É o mesmo desafio que hoje a Igreja confia aos catequistas.
Uma resposta antiga e nova
Ao lermos o Novo testamento, não percebemos logo como é que isso acontecia nas primeiras décadas da Igreja. Vemos pessoas que se convertem ao Evangelho e que se juntam em comunidade no empenho de continuar a missão de Jesus. Mas os detalhes são poucos. Mas pouco tempo depois de o NT estar escrito, começa-se a difundir o modelo da Iniciação Cristã. E foi este modelo que se manteve com qualidade até ao final do século V.
A iniciação
A iniciação é um processo que muitas sociedades usam para admitir os mais novos como membros. Consiste num tempo de preparação, onde o candidato aprende as tradições e valores do grupo e mostra que é digno de integrar o grupo superando algumas provas.
A iniciação é um momento muito importante nas sociedades ditas primitivas, onde os laços são muito fortes e onde todos se conhecem uns aos outros. Na sociedade complexa onde cresceu e se desenvolveu o cristianismo, a iniciação ao grupo dos cristãos ganha uma importância extra, pois permite assegurar uma identidade cristã forte num mundo plural e hostil aos seguidores de Jesus. A iniciação não servia apenas para garantir a entrada no grupo; servia também para assegurar uma adesão forte e comprometida, face à “concorrência” de outras religiões, face aos desnorte moral da sociedade e face à tentação totalitária do estado imperial.
Socialização
Com o passar do tempo, a fé cristã foi moldando a sociedade, os seus valores e as suas leis. De algum modo, a Igreja julgou que o edifício social, os hábitos e tradições sociais, seriam suficientes para transformar as novas gerações em cristãos. A ideia era que tudo o que configura a vida (os calendários, as leis, os valores…) ajudasse as pessoas a aderir ao Evangelho.
Este modelo ganha força na Idade Média e mantém algum vigor até hoje. Em alguns momentos e regiões teve sucesso: foi realmente capaz de moldar a vida das pessoas e de as levar a viver de acordo com o Evangelho. Ajudou os povos bárbaros a “acalmar”, contrariou a tendência a resolver os problemas com a força das armas, ajudou a Europa a recuperar do caos que se seguiu ao fim do império romano.
Mas para funcionar, o modelo da socialização, exige uma sociedade homogénea; uma sociedade onde todas as forças apontam na mesma direcção. O que, hoje, é completamente inviável.
Instrução
Com o fim da Idade Média, perceberam-se os limites do modelo da socialização. O mundo alargava-se com a descoberta de novos povos e continentes, as ciências prometiam explicar tudo, a imprensa, recém-inventada por Gutemberg, favorecia a divulgação de ideias mais plurais, o movimento cultural da Renascença ajudou a perceber que muito do que se julgava ser fé cristã não passava de superstição. É neste contexto que surgem Lutero e os protestantes. De repente, a Igreja vê-se dividida. Não bastam já a pressão social e o hábito para assegurar a fé. Do lado católico e do lado protestante, reconhece-se a importância de “conhecer a fé”; e entramos na época de ouro dos catecismos. A grande convicção é que a fé nasce de “ideias claras e distintas” sobre a fé. Não basta já ter uma família e uma sociedade que vivem (ou, aparentam viver) à moda do Evangelho e que transmitem os seus valores por osmose. É necessário que cada um seja capaz de conhecer a fé cristã com correcção doutrinal. O caminho para ser cristão exige o conhecimento do catecismo.
Ao longo dos últimos 500 anos, este modelo de instrução tem sido o dominante. E toda a renovação didáctica dos últimos 70 anos tem mantido a mesma convicção: para ser um bom cristão, bastaria conhecer bem a boa doutrina.
O regresso da iniciação cristã
Nos últimos 70 anos tem havido, um pouco em todas as latitudes, uma renovação da catequese. Depois do Vaticano II, reconheceu-se que era necessário procurar novas respostas para o desafio de formar novos cristãos nos contextos de missão, que nunca tinham conhecido o regime europeu de cristandade. Em 1972, Paulo VI aprovou o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos. Este documento, pensado em primeiro lugar para os adultos e para as missões, recuperou as práticas de iniciação cristã da Igreja antiga. Alguns mais distraídos interpretaram isto como um regresso ao passado. Mas, a pouco e pouco, em todos os continentes, dentro e fora da Igreja Católica, são cada vez mais as comunidades que encontram no modelo da iniciação cristã uma resposta credível ao desafio de formar as novas gerações de discípulos de Jesus. A iniciação cristã permite formar cristãos competentes em todas as tarefas da existência cristã (fé, vida moral, oração, celebração). Favorece uma integração efectiva na comunidade cristã. Responde aos desafios da sociedade complexa do século XXI.
Para a mudança
São cada vez mais os documentos da Igreja a recomendar o modelo da iniciação cristã. A nível universal, temos o Directório Geral de Catequese; a nível português temos o Para que acreditem e tenham vida. Mas, como em tudo na vida, há o risco de usar um nome que está na moda (iniciação cristã) e deixar tudo na mesma, continuando a usar sem entusiasmo as mesmas rotinas de sempre.