«Dentro de poucos dias faço 14 anos e os meus pais não querem decidir-se a oferecer-me uma motorizada. A minha mãe tem medo que eu me vá imediatamente enfaixar contra um camião. O meu pai veio logo com a história do costume: que só conseguiu ter uma velha bicicleta aos 23 anos, e com o seu dinheiro. Como posso convencer os meus pais de que já não sou uma criança, e que não me podem obrigar a passar fome só porque eles também a passaram?
Disse e repeti que todos os meus colegas de escola têm uma motorizada, mas o meu pai ficou ainda mais irritado…».
A dificuldade de crescer
Mesmo que vos ofendais, quero confessar-vos que, ao ler certos «problemas», sinto verdadeiramente uma grande alegria.
«Que graça é que tem?» direis vós. Estas batalhas «terríveis» entre pais e filhos estão agora na ordem do dia. E acabam sempre com uma vitória do filho. E dois que perdem contra um (e mais pequeno!) dá sempre para rir.
Depois têm graça os diálogos das duas partes em campo: uma afirmação e o contrário da mesma. «Já não sou uma criança», protesta o filho. «És ainda uma criança», insistem os pais.
É o jogo da vida que se repete e continuará a repetir-se. Quando também vós vos tornardes mãe e pai, o que é que ireis responder ao vosso filho que vos vem pedir uma motorizada?
Procuremos, pois, desdramatizar este problema com um pouco de humor. Até porque rir faz bem à saúde… não só do corpo!
O «grande» a certas horas
Desta vez o filho afirmava a plenos pulmões: «Já não sou uma criança! Sei o que é preciso fazer!» Ssst! Não digam a ninguém! Poucos minutos antes, a mãe teve de ir certificar-se se ele tinha feito os deveres escolares. O mesmo «homenzinho» ficaria tranquilamente a dormir até às onze, se de manhã a mãe não suasse sete camisas para o fazer sair da cama.
Bem! Não vos parece que viver como crianças (quero tudo e não dou nada) e declarar-se adulto é uma forma um pouco arriscada de convencer os pais do crescimento?
Não respondais demasiado rapidamente. Pensai antes um pouquinho.
O medo da mãe
«A minha mãe considera-me quase como um deficiente; pensa que, logo que saia com a minha motorizada, irei enfaixar-me contra um camião.»
Escutai esta. Há alguns meses, quando se tornaram notícia os transplantes, um meu amigo brincalhão, ao ver um de vós a passar na sua motorizada e estando o semáforo vermelho, exclamou: «Carne para transplantes!».
Não venham dizer-me que a motorizada não é perigosa e que a mãe não se deve preocupar.
«Mas eu já lhe disse mil vezes que serei prudente!».
Certas coisas não se devem dizer: é preciso demonstrá-las. Se a vossa mãe vos viu indo três na mesma motorizada, ou talvez a correr com a roda dianteira levantada, não bastam as palavras para a convencer.
As recordações do pai
E vamos agora ao pai, que recorda os dias da sua infância.
Vós não tendes dificuldade em trazer à baila a vossa experiência: «Na minha turma todos a têm». E o vosso pai não pode apresentar a sua experiência? As regras de jogo não devem valer para todos?
Não é certamente por culpa vossa se há trinta anos ainda não havia o poder de compra que há hoje, mas não é uma ideia perversa lembrar-se que os pais não são estátuas de pedra sem passado.
Quem sabe escutar, será também escutado. Isto vale também para os pais, não apenas para os amigos. E um pedacinho de gratidão não faz mal a ninguém… mesmo para se obter aquilo que se pede!
Mas nós queremos a motorizada
Não tenho qualquer ilusão de vos ter convencido a renunciar à motorizada. «Caramba, se todos a têm, por que é que não a hei-de ter?».
Sei também que estais a resmungar «Este desta vez colocou-se do lado dos pais!» Estais enganados! E ficai a saber que este é o melhor caminho para obterdes a motorizada ao chegardes aos quinze anos. Como? Ainda não percebestes? Vamos resumir:
1. Quando pedirdes uma coisa «de grandes», começai pelo menos algum dia antes, a comportar-vos como grandes, por exemplo: cumprindo o vosso dever sem ser necessário que vo-lo recordem.
2. Os pais também gostam, como vós, de ser escutados. Eles têm o direito, pelo menos, à mesma
paciência e cortesia que demonstrais com os amigos.
3. Em vez de dizer que quereis uma coisa «porque todos a têm», tentai explicar a vós próprios e aos pais «para que» serve essa coisa.
Talvez acabe por ser desnecessária.