Viver segundo o Espírito – Catequistas Abril

O Sílvio Faria envia alguns materiais complementares ao seu artigo da revista de Abril.

Complemento ao artigo “Viver segundo o Espírito” (Catequistas – Abril 2008)

 

Aqui ficam as restantes propostas para aprofundar os dons do Espírito Santo.

 

Ciência

 

>> Ideias a desenvolver:

O dom da ciência é a capacidade de descobrir, inventar, recriar formas e maneiras para salvar o ser humano e a natureza. Suscita atitudes de participação, de luta e de ousadia, frente a cultura da morte.

Este dom concede-nos força para lutar contra a falta de valores da sociedade que nos rodeia. Ele destaca-se por exemplo quando sentimos a necessidade de repor a justiça numa situação do nosso quotidiano que nos pareceu pouco correcta. É o dom do Espírito que faz a ligação entre a Fé e a Vida, pois permite-nos viver o dia-a-dia procurando aquilo que será o melhor para os outros e para nós, ou seja, o que Deus quer. O dom da ciência leva cada pessoa a não limitar a sua visão do mundo ao puramente palpável que se pode tocar ou experimentar; leva a pessoa a alargar os horizontes e a olhar mais longe. O Espírito de Deus dá-nos uma espécie de «sexto sentido» da fé. Trata-se da ciência comum da vida cristã em ordem a «ler» a vida e a valorá-la à luz da Palavra de Deus. Este dom do Espírito faz a ligação entre a fé e a Vida.

 

>> Dinâmica:

Gianna MollaPropomos a apresentação de um testemunho de alguém que tenha lutado pelos seus ideais cristãos até ao fim. Através dessa experiência devemos perceber que o Espírito nos ajuda também a defender os grandes valores da Vida e de Deus.

 

Joanna (Gianna) Beretta Molla nasceu em Milão,a 4 de Outubro de 1922.

Desde a sua juventude, acolheu a educação cristã recebida dos seus pais. Foi a formação religiosa que lhe ensinou a considerar a vida como um dom maravilhoso de Deus.

Durante os anos de estudante na Universidade, integrou o movimento de jovens da Acção Católica e empenhava-se na caridade para com os idosos e os necessitados nas Conferências

de São Vicente.

Depois de formada em medicina, Joanna tinha o sonho de ser missionária, um ideal atraente que via na felicidade do seu irmão, sacerdote missionário no Brasil.

Mas a sua vocação era o casamento e, em 1955, casa-se com Pietro Molla um jovem engenheiro, honesto e trabalhador. Era uma esposa dedicada e feliz e os filhos eram esperados com muito amor e carinho.

Entre 1956 e 1959 nasceram 3 filhos: Pierluigi, Maria Zita e Larua.

Em Setembro de 1961, no final do segundo mês de gravidez, Joanna recebeu o diagnóstico de um fibroma no útero. Pouco antes do parto, Joanna disse aos médicos que, se tivessem de optar entre a sua vida e a da filha que ia nascer, escolhessem a filha.

Antes de ser operada, embora sabendo o grave perigo de prosseguir com a gravidez, suplicou ao cirurgião que salvasse a vida que trazia no seu seio.

Joana Molla morreu em 1962, aos 39 anos de idade, uma semana depois de ter dado à luz uma bebé saudável. Joanna Beretta Molla é a primeira mulher casada elevada a santa nos tempos modernos. Tornou-se num símbolo pela sua opção pela vida.

A 16 de Maio de 2004, João Paulo II canonizou Joanna Molla e nas cerimónias estava o seu marido, agora com 91 anos de idade, e também os seus quatro filhos, incluindo a última, Gianna Emanuela, por quem Joanna Molla deu a vida e que é agora médica especializada em geriatria.

 

Reflexão

 

O que é que estava em questão para Gianna?

Repara no nome da filha por quem ela deu a vida: Gianna Emmanuela.

Faz-te lembrar algo ou alguém?

Na sociedade em que vivemos, que “sinais” deste género observamos?

 

Conselho

 

>>Ideias a desenvolver:

É o dom de orientar e ajudar a quem precisa. Ele permite dialogar fraternalmente, em família e comunidade, acolhendo o diferente que vive em nosso meio. Este dom capacita a animar os desanimados, a fazer sorrir os que sofrem, a unir os separados …

O Dom do Conselho conduz à simplificação da vida, a acertar nas decisões que se tomam. É o dom que desdramatiza a vida. É o equilíbrio dos juízos.

É o dom do discernimento da vontade amorosa de Deus na vida concreta, dos seus apelos nas várias situações e acontecimentos da vida e do mundo, da descoberta dos valores evangélicos, de modo a viver uma vida santa e agradável a Deus. É o dom da lucidez da fé para interpretar os acontecimentos.

 

>> Dinâmica:

Propomos para o desenvolvimento deste Dom, a realização de uma representação na qual 2 elementos da equipa têm de caracterizar a personagem que lhes é apresentada no papel que lhes é entregue.

 

Role playing: (estas duas personagens seriam escritas em 2 papeis diferentes e dadas uma a cada participante). O objectivo é o grupo ajudar, pelo diálogo, a Ana e o Pedro na situação em que se encontram.

 

Ana – A Ana é uma jovem de 17 anos que vive com a mãe. Os pais são separados. Sente-se deprimida pois vive o culminar de alguns meses de angústia. Nos últimos três meses muita coisa tem corrido mal na sua vida, desde a nova namorada do Pai, com quem não consegue simpatizar, aos testes que não lhe correm nada bem, tudo parece conduzi-la a um fosso sem fundo. Começa a não ver sentido na sua existência e põe mesmo a hipótese de deixar de viver. Não sabe muito bem como, mas, ultimamente tem pensado muito num fim para toda a sua angústia.

 

Pedro – O Pedro é um jovem de 17 anos. Estuda na mesma escola que a Ana. Não é um grande aluno, mas também não é dos piores. É o rapaz mais bem disposto da turma e sente-se mesmo que é feliz. É escuteiro e participa muito na sua paróquia, onde tem um grupo de jovens. É muito amigo da Ana e lamenta imenso que ela não conheça o Seu Grande Amigo Jesus. Ele sabe que se ela o conhecesse a sua vida poderia ser encarada de uma outra forma. Pedro tenta ajudar a Ana a viver os seus problemas, falando-lhe da relação de amizade que vive com Jesus e do quanto isso o faz feliz.

 

Reflexão

 

O teu conselho para a Ana e para o Pedro.

 

 

Fortaleza

 

>> Ideias a desenvolver:

É o dom de tornar as pessoas fortes, corajosas para enfrentar as dificuldades da fé e da vida. Ajuda os jovens a ter esperança no futuro, os pais a assumirem com alegria seus deveres, as lideranças a perseverarem na conquista de uma sociedade mais fraterna.

O dom da Fortaleza dá-nos coragem para enfrentar a vida, saber encaixar os fracassos, as limitações.

Dá-nos a coragem necessária para permanecer no caminho da rectidão, da unidade de vida. Por meio deste dom, Deus dá-nos a coragem necessária para enfrentarmos as tentações, a vulnerabilidade diante das circunstâncias da vida e também firmeza de carácter nas perseguições e tribulações causadas por nosso testemunho cristão diante do mundo.

Trata-se do dom da firmeza na opção por Cristo, da fidelidade à identidade cristã, da força para o “confessar” e anunciar, para crescer na comunhão com Ele e na esperança n’Ele. Trata-se também de um dinamismo de crescimento e de esperança em Jesus Cristo. Perseverar no caminho da fé não é uma questão de temperamento forte mas um dom àqueles que procuram e encontram em Deus a sua força…

 

>> Dinâmica:

Apresentar e trabalhar a vida e fortaleza de um mártir, por exemplo, Maximiliano Kolbe.

São Maximiliano Kolbe, Mártir

Sacerdote franciscano natural da Polónia, foi feito prisioneiro pelos soldados nazis, que

temiam a sua influência naquele país.

Estava no campo de concentração de Auschwitz, em Agosto de 1941, quando dez

prisioneiros foram sorteados e condenados a morrer de fome e sede porque um

prisioneiro se tinha evadido do campo.

O Padre Kolbe, então com 47 anos, ofereceu-se para substituir Francisco Gajowniczek, que se lamentava em alta voz, dizendo que tinha mulher e filhos.

– Por quem queres tu morrer? – perguntou-lhe o chefe do campo.

– Por aquele: tem mulher e filhos…

– E quem és tu?

– Sou um padre católico.

Seguiu-se um momento de silêncio e, enfim, com voz rouca o chefe disse:

– Seja. Vai com eles.

 

Antes de entrarem nas celas húmidas e sombrias situadas nos subterrâneos do bunker da morte, os prisioneiros são obrigados a despirem-se. Querem tirar-lhes tudo o que ainda lhes resta de dignidade humana, mas não lhes tiram a liberdade.

Único sobrevivente do grupo no bunker, Maximiliano Kolbe resistiu durante quinze dias à fome, à sede e ao desespero na escuridão do cárcere. Confortava os companheiros, os quais, um após outro, sucumbiam aos poucos. Foi o último dos 10 a morrer, e tiveram de lhe dar uma injecção de fenol. O seu corpo foi cremado no dia seguinte, conforme o uso dos campos de concentração. Era o prisioneiro com o nº 16.670.

Foi no dia 14 de Agosto de 1941.

 

            Reflexão

 

O que significa a palavra “mártir”? De que modo Maximilliano foi mártir?

O que é que ele deu a Francisco Gajowniczek? Pode dizer-se que Maximiliano Kolbe ofereceu a sua vida porque não tinha nada a perder?

De que modo é que a opção de Maximiliano foi livre?

 

 

Piedade

 

>> Ideias a desenvolver:

É o dom da intimidade com Deus. Coloca-nos numa atitude de filhos, que procuram um diálogo profundo e íntimo com o Senhor. Acende o fogo do amor: amor a Deus e amor aos irmãos. É o dom da filiação, o dom que dá sentido e alegria à relação filial com Deus em Jesus Cristo. Por meio deste dom damo-nos conta que é o Espírito aquele que reza em nós, aquele que nos dá a experiência da filiação divina. É Ele que testemunha interiormente em nós e cria em nós aquela «co-naturalidade» (à vontade) da relação filial com Deus e ao mesmo tempo é Aquele que realiza a comunhão entre nós. É o dom que nos faz descobrir que Deus nos ama e que nos convida a responder ao seu amor.

 

>> Dinâmica:

Observar a pintura do “Filho Pródigo” de Rembrandt

 

O que podemos contemplar:

 

Pai:

– O abraço do pai: revela grande intimidade entre as duas pessoas; acolhimento da

parte do Pai

– Mãos do pai: estão estendidas, apertando suavemente contra o peito e abençoando

o filho que voltou.

 

Filho pródigo:

– Filho ajoelhado: revela o desejo de se submeter ao pai de quem finalmente reconhece o amor. Procura abrigo, segurança, aconchego.

– A cabeça rapada do filho: quando rapam a cabeça a um homem, seja na prisão ou no exército, seja como fazendo parte de algum rito ou num campo de concentração, privam-no de uma marca da sua individualidade.

– A roupa do filho: é roupa interior e mal lhe cobre o corpo. Ao contrário do Pai, este filho não tem manto. O Pai enverga um manto vermelho que lhe confere classe e dignidade.

– As plantas dos pés do filho: revelam a história de uma viagem humilhante. Tem uma cicatriz no pé esquerdo, que está sem sandália. O pé direito, parcialmente calçado numa sandália rota, fala também de miséria e sofrimento.

– A espada pendente na cintura: é o único sinal de dignidade que lhe resta, símbolo da origem nobre. No meio de toda a degradação, agarrou-se ao facto de, apesar de tudo, ser filho do seu Pai. Se assim não fora, teria vendido a espada, símbolo do vínculo ao Pai.

 

Filho mais velho:

– a aparência (rosto, barba) do filho mais velho é muito semelhante à do Pai; com a convivência o filho torna-se, exteriormente, parecido com o Pai.

– O manto vermelho, tal como no pai, simboliza a dignidade e a nobreza;

– As mãos estão presas uma na outra diante do peito, sem nenhum gesto de abertura, de acolhida, de reconciliação;

 

Depois de identificados alguns dos aspectos mais importantes da mensagem do quadro e de relacioná-los com a parábola do “Filho Pródigo”, questiona-se o jovem relativamente à relação dos dois filhos para com o Pai. Deve-se destacar o facto do filho mais velho ter permanecido “junto do Pai”, o que pode representar a pessoa que tenta fazer tudo bem e que está mais preocupada com o cumprimento das leis do que propriamente com a sua relação com o Pai. Por outro lado, deve-se explorar a figura do filho mais novo no sentido de valorizar a sua íntima relação com o Pai, que se torna ainda mais profunda após o seu regresso.

A sua “partida” e consequente “retorno” transformam e aprofundam a relação entre Pai e Filho que se sentem mais unidos.

 

 Finalmente, deve-se chegar à conclusão que ser piedoso não é cumprir uma série de regras ou ritualismos, mas é sentir-se verdadeiramente FILHO, é viver essa relação de intimidade e de Amor a que Deus nos convida continuamente. É ser filho como Jesus mesmo reconhecendo que não o merecemos.

 

Reflexão

 

            Ao olhar para este quadro, digam o que vêem e o que mais vos

impressiona.

Que história perece estar por detrás desta representação?

O que podemos perceber da atitude destas diferentes personagens?

Que sentimentos podemos identificar?

Pelo Baptismo somos filhos de Deus. Será que é por mérito nosso

que somos filhos?

O que significa ser FILHO?

 

 

Temor de Deus

 

>> Ideias a desenvolver:

Este dom dá-nos a consciência de quanto Deus nos ama. “Ele amou-nos antes de tudo”. Por isso, a necessidade em corresponder a este amor, em não romper a relação com Deus. O dom do Temor de Deus é o dom da entrega a Deus, da confiança total na sua Palavra e na sua Aliança. Não tem nada que ver com medo, antes com ousadia. Trata-se de uma força do Espírito que nos leva a respeitar o grande Amor que Deus tem por nós. Ao nos sentirmos de tal forma amados por Deus, só podemos tentar responder com tudo aquilo que somos.

 

>> Dinâmica:

Através da escuta atenta da música “Ninguém te ama como eu (Martim Valverde) reflectir sobre o texto anterior. Procurar indagar como vivo eu este “temor de Deus” e como o viveram algumas personagens bíblicas: Abrãao, Moisés, David, Maria, Pedro, Paulo de Tarso…

 

P.S: Estes materiais foram utilizados na Páscoa Jovem do Movimento Juvenil Salesiano de 2008 preparada pela Irmã Alzira FMA e Pe. João Chaves SDB.   

 

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