Um mestre de oração ensinava as crianças a aprender a olhar, convidando-as a serem corujas: olhos bem abertos, que veem tudo aquilo que se vê. Deste modo, conseguia que fixassem a sua atenção naquilo que tinham diante de si. Uma vez conseguido este objetivo, dizia-lhes: “E agora vão ser crianças super-corujas, que veem o que não se vê”. E assim se abriam à maravilha do mundo simbólico.
Se queremos ser contemplativos, temos de ser como as crianças “super-corujas”: aprender a olhar aquilo que não se vê.
E o que poderemos fazer para aprender a olhar?
1. Não perder o detalhe
– Com as pressas e a nossa falta de silêncio, vamos pela vida sem ter em conta daquilo que está ao nosso redor. Simplesmente não as vemos. Há que aprender a parar e a abrir bem os olhos.
– Trata-se de um exercício de atenção e a atenção implica, sobretudo, interesse. Se algo não me interessa, não lhe presto atenção e passa-me despercebido. Perante as obras de arte, ou fotografias, tenho que despertar o meu interesse para poder vê-las sem perder o detalhe.
– A experiência do grupo é uma grande escola porque “quatro olhos veem mais que dois.”
2. Abrir-se ao que não se vê
– As imagens são como a sinalização: setas que nos apontam caminhos. Seria absurdo ver um sinal de “Vista Panorâmica” e ficar junto do sinal sem aproximar-me do miradouro para apreciar a paisagem.
– Não podemos ficar só na materialidade do quadro ou fotografia e tentar fazer a análise artística da obra; isso serve para os historiadores ou críticos da área. Nós queremos orar com as obras de arte, comas as imagens e vemo-las de outra maneira, porque queremos deixar-nos afetar por aquilo que o autor nos transmite.
Mas, então, como poderemos passar de uma experiência estética, a uma experiência religiosa?
A experiência estética é aquela que nos leva a sentir e a descobrir que um objeto é belo. Este reconhecimento, aparentemente simples, é muito importante, porque a beleza é algo que nos toca, que nos preenche e nos produz uma onda de satisfação. E isso acontece porque o nosso espírito está feito para a beleza e se recria nela.
A beleza de um quadro, ou de uma melodia, conecta-nos com o nosso interior e convida-nos a permanecer numa atitude contemplativa. A experiência estética tal como a sensibilidade, pode educar-se. Para a aprender, a repetição é um recurso poderoso. Por isso, quantas mais vezes nos aproximarmos da beleza, mais sensíveis lhe seremos e mais fácil nos será reconhecê-la.
Mas há que passar da perceção da beleza ao reconhecimento da presença de Deus, que é a experiência religiosa.
– “Deus está aqui”, diz o crente quando se abre ao Mistério. Sem experiência religiosa não há oração, porque não basta contemplar a beleza: há que ir à sua fonte, que é a divindade.
– Ambas experiências ( a estética e a religiosa) são parecidas: enchem-nos de alegria, convocam-nos e convidam-nos a conectar com a nossa essência mais profunda e verdadeira.
– Mas são distintas, e só a partir da Fé podemos descobrir a presença do absoluto no concreto da obra.
– Na vivência da fé há algo para além da maravilha da beleza; há o reconhecimento de estar perante o fundamento de todo, perante o sentido da minha vida, perante a fonte do todo o amor, perante o chamamento mais profundo.
– Por isso a experiência religiosa nasce da fé, e, ao mesmo tempo, provoca-a e alimenta-a.
A contemplação da imagem passo-a-passo
1) Observar
Olha bem para a imagem. Podes colocar um pouco de música e permanece em silêncio. Deixa-te absorver pela imagem
2) Reconhecer
Caso a imagem que observas seja uma pintura ou obra de arte conhecida, procura ler um texto explicativo sobre a mesma. Ou se se referir a alguma passagem do evangelho, relê a cena. Ou lê o texto de referência na qual se insere a imagem.
3) Interpretar
Olhamos a imagem e relacionamo-la com aquilo que acabamos de ler sobre ela. Identificamos os aspetos técnicos ou factos apotados nos textos do passo anterior
4) Sentir
Coloca-te na cena. Põe na tua boca as palavras que poderão estar na boca dos personagens. Adota as mesmas posturas que vês. Procura fazer-te parte integrante daquilo que a imagem te transmite.
5) Aplicar à minha vida
O que é que a imagem te ensina? O que é que traz de novo à tua vida? De que forma é que ela te desinquieta e de desafia a novas atitudes?
Traduzido e adaptado de um texto da autoria de José Maria Alvear
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