6. Meditação
Perdão que é amor. Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra”. Expressão, simplicíssima e fabulosa que me fascina, como se o toque fatal estivesse para acontecer numa humanidade ferida. Abafa a vozearia, a chuva de razões para julgar. Campeia a solidão. Nasce o silêncio a toda a volta. A mulher, sozinha, ali no meio. O olhar do juiz e a balança não têm qualquer lugar naquela praça vazia e incómoda. Levanta-se Jesus. Com um simples gesto manda-a em paz. Jesus liberta-a não com a lei mas com o afeto, com o olhar, com a emoção. Todas as pedras se aninham num chão irrequieto que não as quer receber. Não pertencem a ninguém. Não são de ninguém. E a cena termina com um beijo de misericórdia: “Ninguém te condenou? Também eu não te condeno. Vai e doravante…” Exagero de amor. Festa do perdão.
7.Oração
Noto, Senhor, que a Tua Palavra, neste domingo, mexe em mim. Convidas-me a uma vida nova ao “abrires novos caminhos pelo deserto e ao fazeres passar rios pela terra árida para saciar o teu povo” (1ª Leitura). Não te reges pela Lei mas pela declaração de amor (2ª Leitura). Sem Ti as coisas aparecem-me vazias. A meio da Quaresma a vida cristã vai a caminho da cruz gloriosa, da Páscoa da Ressurreição. É uma humanidade ferida mas buscadora do amor. Leva-nos ao teu colo como nas pegadas da areia.
8. Contemplação
8.1 «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
Num mundo fragmentado com dificuldade em manter o seu ritmo quotidiano,
o homem tem imensa dificuldade em encontrar a unificação do seu ser profundo.
A vida é um caminho onde cada um tem o seu próprio ritmo, os seus ideais,
os sonhos que deve seguir.
A Páscoa não é só a festa da ressurreição do Senhor,
mas é também a nossa ressurreição.
A luz de Cristo é a manifestação do divino, plenitude de todas as coisas.
A felicidade encontra-se nas palavras de vida eterna do Evangelho.
8.2 Poema
O amor se faz perdão
“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?
Ninguém, Senhor” Jo 8, 10-11
Calçada em sobressalto
Uma mulher
Fugindo à morte
Pedras ao alto
Cortam o vento.
Na estrada ardente
Ruaça inclemente.
Apareceu Jesus
Precioso aroma nos ares
Com Ele a primavera a cantar
De amor perdão e luz:
“Vai, não voltes a pecar”.
Dorme em teus sonhos
Parte em paz.
Teus pecados medonhos
Aqui jazem.
És nova criatura
Mulher pecadora,
Rosa vermelha
Sofredora.
Voltarei à vida
Açucena pura
De brancura
Imortal.
Na minha barca da Páscoa
Flutuarei.
Sou tua verdade.
Eu mesmo te levarei
À eternidade.
A bondade do coração humano
Fala-lhe da bondade do coração de Deus
Santa Teresa de Lisieux