Por um novo projecto de catequese (2)

Depois do 1º artigo desta série, aqui vai a continuação.

1.2 Diferenciar

Uma das consequências de assumir o paradigma da iniciação cristã é interiorizar (na mentalidade e nas práticas) que a acção evangelizadora da Igreja (de todos nós, portanto) é qualitativamente diferente de acordo com a etapa em que o destinatário está no itinerário de iniciação cristã.

1.2.1 Mudar mentalidades

E esta mudança de mentalidade é difícil de fazer. A grande maioria dos cristãos ainda se revê no modelo da cristandade em que todos eram (ou deveriam ser, ou deveriam aparentar ser) cristãos. Haveria uma identidade cristã básica comum a todos. O esforço pastoral consistiria em graduar a “quantidade” de propostas em função da condição do destinatário.

Esta tendência nota-se em cristãos mais “sérios” ou em cristãos mais laicizados.

A lógica da iniciação cristã propõe um itinerário, um caminho. Onde há descontinuidades. Onde há saltos entre as etapas.

Quando lemos o RICA (=Ritual de Iniciação Cristã de Adultos) ou o “Para que acreditem e tenham vida” percebemos claramente isso.

Uma das dificuldades que temos tido é não estarmos atentos a isso.

1.2.2 Para não perder tempo

É bastante inútil procurar adaptar a celebração da Eucaristia às crianças (ou aos jovens, ou aos adultos) para que eles “gostem”. Se não há uma vontade de relação forte com Jesus Cristo (presente na mesa da Palavra e na mesa do Pão) bem se podem mudar os cantos, fazer homilias sedutoras, oferecer bolinhos aos pais ou trocar o vinho por coca-cola (em nome da inculturação). A participação na Eucaristia supõe uma iniciação. Há um antes e um depois, um dentro e um fora. Se está fora, se não estás em sintonia com Jesus de Nazaré… não faz sentido celebrar a Eucaristia. Ponto final. Claro que se estás em sintonia a forma como se celebra deve ser o mais inculturada possível: podemos usar cantos adequados à condição sócio-cultural da assembleia, usar as orações eucarísticas que o missal propõe para as crianças…

É inútil fazer catequese (isto é, um aprofundamento sistemático da fé) a quem ainda não se converteu (isto é ainda não se decidiu a acolher Jesus como seu salvador).

1.2.3 Passos claros

Penso que é um exercício bem proveitoso reler “Para que acreditem e tenham vida” e recuperar as 5 etapas de que fala.

O percurso de iniciação cristã começa com a presença e acolhimento.

Segue-se o primeiro anúncio ao qual o destinatário responderá com a conversão. Estes dois momentos (presença-acolhimento; primeiro anúncio-conversão) não são equivalentes. O 1º anúncio não é uma operação de charme da Igreja. Não se trata (embora o possa exigir também) de melhorar a imagem da Igreja e da fé na cabeça e nos preconceitos do destinatário. O 1º anúncio é mais. Qualitativamente mais. Diz, preto no branco, as razões da nossa esperança e da nossa fé.

O 1º anúncio não se confunde com o “despertar religioso”. Esse conceito difundiu-se há anos em Portugal, sem grande rigor crítico. O 1º anúncio não é um abrir das criancinhas mais novas à dimensão espiritual ou religiosa da vida. Não se reduz a cultivar vagos sentimentos religiosos. Dá um nome concreto (Jesus de Nazaré) à nossa salvação.

Do mesmo modo a catequese não se confunde com o 1º anúncio. Tem métodos, agentes e conteúdos diferentes. Noutros artigos desta secção já escrevei algo sobre isso.

Mas acima de tudo importa reter que a catequese supõe a conversão. Não é possível fazer catequese a quem não se converteu. E esse é um dos problemas sérios que temos tido. Ainda não estamos verdadeiramente convencidos da importância da conversão e, com facilidade, a omitimos. A declaramos facultativa. E os resultados trágicos não se fazem esperar.

O que vem a seguir na lógica da iniciação cristã (integração na comunidade, celebração da fé, anúncio) supõe a catequese.

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