O abandono escolar dos professores

Muito se tem falado, no último mês, sobre as escolas, a avaliação dos professores e a indisciplina dos alunos.

Todos têm opinião a dar, como verdadeiros treinadores
de bancada vão indicando a melhor táctica para o sucesso. Mas qual é o sucesso
pretendido? No futebol os objectivos são claros, quem marcar mais golos e
sofrer menos ganha o jogo. E nas escolas, quais são os objectivos que as regem?

O problema
começa precisamente aqui, na ambiguidade dos objectivos, que leva a concepções
de sucessos esperados muitos diferentes. Para o Ministério da Educação o
sucesso avalia-se pelos rankings das
notas dos exames nacionais e pela redução do abandono escolar dos alunos. Para
a sociedade o sucesso mede-se pelas reais competências adquiridas pelos alunos
que farão deles uns bons profissionais. Para os pais o sucesso está garantido
desde que os seus filhos aprendam o suficiente para voarem mais alto do que
eles. O sucesso para alguns alunos é passar de ano, com o mínimo de esforço possível.
Para outros, mais responsáveis, mas nem por isso mais felizes, o único
objectivo que têm é o de competir pelas notas para entrar na faculdade. O
sucesso para os professores é muitas outras coisas…

O sucesso que
espero dos meus alunos é que eles cresçam integralmente como pessoas. Que
aprendam a pensar, a resolver problemas, a desenvolver a capacidade de
adaptação às mudanças. E a dificuldade reside precisamente na gestão de tão
diferentes expectativas que co-habitam em torno da escola.

O elo mais fraco
é sempre o professor, o primeiro responsável pelo insucesso. Foi ele que não
cumpriu o programa da disciplina, que não preparou bem os alunos para os
exames. Não teve capacidade de utilizar estratégias diferenciadas e adaptadas
às dificuldades de cada um dos cerca de trinta alunos que teve à sua frente, em
cada bloco de aulas. Foi ele que não soube dialogar com os encarregados de
educação. Foi demasiado exigente ou brando de mais. Nunca foi exigido tanto ao
professor como agora. É por isso que ele tem de ser um super-professor para
poder progredir na carreira docente.

Não, obrigada!
Eu quero continuar a ser apenas professora, não desejo ser titular de nada,
apenas da minha própria vida e dos valores que acredito. Existe vida fora dos
portões da escola e eu não quero desistir dela.

No entanto, o
professor que se deixa manietar por estes tentáculos, que o vão cercando por
todos os lados, vai ficando cada vez mais atrofiado, encurralado, isolado na
sua dor. Atrever-me-ia a dizer que vai ficando menos humano.

Preocupa-me o
abandono em que deixaram cair os professores. É preciso sê-lo, para compreender
a angústia que sentem quando nada bate certo e não existem mãos que ajudem a
reconstruir. Preocupa-me o abandono escolar dos professores, de que ninguém
fala. Porque não existem estatísticas desta realidade?

Existem
pessoas que deixaram cair por terra o sonho de continuarem a ser professores
para voltarem a ser homens, ou mulheres, livres e com dignidade.

 

                                                                       Graça
Borges

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