A aventura da adolescência continua e encaminha-se para o ponto mais alto com o cérebro a chegar ao máximo das suas potencialidades: a capacidade de abstracção.
O que é? Expliquemo-nos com um exemplo.Os animais são inteligentes? Certamente. A abelha, sem ter frequentado a escola de engenharia e arquitectura, constrói um favo maravilhoso. Mas sempre igual!
Ela, de facto, não sabe distinguir o essencial do secundário. O homem começou com cabanas muito feias mas, sendo capaz de distinguir o essencial da casa (guardar-se das intempéries, defesa da privacidade, protecção das agressões) dos aspectos secundários (forma das janelas, cor das paredes, natureza do material), chegou a construir edifícios maravilhosos.
Se falo de «beleza», o vosso cérebro sabe que bela é a flor, porque sabe ir à substância da beleza, sem se deixar prender por elementos marginais.
O cérebro do adolescente encaminha-se rapidamente do desenvolvimento completo, que será atingido por volta dos dezoito anos.
A criança, entre o brilho de um papel prateado e uma velha nota de cinco euros, escolhe o papel, porque não consegue libertar-se da atracção exercida pelo brilho.
O adolescente não. O desenvolvimento desta capacidade exige esforço e é gradual; não são poucos os adolescentes que, entre os quinhentos euros que lhe oferece a oficina de mecânica e o esforço de estudar, escolhem a primeira solução.
É mais brilhante a possibilidade de ter dinheiro próprio para comprar a motorizada, embora seja mais importante para a vida continuar a estudar.
Apesar de tudo, o cérebro do adolescente, sobretudo se há um esforço da sua parte, avança rapidamente para uma forma de pensar cada vez mais adulta.
O deserto dos «não»
Também este crescimento não é fácil.
O adolescente já não se contenta com a «papinha feita» e com as «sopas requentadas».
Quer saber, indagar, perceber os porquês. Não é suficiente que os pais lhe imponham: «Faz assim! Veste-te assim! Comporta-te desta maneira! Não andes com aqueles!» Não! Ele quer saber os porquês. A sua frase típica é: «E quem é que o disse?»
Ai do adolescente se encontra na vida adultos «autoritários», aqueles que gritam: «Faz assim porque aqui quem manda sou eu!», ou com os «permissivos», aqueles que dizem: «Faz como te parecer, a mim me dá igual!». Nem uns nem outros o ajudam a crescer e a ser feliz.
Ele, de facto, necessita de pessoas que lhe expliquem pacientemente os porquês dos adultos. Pacientemente. Porque não é fácil raciocinar com o pré-adolescente.
Ele, de facto, querendo ser ele próprio, querendo diversificar-se dos adultos e não tendo uma bagagem de experiência e de cultura atrás de si, julga poder afirmar-se dizendo sempre o contrário. É a fase da «auto-afirmação opositiva».
A mãe diz que faz frio? Ele responde que faz calor e não veste a camisola. O pai diz para não sair? Ele sai. O professor afirma que precisa de estudar? Ele acha que não serve para nada.
É toda uma série de «Nãos», que são ditos mais com os factos do que com as palavras. Eis porque a moda mais estranha e extravagante é a grande paixão dos adolescentes.
Uma linda madeixa de cabelos amarelos mói o fígado dos pais, mas o adolescente assim sente-se diferente. Um brinco na orelha do rapaz faz perder a cabeça ao pai, e ele é por isso mesmo que o mete.
Uma saia que nem sequer chega a cobrir o umbigo faz com que o velha tia ande aflita? É por isso mesmo que a quer.
Grandes pinturas nos olhos fazem arregalar os do professor de moral e religião? Que satisfação! Palavras e comportamentos desenvoltos irritam as freiras lá no colégio? Que prazer!
A auto-afirmação opositiva é uma fase necessária e não deve ser reprimida como, infelizmente, conseguem fazer tantas «mãezinhas com um filho único cheio de mimos».
Sem esta necessária passagem, nascem personalidades inseguras e complexadas que viverão esta crise de oposição fora da época, em idade mais avançada.
E então há sofrimento, porque cada fase de crescimento deve ser vivida no seu tempo.
Há muitos matrimónios de jovens esposos que se separam, simplesmente porque sofrem de «adolescência retardada»!
Esta, porém, é uma fase delicada. Os adolescentes de hoje têm muita liberdade e qualquer atitude feita por auto-afirmação pode custar-lhes cara.
Deixar de estudar para se emancipar dos pais é um facto que os pode fazer sofrer durante toda a vida.
Meter-se com um rapaz errado ou uma rapariga falsa para contradizer os pais e sentir-se independentes, pode criar consequências irreparáveis.
Fumar para se auto-afirmar pode levar à escravidão do tabaco ou até da droga.
Entregar-se a comportamentos sexuais «livres» pode conduzir à prostituição e à libertinagem.
Danificar a cabine telefónica ou atravessar com o semáforo vermelho pode levar ao posto da polícia mais próximo.
Com a rejeição prejudicial e visceral de tudo aquilo que «aconteceu antes», corre-se o risco de «atirar para fora a criança juntamente com a água suja»: a tradição com o tradicionalismo, a moral com o moralismo, a noção com o nocionismo, a fé com o devocionismo. E fica-se de mãos vazias.
É precisamente por esta exigência de crescer e de se diferenciar dos outros que a adolescência, como dizíamos no início, é a idade que, estatisticamente, alimenta mais que qualquer outra a delinquência, a prostituição, a droga.
O adolescente deve ser consciente desta fase que atravessa e deve vivê-la com os olhos abertos, aprendendo pouco a pouco que mil «nãos» não são suficientes para fazer um «sim», e que muitos hectares de deserto não chegam para fazer um pouco de sombra.
O prado dos «sim»
O melhor augúrio que se pode fazer aos adolescentes é de não encontrarem adultos autoritários ou permissivos, mas autorizados, isto é, que tenham paciência de provar os seus «sim» e os seus «não» com a força dos argumentos.
E se não existirem estes adultos? Os adolescentes devem procurar sozinhos os melhores caminhos que os ajudem a crescer e a ser responsáveis.
No grupo como na biblioteca
Voltamos ao discurso dos «grupos formais», isto é, daqueles grupos que não exigem apenas a simpatia entre os membros, mas comprometem a estudar os problemas e as situações. Aqueles grupos disponíveis a responder, com a busca em comum e o estudo sério, a todos os porquês dos adolescentes a respeito da sua liberdade e personalidade.
Lendo, estudando, perguntando, confrontando-se, os adolescentes abordarão o assunto do permitido ou proibido, onde uma coisa não é boa apenas porque se fez sempre assim ou porque o impõe a autoridade, nem é bom o seu contrário apenas porque é contrário, mas pela força dos argumentos livremente percebidos e aceites.«Mas os grupos são um remédio para todos os males? Porquê então tantos nossos amigos foram arruinados precisamente pelos grupos?»
O facto é que, se um adolescente vai parar a um grupo errado, por exemplo, um grupo onde circula a droga, é muito difícil arrancá-lo dali. Isto é mais uma prova da importância do grupo nesta idade.E os pais e as outras «agências educativas» (paróquia, escola, centro juvenil) deveriam
empenhar-se muito mais em oferecer aos adolescentes grupos sãos, interessantes, atraentes… Em vez de recorrer, depois, aos grupos de
recuperação, como as comunidades terapêuticas.
A este ponto «o adolescente» começará a robustecer-se: poder-lhe-á ser retirado a vara que apoia a planta frágil contra o ímpeto dos ventos e, através da juventude, tornar-se-á «adultus».
E Jesus permanece calado?
Jesus, de facto, era um perito em adolescentes porque nunca disse: «Tu deves!», mas «Se queres». «Se queres, podes seguir-Me». Mas, referindo-nos a esta fase da adolescência, Jesus vai direito ao nó da questão: «Não se pode servir a dois senhores». sto é, deves fazer uma escolha.
É esta a grande responsabilidade do adolescente com o corpo que preocupa, o coração que bate e o cérebro que canta: elaborar um projecto de vida.
O projecto de vida é para a personalidade aquilo que a espinha dorsal é para o corpo.
Sem espinha dorsal somos como os moluscos sem qualquer consistência.
E não são poucas as pessoas que, não tendo amadurecido na adolescência um projecto de vida, vivem a ziguezague, sem coerência, sem bússola e têm sempre necessidade de um «patrão» que os guie: o partido, a televisão, a moda, a mulher, o marido, a mãe. Como se elabora um projecto de vida?
Olhando tudo, curiosando tudo, procurando sempre os porquês e escolhendo as melhores coisas, aquelas que dão efectivamente garantia de uma vida feliz, honesta, útil para si e para os outros.
Hoje as propostas são muitas e não é fácil escolher. Entre estas propostas está também aquela baseada nos valores de Jesus: a solidariedade, a fraternidade, a não-violência, o perdão, a colaboração, a lealdade, a liberdade, a justiça, a caridade, a compreensão, a paz.
Eis-nos de novo a sublinhar a importância de um grupo de amigos. Este não serve apenas para vaguear juntos pelas ruas ou para juntos comer
gelados, mas para procurar, discutir, escolher.
Descobrimos assim que este Jesus é verdadeiramente excepcional. Ele não fundou «muitos cristãos isolados e dispersos», mas a Igreja: um grupo, uma comunidade onde, como irmãos, se ajudam mutuamente a escolher o bem.
É sempre melhor dois que um só. Trabalhar juntos é mais rentável. Se um cai, o companheiro pode ajudá-lo.
Mas se um está só e cai, ninguém o ajudará a levantar-se. Se tem frio, podem os dois dormir juntos e aquecer-se; mas um só como se aquecerá?
Quando se é agredido, dois podem defender-se melhor (Cfr. Eclesiastes 4, 9-12).
Quero indicar-vos uma outra passagem deste livro do Antigo Testamento. Parece que o autor tem um coração de adolescente e a experiência de um velho. Escreve:«Jovem, regozija-te na tua mocidade, e alegre-se o teu coração na flor dos teus anos. Segue os impulsos do teu coração e o que agradar aos teus olhos, mas sabe que, de tudo isso, Deus te fará prestar contas» (Ecle 11, 9).
Uma pergunta e um augúrio
Quantos adolescentes terão a sorte de encontrar a proposta de Jesus apresentada de modo sério e adaptado à sua idade?Eu auguro a todos a oportunidade de encontrarem alguém que lhes apresente um rosto jovem de Jesus, esse que também foi adolescente e veio para nos tornar mais livres e felizes.
E se encontrardes uma proposta de vida melhor do que a cristã, avisai-me imediatamente. Há muito que ando à procura dela e ainda não a encontrei.