A seu tempo tudo compreenderás!

Quero saber por que a beleza da natureza é tão perfeita e a humana parece-nos que poderia ser sempre melhor.

Quero saber os segredos, não os do Universo pois não sou assim tão ambiciosa, mas aqueles que se escondem nos corações daqueles que me são próximos. Não por curiosidade, mas por intuir que Deus está nesses segredos.

Quero saber por que razão todos os caminhos vão dar a Roma, mas nem todos levam ao coração humano. Será que Roma é mais importante do que um coração? Não me parece…

Quero saber por que razão todos sabemos que “amar e ser amados” é a via da felicidade, da salvação, mas não a ousamos seguir. Temos receio de amar, de nos darmos totalmente aos outros, fechamo-nos no nosso casulo, não deixando que os outros nos amem.

Somos capazes de fazer coisas extraordinárias, inventar e ser “Magalhães”, ir à Lua, mergulhar nas profundezas do oceano. Mas não temos coragem de amar. Sinceramente não entendo a razão.

Quero saber por que é que as nossas lágrimas têm sabor a mar e não a rio. Talvez seja por nós devermos ser o sal da Terra.

Quero saber por que razão a dor bate à nossa porta (quanto tem educação para tal), entra sem ser convidada e instala-se em nós para nos roubar a paz. Como se aprende a lidar com esse intruso? E como é que ele sai de nós, sem de facto nunca mais nos esquecermos das marcas que nos deixou.

Quero saber qual a distância que separa uma lágrima de um sorriso, o estar no fundo de um poço e o estar completamente nas nuvens. Como é que descemos e subimos tantas vezes? Como se fossemos balões enchidos à pressão, que mais tarde ou mais cedo vão voltar a cair. Será a força da gravidade que nos atrai para o abismo?

Quero saber as razões que levam a que existam tantas pessoas a viverem em guerra, a passarem fome, a estarem desempregadas…

Mas preocupa-me mais não entender o motivo que leva tantas outras a ficarem sentadas, confortavelmente num sofá, a olhar a miséria alheia e a pensar: Ainda bem que não é nada comigo!

Quero saber porque as pessoas têm de morrer. Para onde vão elas? Qual a razão de, apesar de até acreditarmos que elas ressuscitam, a nossa dor não ser menor e as lágrimas sejam difíceis de reter quando perdermos alguém? Talvez seja por não acreditarmos no invisível?

Às vezes durante a noite, como esta, acordo com uma voz a sussurrar ao meu ouvido: Graça, Graça! Tento fazer de conta que não é nada comigo, coloco até a almofada sobre a cabeça, para não a escutar. Mas entretanto as palavras despertam dentro de mim e começam a fazer um discurso tão lógico, tão coerente, que não resisto a levantar-me para as poder escrever.

O que quero saber é por que a inspiração, Deus, ou seja lá quem for que me impele a escrever, não o pode fazer a horas mais decentes?

Quero saber por que motivo quando escrevo um poema ou romance, mais tarde descubro que alguém já tinha escrito o que era para mim original. Quem plagiou quem? Na vida não existem plágios, o que acontece é que temos um fundo genético e espiritual comum, que faz com que pensemos, sintamos, sonhemos, com as mesmas coisas que são essenciais ao ser humano. Afinal fomos criados à imagem e semelhança de Deus!

Preciso de saber tanta coisa, mas ninguém me dá respostas.

“A seu tempo tudo compreenderás!” (Esta frase tenho a certeza que alguém a disse antes de mim, por isso a coloco entre aspas.)

Tenho pena de ainda não ter acertado o meu relógio pelo tempo de Deus, que nem ponteiros tem.

Um dia, no dia mais claro da minha existência, vou compreender tudo isto. Mas, então, estarei longe daqui. Nessa altura já não terei mãos, nem papel, nem caneta, para escrever as respostas às minhas dúvidas. Por esse motivo não poderei enviar uma carta a todos aqueles que procuram, como eu, o sentido da vida e da morte.

Terão de esperar mais um pouco para contemplarem a plenitude do Amor de Deus!

Até lá vivam intensamente, como se não fosse importante compreender tudo o que vos acontece.

 

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