NOTA
SOBRE OS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS EM FONTE BOA.
A
Região Moçambicana da Companhia de Jesus (Padres e Irmãos Jesuítas) sente-se
na obrigação de informar todos os nossos amigos e amigas sobre o triste facto
ocorrido numa das nossas missões no centro-norte de Moçambique, Província de
Tete, Distrito de Tsangano, planalto de Angónia, que culminou com o trágico
assassinato do P. Waldyr dos Santos, SJ e de Idalina Gomes,
Leiga para o Desenvolvimento.
Queremos
em primeiro lugar agradecer de coração e louvar o Senhor pelas sinceras
manifestações de solidariedade que todos estão a ter para connosco, neste
momento de dor e perplexidade.
É
justo esclarecer que a morte do P. Waldyr e de Idalina não foi de forma nenhuma
um ajuste de contas, como veiculou em certos meios de comunicação, mas sim um
acto brutal de tentativa de intimidar e desestabilizar as Instituições
Religiosas na Província de Tete e concretamente os trabalhos que a Companhia de
Jesus, as Irmãs do Divino Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão a
desenvolver em prol do povo de Angónia, sobretudo no campo da Evangelização,
da Educação, da Saúde e dos projectos sociais que visam o crescimento e o bem
estar deste povo tão sofrido.
A
Companhia de Jesus tem uma longa história de comunhão com o povo no planalto
de Angónia, mesclado com momentos de muitas alegrias e também de muitas
tristezas. Sempre procuramos conservar fidelidade e respeito pela cultura deste
povo. E é justo afirmar que os cristãos sempre reconheceram e corresponderam
em todos os momentos com as nossas intervenções. Um bom número de jesuítas
deram ali suas vidas pela causa do Evangelho. Tomamos a liberdade de recordar
alguns deles: P. Miguel Ferreira da Silva, SJ, que
no cumprimento de suas tarefas, morreu tentando construir a Igreja para a população
da Macanga. Os Pp. João de Deus e Silvio Moreira regaram com seu
sangue a terra por amor e fidelidade ao povo que amavam. O P. Cirilo
Moises Mateus, SJ que desgastou a vida pelo seu povo e agora, no dia 11
de Novembro, completa 5 anos de falecimento.
Nos
momentos mais difíceis para o Povo Moçambicano, em que muitos tiveram que se
exilar para o Malawi, por causa da guerra interna, a Companhia de Jesus foi com
o seu povo para o exílio, viveu e deu toda a assistência que lhe foi possível
nos campos de refugiados. Vibrou com o povo pela alegria de retornarem a casa,
depois do acordo de Paz, assinado em Roma. E não poupamos esforços para
reabilitar as escolas, os hospitais e até ajudar o governo a reabilitar o posto
fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria com muitas instituições
solidárias com o bem estar do Povo Moçambicano, especialmente com o Governo da
República de Moçambique, com o UNHCR, Intermon, Misereor, Cafod, Cebemo, etc.
E
não será por causa de um acto covarde e violento que nos iremos intimidar.
Nossas vidas só têm sentido quando as damos aos demais.
Pedimos
a todos para que colaboremos com o Governo da República de Moçambique no
sentido de estancar estas ondas de violência que assolam o País. Só na Província
de Tete, os religiosos (Padres Combonianos, Irmãs Vicentinas, e Jesuítas)
foram vítimas de 5 ataques neste ano de 2006. A pergunta que paira em nossos
corações é o por quê da violência somente aos religiosos nesta Província?
Humanamente
não há palavras que expliquem o sucedido. O P. Waldyr e a Idalina
vieram só para servir e foram barbaramente assassinados quando sabemos que Moçambique
precisa de obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o sangue
deles, mais uma vez derramado naquela terra de Angónia, ajudará a produzir
frutos espirituais que só Deus-Pai pode fazer aparecer pela sua imensa
generosidade e misericórdia.
Continuemos
a pedir ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos às vossas
orações.
P.
Carlos Giovanni Salomão, SJ
(Superior
Regional dos Jesuítas)
Maputo,
09 de Novembro de 2006.