«Ontem vi na televisão um filme sobre possessões diabólicas, exorcismos e outras coisas parecidas. Durante toda a noite não fechei olho: cada vez que havia um movimento na cama, tinha a sensação de ser o demónio que vinha apoderar-se de mim.
Peço-te: tranquiliza-me. O que existe de verdadeiro nestas histórias de possessos e de exorcismos? Por que se fala tanto disso? Existe verdadeiramente o demónio? Qual é a sua aparência? Como reconhecer a sua presença? Como vencê-lo?».
O demónio em primeira página
Quem poderia imaginar, há vinte anos, que na época do triunfo do computador, o demónio iria conquistar as primeiras páginas dos jornais, os écrans da televisão e as salas cinematográficas?
Por que se fala tanto dele? O actual interesse exagerado pelo demónio, provavelmente como reacção aos anos recentes quando, com a ilusão de que a ciência e a técnica podiam explicar tudo, era absolutamente proibido falar de realidades espirituais.
Nestes últimos anos, começou-se a reflectir: «Hoje o alimento e o vestuário não são problema, vestimo-nos como outrora se vestiam apenas os príncipes, pode fazer-se tudo o que se quiser, porque foram eliminados todos os tabus, poder-se-ia viver tão bem e, pelo contrário, existe à nossa volta tanta maldade! De quem será a culpa? Deve existir alguém que vem pôr a nódoa no melhor pano!».
É o eterno problema do mal que, atirado pela porta fora, entra pela janela. E eis o demónio.
O demónio como «spot»?
Que dizer acerca deste interesse pelo demónio? Será um sinal de que as pessoas estão a superar o pesado horizonte dos interesses materiais: comer, enriquecer, divertir-se?
Nem sempre é assim. Muitas vezes esta curiosidade, quase mórbida, pelo demónio é a tentativa mesquinha de pessoas cheias de tédio e vazias em procurar sensações fortes.
Uma prova: se quem fala do demónio — de forma séria — é o Papa, todos protestam e os costumados peritos riem-se de tudo isto, falando de obscurantismo. Porquê? Elementar. O Papa fala do demónio de forma incómoda, porque convida a contestá-lo, mudando de vida, renunciando ao egoísmo, à violência, à injustiça.
Se, pelo contrário, quem fala dele são os realizadores de cinema e os jornalistas, com abundantes factos sensacionais, então todos abrem bem os ouvidos e ficam até altas horas da noite para ver como irá acabar a «interessantíssima» transmissão.
Como não desconfiar destes que atiçam a curiosidade, acerca do demónio, para darem espectáculo e ganharem dinheiro?
Existirá o demónio?
A Bíblia não admite dúvidas: o demónio existe e é forte. Poderá demonstrar-se a sua existência com a razão? Não?
O demónio, como Deus, é uma realidade que não pode ser demonstrada com o metro, a balança ou o microscópio, porque é um ser espiritual.
Mas como é feito o demónio? É aquele homenzarrão com o pêlo vermelho, os chifres e a inseparável forquilha nas mãos? Esta representação fantasiosa, que vem não da Bíblia mas da imaginação popular, é perigosa porque nos desvia da questão.
O demónio é uma «pessoa» mas não como somos nós: é uma força, é uma potência. Se queremos ajudar-nos com a imaginação, podemos dizer que ele é como uma treva que esconde a luz, como o «smog» que polui o ar limpo, como a porcaria que inquina os rios e os mares, como a geada que mata as plantas ao nascer. É um veneno inteligente, que se insinua nas mentes e nos corações para se opor ao Deus que ele rejeitou.
Como reconhecê-lo
Não é fácil reconhecê-lo. Mas, quando nos encontramos diante de qualquer coisa de malvado, que é difícil explicar com motivações humanas, é oportuno suspeitar que ele está aí presente. A violência contra as crianças, o desprezo pela vida humana (o aborto, o comércio da droga), a prepotência dos ricos contra os pobres, a exploração dos mais fracos… são algumas das maldades que nos fazem suspeitar que são obra do demónio.
Quando os homens e as mulheres fazem aquilo que os animais, criaturas de Deus como nós, não teriam a coragem de fazer, quer dizer que aí está o fedor do demónio, do «inimigo», do «adversário» (como lhe chama a Bíblia).
Como vencer o demónio?
Primeira arma: fazer o bem. Cada acto de bondade é um murro nos dentes do demónio.
Segunda arma: a participação na Eucaristia, nos sacramentos da Reconciliação ou Confissão. O Demónio é mais forte que a pessoa (mas não até ao ponto de a obrigar a fazer o mal!), mas foge em retirada, quando Jesus Cristo entra em campo. E os sacramentos trazem-nos a força de Cristo.
Terceira arma: evitar decididamente tudo o que lhe pode criar espaços: superstição, magia, espiritismo. A Igreja, sabiamente, proíbe que os cristãos participem, mesmo por mera curiosidade, em semelhantes práticas.
Finalmente: é inútil pensar muito no demónio. Quem nos salva não é o medo do demónio mas a confiança em Deus, que se revelou em Jesus Cristo. Para vencer o medo da escuridão, basta uma pequena luz, mesmo que seja a de um fósforo.