Quando o diálogo se torna monólogo

«Leio sempre a vossa revista. Ultimamente, também outras revistas para jovens. Notei que estas últimas falam frequentemente de um problema que a nossa simpática revista ignora completamente: a masturbação. Porquê? Será verdade que os católicos têm medo do sexo e consideram-no um tabu? Gostaria muito de ser esclarecida sobre este assunto».

Libertemos o terreno

Antes de mais, libertemos o terreno de precon­ceitos: a sexualidade é um bem, porque Deus nos criou homens e mulheres. A primeira página da Bíblia, depois da criação do homem e da mulher, faz exclamar a Deus: «O que eu fiz é muito belo e bom».
Esta mensagem era revolucionária, porque as pessoas consideravam o sexo como algo de tene­broso, de ameaçador e sujo. Actualmente, parece acontecer o contrário: enquanto os mass-média e as pessoas que se deixam manipular por eles consideram o sexo como uma coisa normalíssima, a Igreja faz dele um problema. Mas será realmente assim?

O sexo, usa e deita fora

Devido à mentalidade da sociedade de consumo, o sexo é uma coisa banalíssima, uma «função biológica» — cito uma das revistas para jovens — como «comer e beber», uma sensação agradável como quem saboreia uma bebida fresca no Verão.
O que é que existe de mal, portanto, em sentir uma sensação agradável?
Serás palerma se renuncias a ela. A vida não é outra coisa senão um conjunto de sensações: lamber um grande gelado, saborear um copo de cerveja, correr numa motorizada, experimentar o prazer associado aos órgãos sexuais.
Para os cristãos, pelo contrário, o sexo é relação, diálogo, encontro com o outro. É isto que nos faz existir e reconhecer como pessoas. É isto que nos torna disponíveis aos outros da forma mais profunda: transmitir a vida.
É evidente: de concepções tão diferentes acerca do sexo, a avaliação dos comportamentos sexuais têm necessariamente de ser diferentes.

Monólogo ou diálogo

A masturbação. É a procura do prazer sexual mediante o estímulo solitário dos próprios órgãos sexuais. É bem ou é mal? Quem considera o sexo exclusivamente como sensação ou prazer, dirá, obviamente, que é um bem: «Produz prazer? Sim. Portanto, é um bem».
Quem, pelo contrário, aceita o sexo como uma força que Deus nos deu para nos abrirmos ao outro, não será assim tão superficial. De facto, o prazer não pode ser o único critério para julgar as acções humanas.
Um exemplo: Comer dá prazer? E como!… Quem, de outro modo, trabalharia para conseguir ganhar para ter todos os dias boas refeições? Mas que pensar de uma pessoa que passa o tempo a comer pastéis, bifes, chocolates e a engordar como um animal, a apanhar diabetes, a prejudicar o coração? Que vos parece? Considero essa pessoa como um pobre deficiente! O prazer de comer, na verdade, não é um fim em si próprio, porque não se vive para comer, mas come-se para viver.
O raciocínio não pode mudar no respeitante ao prazer sexual. Ele não é um fim em si mesmo, mas foi-nos dado para nos impelir a ir ao encontro dos outros, tendo como projecto a comunhão de amor que transmite a vida.
Mas então procurar o prazer sexual a sós é um mal? Não é um bem, sobretudo quando não se trata de uma curiosidade passageira, ligada ao momento do desenvolvimento sexual, mas um gesto que se repete até se tornar num hábito.

Comer ou estar à mesa

Imaginemos um indivíduo que come sempre sozinho, a um canto da cozinha, voltado para a parede. Ele experimenta certamente prazer em atirar-se a um bom bife: o seu estômago enche-se e o seu corpo recupera energias perdidas.
Imaginemos agora alguns amigos que estão à mesa com uma bela toalha branca, com flores ao centro, com talheres, com os pratos cheios, os olhares alegres e muita alegria. Aqui o prazer de comer torna-se relação, diálogo, amizade sempre mais profunda.
Vi mil vezes nos restaurantes duas pessoas sentarem-se à mesma mesa, puxar cada qual o seu jornal, metê-lo diante dos olhos e começar a comer lendo política e desporto, sem olharem para o outro. Bem. Aqueles que se habituam — em todos os campos e sobretudo na sexualidade — a contentar-se com o prazer a sós, arriscam-se a acabar os dias no restaurante.
Quem tem razão, o consumismo ou a Igreja? Cada qual tem a sua cabeça para pensar: faça-a funcionar e lembre-se que nem tudo o que luz é ouro.

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