrâneos de Jesus; não distinguir a lógica de Deus da dos homens. É ilusão olhar para os meus horizontes pessoais e perder os horizontes de Deus. Não perceber que se trata duma antropologia frágil, ditada pela vocação de profeta.
Rezo-te, Pai, para que faças um acerto às minhas evidências. Não é o extraordinário que dita as minhas ações. Pelo contrário, cegam-nas e tiram-lhes a serena comunhão do dia-a-dia. Deus é comunhão. Deus é amor. Deus é confidente. Deus não bloqueia.
É pela vida e pela fé que avança o meu existir em Deus.
“Não esperes que Ele se ponha sobre ti e diga: Sou! Ouve-l’O quando não sabes porque te arde o coração. É Ele que em ti se exprime” (Rainer Maria Rilke).
8. Contemplação
8.1 Contemplação
Recomeço com aquilo que existe,
recomeço com o sol que brilha na água dos teus olhos,
com este fragmento de vida que cura o lento veneno de hoje,
recomeço a amar a vida que retoma o caminho
quando me levanto acordado pelo vento.
Recomeço com o que existe com o grão e a palha que há em mim.
Recomeço com a alegria de uma criança que por si só ilumina o mundo,
com a paciência de um ancião ao contemplar o seu ocaso,
com a beleza de cada homem quando oferece a sua fragilidade.
Recomeço com a liberdade do viandante que se entrega à novidade dos seus passos.
Ao partir, agora, poderei levar a primavera à tua festa.
(Luigi Verdi)
8.2 Poema: Toalha branca
Deus ousa perguntar a Jeremias:
O que vês, Jeremias? À qual Jeremias responde:
“Vejo um ramo de amendoeira”.
Deus diz-lhe: ”Viste bem, Jeremias, viste bem!”
Jer 1,11-12
Teimosamente branco,
chão de amendoeira,
Louca palavra
em flor floresces em amor.
Quanto bem te quero, nova criação,
Sabedoria divina, em mim oração.
Jeremias, acorda, acorda.
Porque dormes?
Aceita o desafio, aceita a vocação!
Longe canta o rouxinol
em tua palavra flor,
Aceita indigno
a toalha branca da missão.
Amendoeira, amor bêbado de brancura,
Vens em meus invernos pesados,
que loucura,
Acordar-me à lareira envolto em fogo,
Para ver o florir da primavera de novo.
Pregadores,
com belos louros entrançados,
Deixai-vos florir
de amendoeiras em flor;
Pregai a esperança
dos rebentos prateados;
Sede beleza de Deus. Servi o Senhor.
“O estudioso disse à amendoeira:
Fala-me de Deus.
E a amendoeira floriu”.
Anónimo
(J. Rocha Monteiro in “Manhãs abertas”)