Complemento ao artigo “Viver segundo o Espírito” (Catequistas – Abril 2008)
Aqui ficam as restantes propostas para aprofundar os dons do Espírito Santo.
Ciência
>> Ideias a desenvolver:
O dom da ciência é a capacidade de descobrir, inventar, recriar formas e maneiras para salvar o ser humano e a natureza. Suscita atitudes de participação, de luta e de ousadia, frente a cultura da morte.
Este dom concede-nos força para lutar contra a falta de valores da sociedade que nos rodeia. Ele destaca-se por exemplo quando sentimos a necessidade de repor a justiça numa situação do nosso quotidiano que nos pareceu pouco correcta. É o dom do Espírito que faz a ligação entre a Fé e a Vida, pois permite-nos viver o dia-a-dia procurando aquilo que será o melhor para os outros e para nós, ou seja, o que Deus quer. O dom da ciência leva cada pessoa a não limitar a sua visão do mundo ao puramente palpável que se pode tocar ou experimentar; leva a pessoa a alargar os horizontes e a olhar mais longe. O Espírito de Deus dá-nos uma espécie de «sexto sentido» da fé. Trata-se da ciência comum da vida cristã em ordem a «ler» a vida e a valorá-la à luz da Palavra de Deus. Este dom do Espírito faz a ligação entre a fé e a Vida.
>> Dinâmica:
Propomos a apresentação de um testemunho de alguém que tenha lutado pelos seus ideais cristãos até ao fim. Através dessa experiência devemos perceber que o Espírito nos ajuda também a defender os grandes valores da Vida e de Deus.
Joanna (Gianna) Beretta Molla nasceu em Milão,a 4 de Outubro de 1922.
Desde a sua juventude, acolheu a educação cristã recebida dos seus pais. Foi a formação religiosa que lhe ensinou a considerar a vida como um dom maravilhoso de Deus.
Durante os anos de estudante na Universidade, integrou o movimento de jovens da Acção Católica e empenhava-se na caridade para com os idosos e os necessitados nas Conferências
de São Vicente.
Depois de formada em medicina, Joanna tinha o sonho de ser missionária, um ideal atraente que via na felicidade do seu irmão, sacerdote missionário no Brasil.
Mas a sua vocação era o casamento e, em 1955, casa-se com Pietro Molla um jovem engenheiro, honesto e trabalhador. Era uma esposa dedicada e feliz e os filhos eram esperados com muito amor e carinho.
Entre 1956 e 1959 nasceram 3 filhos: Pierluigi, Maria Zita e Larua.
Em Setembro de 1961, no final do segundo mês de gravidez, Joanna recebeu o diagnóstico de um fibroma no útero. Pouco antes do parto, Joanna disse aos médicos que, se tivessem de optar entre a sua vida e a da filha que ia nascer, escolhessem a filha.
Antes de ser operada, embora sabendo o grave perigo de prosseguir com a gravidez, suplicou ao cirurgião que salvasse a vida que trazia no seu seio.
Joana Molla morreu em 1962, aos 39 anos de idade, uma semana depois de ter dado à luz uma bebé saudável. Joanna Beretta Molla é a primeira mulher casada elevada a santa nos tempos modernos. Tornou-se num símbolo pela sua opção pela vida.
A 16 de Maio de 2004, João Paulo II canonizou Joanna Molla e nas cerimónias estava o seu marido, agora com 91 anos de idade, e também os seus quatro filhos, incluindo a última, Gianna Emanuela, por quem Joanna Molla deu a vida e que é agora médica especializada em geriatria.
Reflexão
O que é que estava em questão para Gianna?
Repara no nome da filha por quem ela deu a vida: Gianna Emmanuela.
Faz-te lembrar algo ou alguém?
Na sociedade em que vivemos, que “sinais” deste género observamos?
Conselho
>>Ideias a desenvolver:
É o dom de orientar e ajudar a quem precisa. Ele permite dialogar fraternalmente, em família e comunidade, acolhendo o diferente que vive em nosso meio. Este dom capacita a animar os desanimados, a fazer sorrir os que sofrem, a unir os separados …
O Dom do Conselho conduz à simplificação da vida, a acertar nas decisões que se tomam. É o dom que desdramatiza a vida. É o equilíbrio dos juízos.
É o dom do discernimento da vontade amorosa de Deus na vida concreta, dos seus apelos nas várias situações e acontecimentos da vida e do mundo, da descoberta dos valores evangélicos, de modo a viver uma vida santa e agradável a Deus. É o dom da lucidez da fé para interpretar os acontecimentos.
>> Dinâmica:
Propomos para o desenvolvimento deste Dom, a realização de uma representação na qual 2 elementos da equipa têm de caracterizar a personagem que lhes é apresentada no papel que lhes é entregue.
Role playing: (estas duas personagens seriam escritas em 2 papeis diferentes e dadas uma a cada participante). O objectivo é o grupo ajudar, pelo diálogo, a Ana e o Pedro na situação em que se encontram.
Ana – A Ana é uma jovem de 17 anos que vive com a mãe. Os pais são separados. Sente-se deprimida pois vive o culminar de alguns meses de angústia. Nos últimos três meses muita coisa tem corrido mal na sua vida, desde a nova namorada do Pai, com quem não consegue simpatizar, aos testes que não lhe correm nada bem, tudo parece conduzi-la a um fosso sem fundo. Começa a não ver sentido na sua existência e põe mesmo a hipótese de deixar de viver. Não sabe muito bem como, mas, ultimamente tem pensado muito num fim para toda a sua angústia.
Pedro – O Pedro é um jovem de 17 anos. Estuda na mesma escola que a Ana. Não é um grande aluno, mas também não é dos piores. É o rapaz mais bem disposto da turma e sente-se mesmo que é feliz. É escuteiro e participa muito na sua paróquia, onde tem um grupo de jovens. É muito amigo da Ana e lamenta imenso que ela não conheça o Seu Grande Amigo Jesus. Ele sabe que se ela o conhecesse a sua vida poderia ser encarada de uma outra forma. Pedro tenta ajudar a Ana a viver os seus problemas, falando-lhe da relação de amizade que vive com Jesus e do quanto isso o faz feliz.
Reflexão
O teu conselho para a Ana e para o Pedro.
Fortaleza
>> Ideias a desenvolver:
É o dom de tornar as pessoas fortes, corajosas para enfrentar as dificuldades da fé e da vida. Ajuda os jovens a ter esperança no futuro, os pais a assumirem com alegria seus deveres, as lideranças a perseverarem na conquista de uma sociedade mais fraterna.
O dom da Fortaleza dá-nos coragem para enfrentar a vida, saber encaixar os fracassos, as limitações.
Dá-nos a coragem necessária para permanecer no caminho da rectidão, da unidade de vida. Por meio deste dom, Deus dá-nos a coragem necessária para enfrentarmos as tentações, a vulnerabilidade diante das circunstâncias da vida e também firmeza de carácter nas perseguições e tribulações causadas por nosso testemunho cristão diante do mundo.
Trata-se do dom da firmeza na opção por Cristo, da fidelidade à identidade cristã, da força para o “confessar” e anunciar, para crescer na comunhão com Ele e na esperança n’Ele. Trata-se também de um dinamismo de crescimento e de esperança em Jesus Cristo. Perseverar no caminho da fé não é uma questão de temperamento forte mas um dom àqueles que procuram e encontram em Deus a sua força…
>> Dinâmica:
Apresentar e trabalhar a vida e fortaleza de um mártir, por exemplo, Maximiliano Kolbe.
São Maximiliano Kolbe, Mártir
Sacerdote franciscano natural da Polónia, foi feito prisioneiro pelos soldados nazis, que
temiam a sua influência naquele país.
Estava no campo de concentração de Auschwitz, em Agosto de 1941, quando dez
prisioneiros foram sorteados e condenados a morrer de fome e sede porque um
prisioneiro se tinha evadido do campo.
O Padre Kolbe, então com 47 anos, ofereceu-se para substituir Francisco Gajowniczek, que se lamentava em alta voz, dizendo que tinha mulher e filhos.
– Por quem queres tu morrer? – perguntou-lhe o chefe do campo.
– Por aquele: tem mulher e filhos…
– E quem és tu?
– Sou um padre católico.
Seguiu-se um momento de silêncio e, enfim, com voz rouca o chefe disse:
– Seja. Vai com eles.
Antes de entrarem nas celas húmidas e sombrias situadas nos subterrâneos do bunker da morte, os prisioneiros são obrigados a despirem-se. Querem tirar-lhes tudo o que ainda lhes resta de dignidade humana, mas não lhes tiram a liberdade.
Único sobrevivente do grupo no bunker, Maximiliano Kolbe resistiu durante quinze dias à fome, à sede e ao desespero na escuridão do cárcere. Confortava os companheiros, os quais, um após outro, sucumbiam aos poucos. Foi o último dos 10 a morrer, e tiveram de lhe dar uma injecção de fenol. O seu corpo foi cremado no dia seguinte, conforme o uso dos campos de concentração. Era o prisioneiro com o nº 16.670.
Foi no dia 14 de Agosto de 1941.
Reflexão
O que significa a palavra “mártir”? De que modo Maximilliano foi mártir?
O que é que ele deu a Francisco Gajowniczek? Pode dizer-se que Maximiliano Kolbe ofereceu a sua vida porque não tinha nada a perder?
De que modo é que a opção de Maximiliano foi livre?
Piedade
>> Ideias a desenvolver:
É o dom da intimidade com Deus. Coloca-nos numa atitude de filhos, que procuram um diálogo profundo e íntimo com o Senhor. Acende o fogo do amor: amor a Deus e amor aos irmãos. É o dom da filiação, o dom que dá sentido e alegria à relação filial com Deus em Jesus Cristo. Por meio deste dom damo-nos conta que é o Espírito aquele que reza em nós, aquele que nos dá a experiência da filiação divina. É Ele que testemunha interiormente em nós e cria em nós aquela «co-naturalidade» (à vontade) da relação filial com Deus e ao mesmo tempo é Aquele que realiza a comunhão entre nós. É o dom que nos faz descobrir que Deus nos ama e que nos convida a responder ao seu amor.
Observar a pintura do “Filho Pródigo” de Rembrandt
O que podemos contemplar:
Pai:
– O abraço do pai: revela grande intimidade entre as duas pessoas; acolhimento da
parte do Pai
– Mãos do pai: estão estendidas, apertando suavemente contra o peito e abençoando
o filho que voltou.
Filho pródigo:
– Filho ajoelhado: revela o desejo de se submeter ao pai de quem finalmente reconhece o amor. Procura abrigo, segurança, aconchego.
– A cabeça rapada do filho: quando rapam a cabeça a um homem, seja na prisão ou no exército, seja como fazendo parte de algum rito ou num campo de concentração, privam-no de uma marca da sua individualidade.
– A roupa do filho: é roupa interior e mal lhe cobre o corpo. Ao contrário do Pai, este filho não tem manto. O Pai enverga um manto vermelho que lhe confere classe e dignidade.
– As plantas dos pés do filho: revelam a história de uma viagem humilhante. Tem uma cicatriz no pé esquerdo, que está sem sandália. O pé direito, parcialmente calçado numa sandália rota, fala também de miséria e sofrimento.
– A espada pendente na cintura: é o único sinal de dignidade que lhe resta, símbolo da origem nobre. No meio de toda a degradação, agarrou-se ao facto de, apesar de tudo, ser filho do seu Pai. Se assim não fora, teria vendido a espada, símbolo do vínculo ao Pai.
Filho mais velho:
– a aparência (rosto, barba) do filho mais velho é muito semelhante à do Pai; com a convivência o filho torna-se, exteriormente, parecido com o Pai.
– O manto vermelho, tal como no pai, simboliza a dignidade e a nobreza;
– As mãos estão presas uma na outra diante do peito, sem nenhum gesto de abertura, de acolhida, de reconciliação;
Depois de identificados alguns dos aspectos mais importantes da mensagem do quadro e de relacioná-los com a parábola do “Filho Pródigo”, questiona-se o jovem relativamente à relação dos dois filhos para com o Pai. Deve-se destacar o facto do filho mais velho ter permanecido “junto do Pai”, o que pode representar a pessoa que tenta fazer tudo bem e que está mais preocupada com o cumprimento das leis do que propriamente com a sua relação com o Pai. Por outro lado, deve-se explorar a figura do filho mais novo no sentido de valorizar a sua íntima relação com o Pai, que se torna ainda mais profunda após o seu regresso.
A sua “partida” e consequente “retorno” transformam e aprofundam a relação entre Pai e Filho que se sentem mais unidos.
Finalmente, deve-se chegar à conclusão que ser piedoso não é cumprir uma série de regras ou ritualismos, mas é sentir-se verdadeiramente FILHO, é viver essa relação de intimidade e de Amor a que Deus nos convida continuamente. É ser filho como Jesus mesmo reconhecendo que não o merecemos.
Reflexão
Ao olhar para este quadro, digam o que vêem e o que mais vos
impressiona.
Que história perece estar por detrás desta representação?
O que podemos perceber da atitude destas diferentes personagens?
Que sentimentos podemos identificar?
Pelo Baptismo somos filhos de Deus. Será que é por mérito nosso
que somos filhos?
O que significa ser FILHO?
Temor de Deus
>> Ideias a desenvolver:
Este dom dá-nos a consciência de quanto Deus nos ama. “Ele amou-nos antes de tudo”. Por isso, a necessidade em corresponder a este amor, em não romper a relação com Deus. O dom do Temor de Deus é o dom da entrega a Deus, da confiança total na sua Palavra e na sua Aliança. Não tem nada que ver com medo, antes com ousadia. Trata-se de uma força do Espírito que nos leva a respeitar o grande Amor que Deus tem por nós. Ao nos sentirmos de tal forma amados por Deus, só podemos tentar responder com tudo aquilo que somos.
>> Dinâmica:
Através da escuta atenta da música “Ninguém te ama como eu” (Martim Valverde) reflectir sobre o texto anterior. Procurar indagar como vivo eu este “temor de Deus” e como o viveram algumas personagens bíblicas: Abrãao, Moisés, David, Maria, Pedro, Paulo de Tarso…
P.S: Estes materiais foram utilizados na Páscoa Jovem do Movimento Juvenil Salesiano de 2008 preparada pela Irmã Alzira FMA e Pe. João Chaves SDB.