6. Meditação
A cruz, sinal do amor universal de Deus” (NA,4). O chamamento de Jesus tem as suas noites e a sua escuridão. É neste espaço de tempo que cresce a fé e se aprofunda a interioridade.
Santo Agostinho desabafava com o Senhor: “como é que eu Te procurava fora de mim quando Tu estavas dentro de mim?” (Confissões). A taça que passa de mão em mão em quinta-feira santa é o símbolo da prova que vem a seguir. Quem ultrapassa esta prova é Eucaristia, ação de graças para os irmãos. Mas a cruz tem o seu tempo de festa quando o caminho feito está para além das águas de todo o inverno.
7. Oração
Não és, Senhor, como eu te imaginava. É quase meia-noite e continuo à tua espera envolto em escuridão e silêncio. Amarguram-me todos os meus pecados. Não consintas que eu peça qualquer outra coisa senão poder sentar-me no escuro, nem que acenda outra luz que não seja tua, ou me deixe invadir pelas vagas dos meus pensamentos para encher o vazio da noite em que Te espero. Para que permaneça na doce escuridão da fé pura, consente que me converta em nada à luz pálida e débil dos sentidos. Quanto ao mundo, que eu me torne para ele num desconhecido absoluto para sempre.
E que assim, graças a esta escuridão, possa chegar finalmente à tua claridade, e, depois de me tomar insignificante para o mundo, possa debruçar-me sobre os infinitos sentidos que há na tua paz e na tua glória. O teu esplendor é a minha obscuridade. Nada sei de Ti, e por mim mesmo nem sequer posso conceber como chegar a conhecer-Te. Se Te imagino, não acerto. Se Te compreendo, iludo-me. Se estou consciente e certo de Te conhecer, estou louco. A escuridão é quanto me basta (Thomas Merton).
8. Contemplação
A vida que nasce do silêncio
“Do silêncio nasce a vida.
Amo o silêncio acima de tudo.
O silêncio ensina a escuta, a escuta de mim próprio
e a escuta das necessidades dos outros.
O silêncio gera vida” (Thomas Merton).

Todo o ser humano é um poste de luz nas noites dos outros,
nas estradas dos outros, nos becos sem saída.
“Assim como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim também tem de ser levantado o Filho do Homem” (Jo2.14)

Poema – O poste
“Assim como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim também tem de ser levantado o Filho do Homem” (Jo2.14)
A água mansa me agita
Em permanentes redemoinhos
Abrindo novos caminhos
De beleza arrepiante.

Nuvens sanguinolentas
Do êxodo de Moisés,
Intimidade cósmica sou
Alma orante a teus pés.

Ó serpente do deserto
Ó Cristo a morrer na cruz
Traçais o caminho certo
Caminho de luz.

Rezai com aleluias cantai
Às flores da primavera,
Aleluias de amor e perdão.
São Páscoa, Ressurreição.

Quando o peregrino chega ao fim da viagem,
Ele sabe que entrevê a sua verdadeira morada”.
F.-B. Huyghe

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