Fim da Terceira Guerra entre Gaza-Israel (2014): situação e perspetivas

A guerra entre Gaza-Israel vista pelo salesiano sacerdote Pier Giorgio Gianazza, Vigário provincial MOR. Perante um cenário de guerra qual o papel dos cristãos? Qual o papel dos salesianos? Como manter viva a esperança?

A situação
Finalmente a guerra entre Gaza e Israel terminou. Durou 50 dias, de 8 de julho a 26 de agosto. Mas a de 2014 foi já a terceira a desencadear-se no decurso de poucos anos, e isto dá muito que pensar. A primeira foi em 2008-2009 (27 de dezembro – 18 de janeiro); a segunda em 2012 (14-21 novembro). Esta terceira guerra foi não só a mais longa, mas também a mais sangrenta e a mais desastrosa. Gaza conta as suas vítimas: 2.143 mortos, dos quais 490 crianças e muitas mulheres, e além disso cerca de 11 mil feridos, 3 mil dos quais crianças. Os desalojados são mais de 500 mil, dado que foram destruídos ou inutilizados mais de 20 mil edifícios. Para a reconstrução serão necessários cerca de 4,5 mil milhões de euros. E para as ajudas humanitárias mais imediatas (água, alimentação, medicamentos, eletricidade…) são necessários mais de 200 milhões de euros. Também Israel por seu lado chora os seus 70 mortos, 6 dos quais civis e entre eles uma criança. Para contratacar e intercetar os mísseis lançados da Faixa de Gaza (da qual proveio uma chuva de 3.700 roquetes) e para destruir a sua densa rede de túneis subterrâneos, Israel disparou 3.700 mísseis, desencadeando uma operação militar designada “Protective Edge” (Escudo Protetor).
Servirá tanto sangue derramado para acalmar os ânimos e conduzir as partes em conflito a um verdadeiro diálogo? Por agora, graças à mediação egípcia, chegou-se a acordo para uma trégua de “cessar-fogo” ilimitado (contanto que nenhuma das partes a quebre), com o propósito de no espaço de um mês se reencontrar na mesa das conversações e das negociações. Serão postas em confronto as principais exigências das duas partes: Israel exige a desmilitarização da Faixa; Gaza exige um porto, um aeroporto e maiores possibilidades de deslocação para os cidadãos. Estão já em curso pequenas concessões, como a abertura da passagem para Israel dos doentes, comerciantes e palestinianos com licenças especiais; a redução da zona de interdição aos cidadãos de Gaza próximos da fronteira, o alargamento da zona de pesca no Mar Mediterrâneo.
Pode dizer-se que a Terra Santa (que deveria ser Terra da Paz) desde há exatamente 100 anos não vê uma paz duradoura. Na primeira metade do século XX houve recontros entre fações armadas árabes e hebraicas, pela ocupação e posse do território. A guerra entre israelitas e palestinianos em 1948 foi a primeira de outras três guerras desencadeadas no decurso de poucos anos: 1956 (guerra do Canal de Suez), 1967 (guerra dos Seis Dias), 1973 (Guerra do Kippur ou Guerra do Ramadão). Como se não bastasse, rebentaram duas longas “entifadas (sublevações populares), a primeira de 1987 a 1993 e a segunda de 2000 a 2004. Dos anos ’90 em diante houve muitas conversações, encontros, conferências com vista à reconciliação e à paz, com a participação de várias diplomacias mundiais, mas até agora não se chegou a um acordo definitivo e duradouro. As exigências de parte a parte, as resistências e os obstáculos são numerosos.

Os salesianos na Terra Santa durante o último conflito

Há cinco presenças salesianas SDB na Terra Santa: 3 em Israel (Jerusalém, Nazaré e Beit Gemal) e 2 na Palestina (Belém e Cremisan). Analogamente, 4 são as presenças das FMA: 2 em Israel (Jerusalém e Nazaré) e 2 na Palestina (Belém e Cremisan). Devido à maior ou menor distância que as separa dos lugares centrais de conflito, não sofreram qualquer dano material nas suas obras e nenhum dos seus destinatários foi diretamente atingido.
Certamente todos, uns mais outros menos, sofreram com a situação geral, solidários com a população atingida pelo conflito. Em particular, vários grupos de peregrinos e/ou de estudo, que tinham já programado as suas viagens e os seus contactos conosco, cancelaram-nos por razões de segurança. Rezou-se pela paz de muitas maneiras, sendo a oração a única arma ao nosso alcance. Nos nossos ambientes, todos frequentados por árabes, quer cristãos quer muçulmanos (os judeus frequentam as suas instituições próprias), educam-se os jovens e os educadores para o espírito de paz, em todos os seus matizes. Não é fácil, sobretudo em situações como estas, mas o método salesiano e o estilo de Dom Bosco baseado na razão, na religião e na bondade têm impacto no coração dos jovens.

Belém, 30 de agosto de 2014

Pe. Pier Giorgio Gianazza
Vigário provincial MOR

 

Partilhe

Facebook
WhatsApp

Relacionados

Cyberattack
Comunicado: Fundação Salesianos alvo de ataque informático
A Fundação Salesianos foi alvo de um ciberataque, que resultou num acesso não autorizado aos nossos sistemas...
Banda Missio Concerto 15 anos
Banda Missio celebra 15 anos com concerto solidário
Na noite de 26 de outubro, o Auditório São Vicente, em Alfena, foi palco de uma celebração especial:...
E-vangelizar Estoril 24 - Noticia
E-vangelizar 24: Estoril avança na esperança
Os Salesianos do Estoril acolheram a terceira edição do XIV E-vangelizar. Após duas edições no Porto,...
Evangelizar24-Formadores
E-vangelizar 2024 Porto: edição dupla inspira Agentes Pastorais a ter mais Esperança
A XIV edição do E-vangelizar marcou um novo capítulo na formação pastoral no Porto, sendo a primeira...

Últimas

Pesquisa