Ano A – II DOM da Páscoa
«vimos o senhor! Meu senhor e meu deus»
O Evangelho do segundo Domingo da Páscoa coloca-nos no dia de Páscoa «no primeiro dia da semana». E com duas aparições do Ressuscitado. Depois de Maria Madalena ver o sepulcro vazio e de correr a dizer aos apóstolos; depois de terem visto o sucedido e tendo voltado para casa; depois de Jesus aparecer a Maria Madalena e esta anunciar aos discípulos, Jesus mostra-se aos seus discípulos e em seguida, de novo aos discípulos com Tomé, num lugar fechado, já na tarde desse dia.
A passagem de S. João leva-nos de encontro ao tema do “ver” o Senhor. Já não é o Senhor morto, mas vivo. Jesus é o Ressuscitado. Colocando debaixo do olhar dos discípulos os sinais da Sua paixão e morte, Jesus faz-lhes compreender que a paz e o Espírito provêm da entrega da Sua vida; permite-lhes entrar no mistério de amor do Crucificado- Ressuscitado. Com estas manifestações, João diz que a fé dos discípulos cresceu com o olhar sobre Jesus: «Vimos o Senhor». Um olhar comunitário que sustenta a vivência da fé. Então compreenderam quem era: O Cristo. Um olhar que elimina todo o passado, todo o medo, toda a dor e faz brotar um grito de total confiança e de amor, como aconteceu a Tomé: «Meu Senhor e meu Deus». E aqui entramos nós: «felizes os que acreditam sem terem visto». Apoiados no ver dos discípulos acolhemos a mensagem pascal de encontrar o Ressuscitado na fé. Entramos no mistério de amor, porque o Amor não se vê, mas quem ama sempre o Amor, vê-se!
Evangelho segundo S. Mateus (Jo 20, 19-31)
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, Chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.”
segunda-feira
Palavra
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles…»
O encontro entre o Ressuscitado e o grupo dos discípulos acontece na tarde do primeiro dia da semana. O dia que Jesus anunciou «Nesse dia, compreendereis que Eu estou no meu pai e vós em Mim e Eu em vós» (Jo14, 20). Encontramo-los reunidos em casa, com as portas fechadas; nem com os sinais já anteriormente vistos (sepulcro vazio, anúncio da Madalena, os panos de linho dobrados…) conseguiam perceber o significado daquele dia. Com medo e tristes, a comunidade esconde-se e não têm a coragem para dar a cara publicamente por Jesus condenado e crucificado. E na tarde daquele dia… sentem a ausência de Jesus. Não lhes basta saber que Jesus ressuscitou. A experiência da noite passa pelos seus corações: não há esperança, tudo parece terminado, assalta-lhes a incredulidade. Mas eis o grande acontecimento: «veio Jesus» e toma a iniciativa, coloca-se no meio deles e manifesta-se.
Meditação
Não estamos muito longe da experiência dos discípulos. O primeiro dia da semana, hoje na agenda de muitos de nós, é o “último dia”. A dificuldade em compreender o mistério pascal, leva-nos à experiência da “tarde”: assalta-nos a dúvida, o medo de dar razões da nossa fé, de a manifestar, a insegurança, a vergonha; preferimos talvez esconder-nos; mas é na nossa “tarde”, na nossa casa de portas fechadas, no nosso medo que Jesus vem e nos resgata da opressão e das trevas que atormentam o nosso coração. Coloca-se no meio de nós, sua comunidade, como Ressuscitado. Já nada impede a relação connosco, seus amigos. A ressurreição põe Jesus numa outra dimensão, de plena liberdade e de plena relação entre nós e Deus. Ele manifesta-se não para celebrar a vitória mas para nos convencer que há uma vida nova… uma vida em Deus!
Oração
Senhor, com a Tua ressurreição, o convite é viver como ressuscitados. Tu que conheces cada recanto do meu ser, vem espalancar as portas da minha casa, manifesta-Te no meu quotidiano porque Tu disseste: «Não vos deixareis órfãos. Eu virei a vós. Ainda um pouco e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis porque Eu vivo e vós vivereis.» (Jo14, 19)
Acção
Cada Domingo é um encontro com Cristo Ressuscitado. No dia de hoje interrogo-me se o Domingo é de facto o meu primeiro dia; num tempo que encontre tentarei identificar quem são os “judeus” que me fazem estar em “casa” com medo, e na verdade da procura tentarei responder porquê.