3. As propostas

Como propostas eu apostaria em duas atitudes. A necessidade de maior diferenciação pastoral e a procura de factores de qualidade acrescidos.

3.1 Diferenciar

Vivemos numa sociedade plural a todos os níveis e também ao nível da fé. Mas, herdeiros de uma sociedade nominalmente homogénea e cristã, persistimos em oferecer soluções pastorais unívocas, num contexto de profunda diversidade e fragmentação. É evidente que o sucesso e o acolhimento dessa pastoral típica da cristandade não será nunca elevado.

Há que fazer propostas diferenciadas, em função da situação de fé dos destinatários. Diferenciação nos métodos, nos conteúdos e dos agentes.

Revejo-me na sequência de cinco momentos lógicos que os bispos portugueses identificaram no documento “Para que acreditem e tenham vida” (2005). Eles falam de 1) Presença e acolhimento; 2) Primeiro anúncio e conversão; 3) Catequese sistemática; 4) Fazer comunidade; 5) Celebrar os sacramentos.

Quando pensamos em qualquer acção pastoral, temos de ter presente que a pessoa pode estar num destes cinco momentos distintos. E que pede por isso um tipo diferenciado de intervenção.

3.1.1 Presença e acolhimento

É a base de todo o percurso que leva à identificação cristã. A comunidade cristã e todos e cada um dos seus membros actua o Evangelho e a sua salvação em favor de toda a humanidade. Torna-se presente à vida concreta das pessoas. Acolhe as suas vivências e dificuldades. E faz isso de muitos modos diferentes. Num centro de dia que oferece dignidade e calor humano à doença e ao morrer ou numa família cristã que se entrega generosamente à educação de uma criança recém-nasicda. No diálogo que busca o sentido na vida ou na luta sócio-política por uma sociedade mais humanizada.

Concretamente para nós que fazemos pastoral com os mais novos, esta pastoral de presença e acolhimento actua-se:

3.1.2 Primeiro anúncio

A Igreja não pode renunciar a dizer e propor a sua fé àqueles que a não conhecem. Infelizmente, fomos perdendo esse hábito. Não se trata de fazer grandes sínteses teológicas mas de afirmar a nossa fé de forma sintética e capaz de atrair. O destinatário que acolhe o primeiro anúncio responde com a conversão. Com a decisão de aderir ao Deus de Jesus Cristo e aos seus valores.

Nunca é demais afirmar a necessidade deste primeiro anúncio “querigmático”, deste convite inicial a aderir à pessoa e à causa de Jesus Cristo. Como muito bem salientam os nossos bispos na “nota pastoral sobre o ano Paulino”, este primeiro anúncio é absolutamente necessário. Só ele permite superar a tendência a começa a construir a casa pelo telhado. Só quem adere a Jesus Cristo está motivado para um caminho de aprofundamento da fé e para assumir todas as implicações comunitárias e morais dessa opção de fé.

Esta pastoral de primeiro anúncio exige agentes, conteúdos e métodos diferentes dos da catequese. O que levanta logo a questão: que sentido tem fazer catequese com quem ainda não se converteu?

3.1.3 Catequese

Que dizer deste tópico em que todos nos sentimos mais ou menos à vontade? Que recursos temos? Que ponto de situação?

Andámos os últimos anos a colocar as esperanças de renovação de qualidade na nova vaga de catecismos do SNEC. A verdade é que os sucessivos atrasos estão a minar a sua qualidade. Este ano sairá apenas o catecismo do 2º ano.

Além do atraso persistente, eles têm provocado alguma desilusão pela sua desigual qualidade.

A opção foi de fazer uma revisão meramente didáctica, sem pôr em questão o modelo catequético. Atendendo à excessiva duração do processo, fica claro que teria sido viável pensar uma reestruturação mais profunda. Mas a desadequação às reais condições familiares, escolares e culturais das novas gerações torna-os bastante incapazes de cativar os catequizandos.

Por outro lado, ao nível da catequese de adultos há cada vez mais experiências positivas e estimulantes.

Muitos centros de catequese vão conseguindo envolver os pais em processos de formação cristã.

Para os jovens, os salesianos lançaram o ano passado o Projecto GPS. A adesão tem sido muito interessante e o feedback muito positivo. Várias dioceses assumiram este itinerário formalmente e várias outras recomendam-no.

3.1.4 Fazer comunidade

Vai ficando cada vez mais clara a necessidade imperiosa de fazer comunidade. Como uma exigência interna à lógica da fé. Mas também como resposta da Igreja ao contexto de individualismo despersonalizante e isolamento em que as pessoas se arrastam.

É certo que há dificuldades. Quase sempre, ao longo da história, as formas comunitárias de que a Igreja se revestiu eram desenvolvimento de experiências “humanas”. Mas com a perda de sentido comunitário “civil” fica difícil encontrar/propor formas comunitárias significativas para hoje.

Um dos indicadores da necessidade que as pessoas têm de contacto e de comunidade verifica-se na internet. Proliferam as formas comunitárias e os mecanismos de interacção. Mas o seu carácter virtual é uma causa estrutural pelo qual elas são incapazes de responder aos desejos efectivos das pessoas.

De qualquer forma há duas pistas que conviria ter em conta, dados os bons resulktados que muitos estão a conseguir. A experiência do pequeno grupo de pertença e a atenção à relação com os pais.

3.1.5 Celebrar os sacramentos

Está claro na mente da maioria (não sei se na prática) que é necessário superar uma celebração dos sacramentos meramente assente na rotina social. Aqui, em particular, há que insistir na referência a Cristo. Os sacramentos são sacramentos de Cristo. Não são moeda de troca para vantagens eclesiais (já posso ser padrinho) ou sociais (casar pela Igreja é muito mais fino).

Por outro lado, há que ajudar os mais novos a relativizar o acessório e a saber ler os sacramentos como experiências fortes de contacto entre o sujeito a comunidade com Cristo ressuscitado. Assim os sacramentos poderão se encontrados e apreciados como recurso para uma vida cristã de qualidade e fidelidade.

Claro que esta renovação de atitude ajudará as comunidades a melhorar a qualidade das suas celebrações. É importante notar que o conceito de celebração de qualidade é muito mais do que a fidelidade material ao livro litúrgico. É a fidelidade criativa que nasce da dupla escuta da revelação de Deus e da sensibilidade cultural e social dos destinatários.

3.2 Factores de qualidade

Da leitura que fazemos do contexto actual identificamos 4 factores de qualidade.

Como o risco de ser abusivo parece-nos que eles são factores sine qua non para uma pastoral de qualidade.

3.2.1 Centralidade da Palavra

A palavra de Deus, lida e entendida em Igreja, é um critério precioso. Ajuda-nos a discernir o contexto em que nos movemos. Ajuda-nos e avaliar e criticar a nossa própria acção pastoral. Aponta pistas e reconduz-nos ao essencial.

3.2.2 Diferenciar pastoralmente

Já antes desenvolvi esta perspectiva. Não vou chover no molhado. Mas é hora de passar das palavras aos actos; das intenções aos processos sistemáticos.

3.2.3 Criar comunidade

É outra das pedras de toque de uma pastoral de qualidade. Já antes vimos as dificuldades que há mas também as possibilidades. Refiro este vector aqui para estimular a que entre na tua agenda mental de tarefas.

3.2.4 Interacções

Há que superar uma pastoral dirigida, em que o destinatário é sujeito passivo. Há que superar uma prática em que a Igreja se reduz a ser fornecedor de serviços e bens de tipo religioso. É urgente criar dentro das comunidade uma prática de amor, de vida partilhada, de interacção entre as pessoas, na sua diferença.

 

 

 

 

 

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