Time-out
Sugerimos a comparação com o “time-out” (desconto de tempo) que há no basquetebol ou voleibol. Imagina que és o treinador. A equipa está em campo, mas não está a marcar
pontos. Falham nos passes, começam a ficar nervosos e deixam de seguir a estratégia definida… Então, decides pedir um “desconto de tempo”. É um tempo para reunires os jogadores à tua volta. Enquanto eles recuperam o fôlego, escutam as indicações que lhes dás. Corriges os passes, clarificas as ideias, reorganizas a equipa e as suas posições em campo e, sobretudo, dás-lhes um novo entusiasmo para entrarem em campo com uma atitude vencedora.
Parar o jogo
No tempo de retiro saímos do terreno de jogo. Ficamos ao lado do campo. Não esquecemos o jogo, mas vamos para um lugar diferente para podermos ouvir, fazer silêncio e regressar ao campo com energia renovada.
Ouvir
O jogo pára para se escutar. Quem fala? Quem orienta o retiro (o catequista, o pároco, um animador convidado…).
Mas não fala de si…fala em nome de Jesus, o verdadeiro treinador que se deve escutar com atenção. O retiro é o tempo em que Jesus tem mais tempo de antena. É importante termos esta atitude de escuta!
Recarregar e recomeçar
O retiro é um tempo para recarregar baterias, para recuperar as forças. Serve para recomeçar a fazer as coisas que fazes habitualmente mas recarregado, com “pilhas novas”, com entusiasmo. É também o tempo para meter no lugar, para corrigir, algumas coisas na tua vida que não estão bem.
Cuidados prévios
• Um retiro exige uma preparação cuidada. É ela que ajudará os destinatários a perceber se estão numa atividade para levar a sério ou numa oportunidade de borga. O tempo de preparação e reunião de materiais é normalmente superior à duração do retiro.
• Define claramente o objetivo com que o vais fazer. Se é para cumprir calendário, esquece. Define aonde queres chegar. Só assim poderás escolher os textos e as dinâmicas para o retiro.
• Local: O retiro pode ser organizado em locais pagos
(casas de retiro) ou parques públicos gratuitos. Se o grupo for pequeno, até pode ser feito numa casa particular de um membro da comunidade. O importante é que o local seja diferente do habitual. Que tenha condições de silêncio, espaços para reflexão pessoal e para atividades de grupo. O ideal é que haja espaços ao ar livre e cobertos, caso chova. Dá preferência a casas que tenham capela.
• As necessidades logísticas do espaço dependem da duração do retiro. Se for para dormir, verifica que há salas e casas de banho para rapazes/raparigas.
Tem camas ou é necessário levar colchões? Há roupa de cama e toalhas ou temos de levar de casa? Pode cozinhar-se? Tem sala com facilidades audiovisuais?
• A duração depende do teu grupo e da vossa disponibilidade. Pode durar um dia ou um fim-de-semana.
• Não tenhas medo de ser exigente e de lhes fazer propostas sérias. O retiro é, por si só, um momento de ambição pastoral.
• O tempo de grupo é importante e a mudança de ambientes e rotinas pode reforçar os laços entres os membros. Mas favorece o trabalho pessoal. Momentos em que possam confrontar-se consigo mesmos, para pensar, fazer tarefas e rezar. Por isso, explica (no momento em que lhes propões o retiro) que será importante usar-se o telemóvel de forma regrada.
• Cria ambientes convidativos. Decora a sala de reunião geral com cartazes ou símbolos alusivos ao tema; no espaço de oração coloca velas e música de fundo…
• Encerra o retiro de forma marcante e celebrativa. Num momento de oração e partilha para que cada um possa dizer ao grupo a descoberta que fez ao longo do(s) dia(s).
Retiro passo-a-passo
Podemos dizer que o retiro tem a mesma estrutura que uma sessão de catequese.
Acolhimento
Que seja um momento de festa, para que todos se sintam acolhidos, motivados e confortáveis. Eis algumas sugestões:
• Jogo de exterior, como uma caça ao tesouro
• Jogos de conhecimento que envolvam música
• Ensaio do hino do encontro ou de cantos para os momentos de oração e celebração
• Partilha dos horários
• Oração da manhã
• Apresentação do tema
• Entrega de algum símbolo ou documento do retiro
Experiência humana
Depois, segue-se a experiência humana. É a partir da nossa vida que nos pomos em contacto com a Palavra de Deus. É bom que os participantes percebam a sua situação, as suas vivências, a sua experiência real. Isso pode ser feito através da reflexão, do olhar para dentro… Mas também através de experiências e dinâmicas, feitas no momento, que favoreçam a consciência de si.
Anúncio da Palavra
É neste momento que podemos escutar o que Ele tem para nos dizer sobre a nossa condição. Sendo o retiro um tempo de escuta, deves colocar a tua criatividade na apresentação da Palavra.
• Traz para o retiro objectos que ajudem a visualizar e evocar as cenas e personagens da(s) passagem(ns) Bíblica(s) que escolheste. Por exemplo, se vais trabalhar sobre a Eucaristia, recria um ambiente de última ceia. Se te vais centrar nalgum profeta, coloca junto da Bíblia um cajado.
• É a partir da Palavra que se desenvolvem as activi dades de trabalho individual.
• Mediante a idade dos participantes e objectivos do retiro, propõe, por exemplo, perguntas que ajudem a uma (re)leitura atenta da Palavra: quem são os personagens? O que é que cada uma faz? O que é que acontece?
• Lança perguntas que desafiem e façam reflectir:
Perante esta situação, onde é que eu me posiciono?
Com que me identifico mais? Que Jesus me é aqui apresentado? Neste caso, sugere uma lista de palavras que os ajude a orientar a reflexão (carinhoso, indiferente, atento, solidário, distraído…)
• Fornece-lhes textos que ajudem a aprofundar a reflexão. Por exemplo, comentários aos evangelhos, encíclicas, homilias do Papa Francisco, crónicas do jornal, etc.
• Procura que a reflexão seja, de alguma forma, sistematizada numa partilha concreta a partir da leitura das perguntas de reflexão ou através de alguma técnica (nem sempre as partilhas livres e abertas resultam, porque há a vergonha e o medo de se expor).
Ex.: Escrever anonimamente um tweet num papel a ser colocado numa caixa. Na partilha, um de cada vez retira um papel, lê e comenta.
Expressão de fé
Conclui-se com a expressão de fé, um tempo onde interiorizamos o que descobrimos e nos dispomos a mudar.
• Procura que cada tema se conclua com um momento de interiorização. Pode apenas ser através de um canto simples, da escuta de uma música, de uma curta metragem ou excerto de um discurso do Papa Francisco.
• Convida a que as partilhas sejam sintetizadas em petições: “Eu sei que preciso de ter mais fé. Senhor, ajuda-me a ter mais confiança em Ti.”
• Convida à realização de um compromisso simples e concreto.
• Entrega um símbolo que recorde esse compromisso e o tema do retiro.
Na expressão de fé, é importante dar espaço a uma celebração digna, profunda e festiva dos sacramentos da reconciliação e da eucaristia.
Regressar ao campo
O retiro acaba sempre em festa. Estivemos num “desconto de tempo” e é tempo de regressar ao campo, com entusiasmo.
Decididos a vencer! Convoca os pais para o almoço ou lanche final. Desta forma, poderão perceber o espírito que se viveu durante o retiro.
Não te esqueças! Ainda no retiro, ou no decorrer da semana seguinte, faz a avaliação da atividade junto do grupo e da equipa que preparou contigo esta atividade.
Nota: Existem no mercado várias propostas concretas de retiros. Poderás usa-las na íntegra ou como fontes de inspiração, adaptando-as à realidade do teu grupo.
Para terminar: Os retiros são tempos de paragem. Por isso mesmo, podem ser experiências estruturantes na fé dos catequizandos. Daí que valha a pena organizar pelo menos um no decorrer do ano catequético
Artigo retirado do livro Sou catequista…e agora?
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