O vaticano II e o pós-vativano II têm insistido muito (e bem) na unidade da pastoral.
Pastoral é tudo aquilo que a Igreja faz na continuidade dos gestos salvadores de Jesus e animada pelo Espírito do Ressuscitado.
Isto foi um grande adquirido. Alfabetizar é tão pastoral como rezar o breviário.
Mas surgiu um efeito inesperado. É que este sentido de unidade
tornou-se, em muitos campos, igualitarismo: Se alfabetizar, defender os
direitos humanos dos povos é o mesmo que rezar… já não é preciso
rezar. Ou considerar que a Eucaristia é a expressão mais alta de louvor
e eliminar todas as outras.
Penso que esta standartização nunca esteve na intenção do concílio.
E ela tornou-se ainda mais perniciosa quando as comunidades cristãs se tornam mais plurais: etnicamente e culturalmente.
Antigamente, acabava por haver, nas paróquias, mais variedade de
ofertas (ao menos ao nível ada liturgia): havia a missa que poucos
entendiam, novenas disto e daquilo, adoração ao Santísimo… Hoje
parece que só se pode celebrar a Eucaristia. Mas como as pessoas
persitem em ser diferentes, em ter caminhadas humanas e de fé também
diferentes, as pessoas não usufruem da mesma forma da liturgia.
E aí alguns começam a gritar: Há que inculturar, adaptar a liturgia às pessoas reais.
Ao que outros, assustados com algumas barbaridades litúrgicas,
respondem: com tanta inculturação ainda acabamos a celebrar com
coca-cola!
Exemplos semelhantes podem ser encontrados em todas as áreas da pastoral.
Se calhar em Portugal não se nota tanto porque somos gente pacata
(ou desinteressada), mas lá fora estas questões trazem sérios conflitos
e graves divisões às comunidades.
Qual é o problema?
Parece-me que por detrás de ambas as posições está a convicção da verdade única.
Tendem ambos os partidos a achar que só há uma forma de estar na Igreja.
Ou se está ou não está na Igreja. E para quem está na Igreja
(tratados todos com a mesma medida) aplica-se o mesmo tratamento (na
liturgia, na oração, na catequese…)
Ora isso não é verdade.
A noção de iniciação cristã ajudou-nos a perceber que há um caminho a fazer até à maturidade da fé.
E a tradição e os documentos do magistério (directório de
catequese, ritual de iniciação cristã de adultos…) insistem em tratar
de modo diferente o que é diferente.
Não tem sentido nenhum propor/obrigar alguém que não é adulto a
comer comida de adulto. Não tem sentido alimentar um adulto a papas de
3 meses.
Exemplo: A Eucaristia é o que é. Claro que deve ser feita toda a
inculturação (para cumprir o critério da dupla fidelidade à revelação
de Deus e ao destinatário). Mas ela só tem sentido para quem tem a fé
adulta da Igreja.
Imagina agora um par de noivos, vagamente cristãos, que pedem missa no
casamento para ficar bonito. O padre bem pode esforçar-se por ser
significativo mas os factos são irredutíveis. Celebra quem tem fé e é
capaz e quer unir-se ao Cristo presente no altar. Não seria preferível
tentar outra coisa mais adaptada a estes noivos? Para respeitar as suas
opções, os seus ritmos de caminhada? E para respeitar a verdade da
Eucaristia?
Não se trata de descriminar ninguém. A verdade é que eles até
terão alguma fé. Não será que uma celebração da Palavra não seria mais
adequada.
Há anos combatia-se a ideia de uma Europa a duas velocidades.
Não será tempo de aceitar que as pessoas caminham na fé a diferentes velocidades.
O Cristo para quem caminham, O Reino que tentam construir é sempre o mesmo.
Mas aquilo que faz sentido em cada momento varia conforme o grau de caminhada.
Aterrando na catequese…
Se a pessoa está em fase de conversão, que sentido tem discutir a dimensão escatológica da doutrina social da Igreja?
Não será preferível respeitar o seu ritmo, estimulá-lo e não
impor-lhe a aparência de fé e uns conteúdos que são apenas noções e não
vivida e sentido?
Parece que andamos à procura da catequese perfeita para tudo em todos os tempos.
E os documentos do magistério têm-nos ajudado a ver que isso não
faz sentido. Até o documento "Para que acreditem e tenham vida" fala
disso.
Há etapas diferentes, com objectivos e conteúdos diferentes, com
métodos diferentes, com ritmos diferentes, com pautas de avaliação
diferentes.
É esta capacidade de distinguir que permite ao mesmo tempo
preservar a unidade da acção eclesial (a pastoral ou a evangelização) e
o respeito pela crescente pluralidade de situações.
E é interessante observar como tantas igrejas evangélicas vão aceitando este conceito assumindo a sua origem católica.
Por isto tudo passo-me quando me aparece alguém quepede que os
novos catecismos sejam capazes de fazer ao mesmo tempo primeiro
anúncio, catequese e discernimento vocacional.
Passo-me quando o 1º volume, que era suposto servir como despertar
religioso, (para se justificar?) mete lá mais conteúdos do que muitos
livros de teologia.
Cfr catequese 27 (parece-me) sobre a oração: para falar da oração vão buscar Maria a rezar o magnificat.
Não será areia de mais para a camioneta dos miúdos?
Passo-me quando se persiste em falar DA (única) pastoral juvenil. Como
se não houvesse jovens que nunca ouviram falar do Evangelho ou que
estão cheios de preconceitos, jovens depois de escutar o primeiro
anúncio se vão convertendo, jovens que procuram aprofundar as razões da
sua opção por Cristo através da catequese, jovens que com autonomia se
integram na vida e acção das comunidades.