Quando tudo é aborrecido

«Vivo numa pequena cidade da província. Que aborrecimento! Para nós, jovens, não existe nada. Uma aborrecidíssima discoteca, uma chatíssima sala de jogos, uma maçadora praça central para passear, os costumados bares, os costumados jogos de futebol. Se um tem treze anos, então é melhor que vá dar uns mergulhos no rio que, entre outras coisas, está poluído.
Todos os dias nos trazem uma estopada de coisas sempre iguais. É possível que não se possa fazer nada para nos divertir a nós, jovens?».

O aborrecimento é como a febre

Apetecia-me responder: «Muda de residência e transfere-te para uma outra cidade». Mas não o faço porque, passados alguns meses, chegar-me-ia uma outra carta: «Vivo numa grande cidade. Que aborre­cimento!» De facto, aprendi que o aborrecimento não é como um insecto incomodativo que pode ser eliminado com uma nova marca de insecticida, mas é como uma febre: é preciso combater as causas que estão «dentro» do organismo.
Conheço muitos jovens, rapazes e raparigas, que passam o dia a bocejar, arriscando-se a ficar com os maxilares escancarados. Esses conhecem uma única canção: «Que fazemos hoje? Onde vamos hoje? Aqui nunca se faz nada! Uffa, sempre as mesmas coisas!».
Entre um refrão e outro, andam ansiosamente à procura de uma discoteca mais «okay», de um bar mais atraente, de um desporto que faça emagrecer e fortaleça os músculos sem cansar, de uma sala de jogos bestial. Seguem-se momentos de excitação e depois, de novo, o aborrecimento.
Conheço outros jovens, rapazes e raparigas, que não têm um minuto de tempo para estar parados: devem ir para ali, devem correr para acolá; devem lembrar-se que às 15…; devem acabar de fazer, devem tratar de começar.
Onde nasce esta diferença? Não há dúvidas: não está no certificado de residência.

O empregado e o artesão

Vi tantos empregados (sobretudo da função pública) aborrecidos durante o trabalho. Olham continuamente para o relógio, levantam-se, sentam-se, cortam as unhas, pegam no jornal, esticam os braços, limpam as lentes dos óculos e, para concluir, bocejam.
Nunca vi um artesão a aborrecer-se. Cansar-se, sim, mas não aborrecer-se. Os artesãos olham também para o relógio, mas com medo que o tempo passe muito depressa.
Onde está a diferença?
O empregado espera por alguma coisa que vem do exterior (o ordenado no fim do mês), e o artesão tira para fora qualquer coisa de dentro de si próprio.
E aqui temos um primeiro conselho: viver as horas, os dias, os meses, não com a mentalidade de empregado mas com a de artesão.
Devemos interrogar-nos continuamente: Desta hora de tempo livre, deste passeio com os amigos, deste filme que estou a ver, deste jogo que estou a fazer… que posso mostrar de meu, de novo, de interessante?
Juro-vos que, se uma pessoa enfrenta o quoti­diano com a mentalidade do artesão, em qualquer momento da vida, nunca saberá o que é o aborre­cimento.

A vida no supermercado

Infelizmente, demasiados jovens, rapazes e raparigas, estão a deixar-se convencer que a vida é como uma visita ao supermercado. Pega-se no carri­nho, passeia-se entre as estantes, enche-se de produtos com nomes publicitados sempre mais extra, super, super-extra. Depois damo-nos conta que, com etiquetas diferentes o sabor é sempre o mesmo. Então vai-se à procura de um supermercado mais bem fornecido. Mas falta sempre qualquer coisa.
Eis estes jovens com o carrinho, à procura de um produto anti-aborrecimento: uma discoteca mais chique, um bar com balcão americano, o último desporto oriental, a última ginástica miraculosa, o último corte de cabelos, o último par de sapatos…
Resultado: outra vez os bocejos e o insecto do aborrecimento continua o seu zumbido perturbador.
Não digo que a discoteca, o ginásio, a sala de jogos, a pista de patinagem, a piscina não sejam úteis. Afirmo que, se um não tem a mentalidade do artesão, de pouco servem.
O tempo não é um saco para encher, mas uma obra a construir.
Já vistes aquelas crianças que têm o quarto cheio de brinquedos super-espaciais? Olham algum tempo para eles e depois atiram-nos para longe.
Estas mesmas crianças, deixadas sozinhas no pátio de recreio, brincam durante horas e horas com a areia, com a erva e com um pau seco.
Tendes uma hora livre? Perguntai-vos: «Que quero fazer? Que quero experimentar? Que desafios quero enfrentar? Que pretendo descobrir?».
Então, agora, atirai para longe os «brinquedos» que andam por si sós, porque trabalham a pilhas, e ide para o recreio brincar com um «pau seco» (um amigo, o grupo, uma experiência, um jogo, um livro…) e dai-lhes vós a energia.

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