Quando a barafunda se instalava os seus pais diziam apenas: “Francisca, senta-te.” Ao que ela obedecia de imediato, sem birras, sem amuos. Os outros pais tentavam controlar os seus filhos, sem grande sucesso.
Quando a música começou essas crianças, a Francisca também, sentaram-se no chão. E, assim, à distância, entre as luzes que se apagavam e acendiam, envoltos no som que nos faziam vibrar, ela era apenas mais uma criança feliz.

Os pais olhavam-se, de vez em quando, e lambiam de longe a sua cria. Uma cria que se estava a sair muito bem no meio daquela selva, de encontrões, de amasses.
O meu coração estava sobressaltado, a observar todos os possíveis perigos. Os holofotes e a coluna de som que estavam perto deles podiam cair, até porque havia muitos cabos espalhados pelo chão. Os colegas da Francisca podiam de facto magoá-la.
Os pais da Francisca estariam certamente conscientes disso, mas sabiam que a liberdade tem riscos e que viver é aprender a ser livre.

Quando o Valter começou a cantar “Sê o melhor”, muitos foram os que o acompanharam. As crianças sabiam esta canção de cor e uma coreografia.

Emocionei-me ao ver a Francisca fazer os gestos, um pouco depois dos outros, com os braços não tão erguidos, mas com uma graciosidade indescritível. Senti que, tal como a letra da canção dizia, a Francisca estava a ser “a melhor coisa pequena na margem do regato”.
Jamais esquecerei a magia daquele concerto e aquela menina!

Porto, 6 de Março de 2008
Graça Borges

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