Aos 13-14 anos para as raparigas, aos 15-16 anos para os rapazes, o corpo explode.
Os ossos avançam velozmente para o máximo do desenvolvimento, seguidos dos músculos que os cobrem e modelam segundo as ordens das glândulas sexuais que programam a imagem masculina ou feminina.
Na rapariga, todo o corpo se reveste de formas redondas. A bacia alargada e arredondada determina um caminhar elegante e flexível. Os seios crescem.
Nos rapazes, os músculos tornam-se fortes e duros, a voz torna-se grave e no rosto despontam a barba e o bigode. O nítido e rápido aumento da
estatura e do peso exige uma nova relação com o espaço, novas medidas.
E o momento dos objectos que caem das mãos, do tropeçar fácil, dos movimentos desajeitados, sublinhados pelos protestos dos pais: «Queres estar atento onde metes os pés? Quando é que acabas de tocar em tudo e de atirar com as coisas ao chão?»
Cada manhã é para o rapaz e a rapariga uma surpresa e nunca mais acabam de ser novos e diferentes.
Espelho dos meus desejos…
Começam as corridas trepidantes ao espelho para experimentar a maneira de andar, para examinar o perfil do nariz e a silhueta do corpo, para controlar os músculos dos ombros, para ajeitar as madeixas dos cabelos, para estudar as expressões do rosto. E muito mais preocupante que o espelho da casa de banho ou do quarto ou o reflexo nas vidraças das montras da rua, é o espelho constituído pelos «olhos dos outros».
Este espelho é verdadeiramente importante e motivo de preocupação. Pensará, por exemplo:«Odeio aqueles rapazes que nem sequer olham para mim!»
«Olha para aquele; não tira os olhos de mim!» «Mas por que é que ninguém se lembra de mim?»E surge a fase das comparações:«O que é que aquela tem mais do que eu, para andarem todos atrás dela?»«Olha para aquela peneirenta a caminhar como se só ela tivesse seios!» «Com estes cabelos achas que alguém irá gostar de mim?» «Sou tão desajeitada, enquanto ela é tão elegante!» «Prometo que irei estar a pão e água para me tornar esbelta como ela!»«Gostava de ter a tua altura: pareço um anão! Por que é que não sou filho de jogadores de basquetebol?»
Qualquer pequeno defeito torna-se num pesadelo; qualquer atraso de crescimento com respeito aos amigos torna-se numa angústia. É a idade da beleza fresca e limpa como a da amendoeira em flor.
É a idade em que se pode vestir de tudo, até roupas com os feitios mais estranhos.
A indústria da moda conhece bem esta beleza e explora-a sem escrúpulos. A mini-saia, os hot-pants, os jeans mais apertados, os pequenos coletes, as camisas e camisolas com as mangas um palmo mais compridas que os braços, os curiosos penteados… tudo isto foi lançado pelas raparigas e rapazes.
O corpo adolescente torna tudo belo. Infelizmente, há adultos, homens e mulheres, que uerem imitar a moda jovem!
Quem não encontrou um quarentão de jeans vestidos, fazendo uma triste figura?
Ou uma senhora com uma mini-saia a mostrar umas pernas onde já começam a aparecer varizes?
Narcisismo e exibicionismo
Narciso era um belíssimo adolescente que andava continuamente a espelhar-se na água de um lago até que, tentando beijar a sua estupenda imagem, caiu e morreu afogado.
Como todo o valente adolescente, o jovem da mitologia grega não tinha uma exacta consciência das suas possibilidades: provavelmente não sabia nadar!
Este adolescente, na psicologia, tornou-se o símbolo da pessoa que tende a contemplar-se a si próprio.
O adolescente é Narciso elevado à potência. O seu corpo em movimento impele-o continuamente a espelhar-se, a escutar-se, aadmirar-se ou a lamentar-se, e fecha-se em si próprio vezes sem conta. Basta uma coisa de nada, um olhar encantado ou trocista, um cumprimento doce ou escarnecedor, uma atenção ou um esquecimento, para procurar um esconderijo solitário onde pode saborear, docemente, as suas dores ou penas.
Porém, simultaneamente, o adolescente é exibicionista, quer mostrar-se, expor-se na montra.Consciente do «seu ser já crescido e dos seus atributos de beleza e força», quer mostrar à força de cotoveladas que existe. É barulhento, ruidoso, metediço, provocante, «fanático».
Ri-se ruidosamente, grita e emite ruídos supersónicos conforme o sexo, utiliza palavras duras como pedras e atitudes desinibidas.
Quer simplesmente fazer-se notar!
As turmas do ensino secundário formadas por adolescentes, sobretudo onde há muitos rapazes, criam problemas de disciplina. Um grupo de adolescentes numa carruagem de um comboio faz barulho e desordem.
Levantam-se, põem o rádio no máximo volume, correm, andam de um lado para o outro, abraçam-se.
Se uma pessoa não se habituou a estar com eles, ou irrita-se ou muda de lugar.
Lágrimas e rua
Este contraste entre a procura de um recanto e a montra, leva o adolescente a oscilar entre as lágrimas e a rua. Em certos momentos quer estar só e talvez se feche na casa de banho ou no quarto. Não adianta chamar por ele!
«Deram cabo de mim! Mas que querem de mim?», e outras respostas ainda menos delicadas. Se não está em casa, inventa uma doença (a rapariga) ou uma «zanga tremenda» (o rapaz) que impeçam que alguém deles se aproxime.«Deixem-me em paz! Deixem-me sozinho!»
Nestes momentos o adolescente gosta de se entregar às suas fantasias, imaginando, conforme o seu humor, ser vítima ou vencedor; princesa ou gata-borralheira; campeão ou derrotado; miss Portugal ou desprezada; rapariga belíssima descoberta por um realizador famoso e tornada numa artista de fama em poucos dias, ou rapariga humilhada e desfigurada por um grupo de marginais; piloto da Fórmula 1 que abre diante
da multidão delirante a sua garrafa de champagne ou pobre e sujo aprendiz de mecânico explorado pelo patrão.
Depois, de improviso, rebentam os momentos da «rua». Então para segurar os adolescentes em casa são precisas correntes, sai com a motorizada para o barulho e a multidão.
O pai ou a mãe, pouco tempo antes tinha-o estimulado a sair: «O que é que fazes sempre fechado em casa? Eu na tua idade…»
Agora tem de mudar de discurso: «O que é que fazes sempre na rua? Eu na tua idade, se voltava com cinco minutos de atraso… Estúpido fui eu, que te comprei essa maldita motorizada. Mas qualquer dia faço-a em cacos!»
Porquê estas mudanças de humor? Porquê estas contradições? É o corpo com tudo aquilo que mexe «dentro» e a relação-confronto com os outros, o principal factor de turbulência. Como canalizar estas energias contrastantes, a fim de se tornarem em forças de crescimento?
Eu sou OK
O estudioso Eric Berne elaborou uma teoria para levar cada pessoa a dizer de si própria: «Eu sou OK!» Na realidade, as convicções deste estudioso, no seu conjunto, têm um estilo «americano.» Mas nós gostamos da frase porque nos parece particularmente indicada para o adolescente.
Nesta estação do corpo que cresce entre alegrias e perturbações, o adolescente deve, antes de tudo, aprender a aceitar-se, porque a aceitação de si será a base de cimento sobre a qual será construída a própria personalidade.
Quem não tem a sorte de viver em contacto com o mundo dos teenagers, poderá abrir a rubrica do correio de qualquer revista lida por adolescentes.
«Ajudai-me, sou infeliz! Sou uma rapariga de 15 anos e tenho um problema tremendo: uma mancha escura no pescoço».
«Tenho uns seios pequeninos, mal se vêem, enquanto que as minhas amigas…».
«Sou um palmo mais baixo que os meus companheiros e tenho os ombros fracos e curvos. Que devo fazer?».«Tenho as pernas curtas e muito finas. Todos me gozam. Nem sequer tenho coragem para sair de casa».
«Tenho os cabelos gordurosos, eriçados e rebeldes. Experimentei mil marcas de shampoo. Aconselhai-me um remédio, porque assim não posso viver!».
Infelizmente, nem todas as revistas são sábias. Pelo contrário, têm apenas como objectivo fazer publicidade, de forma mais ou menos oculta, de produtos milagrosos que… deixam as coisas como estavam, quando não as tornam pior.
A solução destes problemas não pode vir do exterior, mas deve brotar de «dentro». Enquanto não se aceitar o próprio corpo tal como é, rapaz ou rapariga, alto ou baixo, louro ou moreno, não se realizará nenhum melhoramento duradouro e não haverá paz.
Continuar-se-á a correr de um modelo para o outro, de um produto para o outro com o único resultado de sentir aumentar o descontentamento,
a irrequietação, a irritação, a susceptibilidade, a desilusão. E um adolescente susceptível, irrequieto, desiludido, convencido que não é «agradável» e aceite pelos outros.
Até pode inclusivamente fazer enormes tolices.
Talvez nem todos os adolescentes sabem que, nesta idade, em geral inconscientemente, se decide que pessoa se tornará amanhã.
As estatísticas da delinquência referem dramaticamente que a prostituição, o crime, a droga têm as suas raízes precisamente nestes anos. Quantos trágicos dramas foram derivados por aqueles antipáticos pêlos debaixo do feio nariz, ou por causa do antipático nariz acima dos pêlos incipientes.
Aceitação dinâmica
Atenção ao seguinte: aceitar-se não significa lançar-se nos braços da fatalidade e da passividade: «Tenho a coluna torta, paciência, ficarei torta!». Não.
Aceitar-se significa conhecer-se bem, tomar consciência dos próprios limites e esforçar-se por melhorar, escolhendo os meios que possam dar os melhores resultados.
Se tenho alguma gordura a mais nas ancas, não devo ir atrás das ilusões da publicidade que prometem fazer emagrecer 10 kg em sete dias, nem dizer: «Estou-me nas tintas!»
Devo, pelo contrário, verificar quantos chocolates e quantos gelados como por dia e tomar uma decisão consequente.«Ai, ai, ai, isto custa muito!» O único produto que faz bem ao próprio corpo é um cansaço prudente, bem calculado e (abram os ouvidos!) contínuo.
Uns saltos de manhã de vez em quando ou um passeio de 10 quilómetros uma vez por ano, não fazem emagrecer nem crescer em altura.
Cuidar escrupulosamente da higiene, viver o mais tempo possível ao ar livre, caminhar muito, comer de forma equilibrada, praticar desporto, não fumar, não acampar em lugares fechados e poluídos como bares, discotecas, tudo isto são produtos de beleza que dispensam qualquer
pomada milagrosa.
Obviamente, deve permanecer firme a ideia base: conhecer-se bem a si próprio e não propor-se modelos impossíveis. Se és gorducha, deves procurar ser uma elegante gorducha e não um «palito»! Se o teu pai e o teu avô são carecas, deves estar preparado para um dia te habituares a ter poucos cabelos para pentear, em vez de sonhares com uma farta cabeleira.
O sentido do belo
No adolescente amadurece pouco a pouco o sentido estético, isto é, a capacidade instintiva de escolher o que é belo, pondo de parte o que é feio. Mas não basta o instinto: é necessário «cultivar» o sentido do belo. Visitar os museus, folhear revistas de arte e de alta moda, escutar não apenas a música barulhenta, evitar sempre e de todas as maneiras a banalidade, o desleixo, a vulgaridade, tudo isto aumenta a capacidade de perceber o que é belo e, portanto, de melhorar a imagem do próprio corpo para se agradar e agradar aos outros.
Uma pequena dose de maquilhagem, uma roupa apropriada, uma cor harmoniosa, um penteado adequado fazem verdadeiros milagres.
Atenção! Quem percebe destas coisas sabe que a arma mais eficaz do belo é a simplicidade.
E, acima de tudo, um sentido do humor. Não levar demasiado a sério o que, afinal, é acidental na vida.
A prova dos nove: o grupo
Muitos adolescentes, na família nuclear actual, vivem sem irmãos. Esta situação pode dificultar a formação de uma imagem de si próprio equilibrada e objectiva. Para a mãe, a sua filha é sempre a mais linda da cidade e, se a rapariga acredita, cairá numa crise profunda quando se der conta que os rapazes vão atrás das outras. No «tribunal» da beleza o testemunho dos pais não merece todo o crédito. É preciso escutar vozes imparciais e até concorrenciais. Por isso, hoje mais que nunca são importantes os grupos.
Mas não esses «grupinhos de simpáticos» onde todos pensam, falam e vestem da mesma maneira.
Servem aqueles «grupos formais» onde se entra não tanto e não apenas por causa da simpatia das pessoas que os compõem, mas pelas deias
e iniciativas que propõem: os grupos religiosos, escolares, culturais, sociocaritativos, desportivos.
Nestes confrontamo-nos com pessoas desconhecidas, que inicialmente fazem um esforço para aceitar os novos, que provêm de categorias sociais diferentes, com vários hábitos e mentalidades. Nestes grupos, cada qual tem de conquistar o seu próprio papel, de descobrir e de se fazer descobrir, para além da primeira impressão de antipatia ou simpatia.
Aqui aprende-se, pelos olhares e comentários, nem sempre benévolos mas cruelmente sinceros, a reconhecer aquilo que de si próprio agrada aos outros, e aquilo que afasta ou aproxima deles.
Naturalmente que o grupo dá tanto mais quanto mais elevadas são as motivações que o reúnem.
«A associação para o braço de ferro feminino» (se existe) talvez não ofereça muito a respeito do estilo e da elegância!
Não bastará a escola? Não chega, porque nela podemos andar apenas com os três que pensam da mesma maneira. Os «grupos mãe» não ajudam a superar a mãe. E é preciso estar atentos, porque os adolescentes tendem a refugiar-se neles.
Servem grupos que ajudam a passar sem o grupo. O grupo é como a família: tanto melhor quanto mais ajuda os filhos a passarem sem ela, a
crescerem e a tornarem-se independentes.
Também isto custa, mas que alegria quando nos damos conta que aqueles quatro cabelos rebeldes, que nos fazem sofrer diante do espelho, são vistos com simpatia; que aqueles dez centímetros a menos de altura que nos fazem dizer mal dos nossos antepassados, só nós é que lhes damos importância.
Recordai: nós vemo-nos como os outros nos vêem, e os outros vêem-nos como nós os vemos. Não é um trava-línguas. Se nós nos aceitamos, os outros aceitam-nos. Se os outros nos aceitam, aceitamo-nos mais. Se nós nos aceitamos mais, os outros aceitam-nos ainda mais. Se os outros… continuai vós. Este é o caminho para viver serenos com o próprio corpo.
E Jesus fica calado?
Infelizmente, muitos adolescentes estão habituados a pensar em Jesus como aquele que proíbe as criancinhas de ir ao açucareiro, e portanto custa-lhes a perceber que o Evangelho tem boas notícias a dar aos que andam preocupados com o próprio corpo. De facto, Jesus tem propostas lindas para os adolescentes a viver uma relação de amor-ódio com o próprio corpo.
Experimenta reflectir uns instantes sobre estas propostas:
Cada um de nós é pensado por Deus de modo único, original, irrepetível.Ninguém é feio, ninguém é feito por engano. Também o adolescente em carrinho de rodas é «belo» e não é autorizado a desesperar, como ninguém é autorizado a lançar-se no caixote do lixo. Se partíssemos da aceitação desta proposta, evitar-se-iam muitos desesperos, muitas lágrimas, muitas tragédias.
Atenção, porque a «casta dos belos», estabelecida pelos organizadores dos concursos de beleza, é cada vez mais selecta e são sempre cada vez menos os que podem pertencer a ela.
Devemos reagir: todos somos belos, mesmo se todos devemos melhorar para fazer resplandecer a beleza de Deus que está em nós.
A imagem de Deus não se limita ao corpo.
Há algo dentro de nós que pode e deve completar esse algo que pode faltar na fachada, no exterior. Saber dar um sorriso alegra mais que ter um rosto sem furúnculos. Saber dar simpatia vale mais que umas ancas elegantes.
Quem julga que pode conseguir a felicidade por si só, talvez gastando o espelho, engana-se.
É tornando-se «próximo» de todos que se chega a estar contentes consigo próprio, mesmo com umas pernas tortas.
Aceitar estas propostas cristãs acerca do corpo dá-nos, além do mais, a capacidade de ter um pouco de bom-humor e de auto-ironia que nascem do sentido da medida e que são a melhor defesa contra as crises e o desconforto.
Somos imagens de Deus, mesmo se não podemos pintar as unhas, porque as roemos.
Somos imagem de Deus, mesmo se temos umas orelhas de abanador.
Somos imagem de Deus mesmo se uma mancha negra na barriga nos impede de andar em bikini.
Somos filhos de Deus. A beleza está aqui.