Quando a roupa não é de marca

Não me posso dar ao luxo de ter roupa de marca. Trabalha apenas o meu pai e somos três filhos. A minha mãe tem umas mãos de fada: sabe costurar e faz roupa igual à que vem das fábricas, com etiqueta de marca. As minhas amigas, porém, não se convencem e, embora não me digam nada directamente, fazem com que eu sinta o facto de não vestir roupa igual à delas. Dizem-me coisas que me ferem como um punhal: «Que linda saia! Estava quase convencida que era de marca».
Às vezes, sinto-me como a pobre gata-borralheira, e desejaria fugir, deixando ali mesmo não apenas os sapatos! Que posso eu fazer para superar este sentimento de inferioridade que eu, a pensar friamente, considero verdadeiramente estúpido?».

Não deixemos a cabeça!

Se fosse apenas questão de deixar os sapatos, menos mal. O pior é que, em certas situações, se pode deixar, inclusivamente, a cabeça. E isto seria um desastre!
Não há motivos para rasgar as vestes por estes curiosos sentimentos de vergonha que vêm da parte errada, pois quem se deveria envergonhar eram os outros. A pressão social é de tal maneira forte que não é fácil resistir. E o fenómeno não se limita apenas às roupas. Antes fosse! Conheço rapazes e raparigas que se envergonham porque estudam, enquanto os seus colegas passam o tempo a aquecer o banco e a chamar nomes aos que cumprem o seu dever. Há, inclusivamente, rapazes e raparigas que se envergo­nham, porque os seus amigos têm a coragem de se drogar, e eles pelo contrário…

O antídoto

Como fazer? Conheço um único meio: jogar ao ataque. Recordai alguns jogos de futebol que tendes visto. Uma equipa desce ao relvado para defender o zero a zero e, à força de atacar, acaba por sair com uma vitória.
Se uma jovem se apresenta no grupo das colegas que vestem na última moda (estava para dizer amigas, mas não seria correcto) de cabeça baixa, sairá do campo derrotada, como se um pugilista se apresentasse ao combate com as mãos nos bolsos. Se, pelo contrário, a jovem entra no círculo com um olhar alegre e trocista dirigido a essas etiquetas de marca que têm apenas como finalidade quadruplicar o preço, elas calar-se-ão certamente.
«Vejam que linda saia! Estava quase convencida que fosse de marca!».
«Mas não sou assim tão estúpida para ir comprar por vinte o que posso comprar por cinco!».

A couraça das convicções

Disse alguém: «Se uma pessoa não tem coragem, ninguém lha poderá dar». É um erro. A coragem pode e deve dar-se. Mas como? Dando convicções.
Não se pode pretender que uma cana não se vergue ao vento. Mas, se a ligas a uma robusta vara, o vento nada conseguirá. As convicções são como uma vara que dá espinha dorsal à cana. «A minha mãe sabe fazer roupa em tudo igual à que se vende nas lojas. Viva a minha mãe e abaixo as etiquetas de marca!»
O que torna uma opção justa não é a decisão da maioria, mas a força da lógica.
«O corpo vale mais que o vestido».
«Apenas os fracos e os ocos se sentem em segurança dentro do recinto do rebanho. Os fortes e os inteligentes não precisam de muletas».
«Digam o que disserem, eu sinto-me bem com o que considero justo».
Frases como estas, meditadas e feitas próprias, tornam-se num dique contra a aluvião dos ocos

E um pouco de humildade

Existe ainda uma outra solução, sábia e prudente, sobretudo para tomar quando não nos sentimos suficientemente vacinados… E um jovem nunca o está suficientemente contra a pressão das modas.
A solução está em escolher, com cuidado, os amigos e as amigas. A amizade exige, entre outras coisas, uma partilha das mesmas convicções. Numa sociedade pluralista e de convicções violentamente diferenciadas, quem não quer acabar como o peixe fora da água, deverá escolher bem as suas amizades.
Recordo um pobre rapaz que, tendo entrado num grupo de amigos da alta roda, obrigou os pais a pedirem dinheiro para lhe comprarem um todo-terreno, porque «Os meus amigos todos têm!».
Quereis saber como acabou a história? Na pri­meira ocasião, para lhe pregarem uma partida, aqueles «amigos», que podiam comprar quantos todo-terreno desejassem, desmontaram o carro todo ao seu «amigo». Pobre rapaz!
Mas pode acontecer pior ainda, quando se trata não simplesmente da roupa de marca ou do jipe, mas das próprias convicções e da própria dignidade.
Portanto, muita atenção!

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