Partir o pão – catequese sobre Eucaristia

A comunhão não é simplesmente comer pão e o vinho, mas é "com-união", isto é, entrar em união-com. E é comunhão de pão partido. Este pormenor é muito importante: os dois discípulos de Emaús, com efeito, reconheceram o Senhor precisamente no partir do pão.

Gestos antigos, um significado novo

Desde a antiguidade, na Palestina, o pão nunca era cortado com a faca, mas sempre partido à mão. Era um gesto habitual para preparar a refeição na qual todos participariam. Comer o mesmo pão exprimia o reconhecimento a Deus e a unidade dos convivas.

O chefe de família tomava o pão, ou então impunha as mãos sobre o pão, recitava uma oração de bênção, partia o pão e distribuía-o aos comensais. As acções que se repetiam eram sempre quatro: tomar, abençoar, partir, distribuir.

Também Jesus cumpriu estes gestos na sua vida: na multiplicação dos pães (cf Mt 6, 30-44), por exemplo, e na Última Ceia (cf. Mc 14, 22).

Também a Eucaristia está estruturada à volta destas quatro acções, que assumiram, porém, um significado muito especial:

» “tomou o pão”: é o momento da preparação dos dons, o ofertório;

» “deu graças”: é a oração eucarística;

» “partiu-o”: é um gesto essencial, que agora veremos de perto;

» “deu-o”: é o momento da comunhão

{tab=A fração do pão}

O gesto de partir o pão torna-se, na Igreja das origens, um momento tão fundamental que passa a designar a Eucaristia toda (Act 2, 24; 20, 7).

Dentro das nossas celebrações – ainda que muitas vezes esquecido – este assume dois significados extremamente importantes:

» simboliza o corpo de Cristo oferecido por nós (cf 1Cor 11, 24);

» é o sinal da unidade: comer o mesmo pão quer dizer tornar-se irmãos (cf 1Cor 10, 16-17).

Pão repartido

No capítulo 15 do Génesis (vv. 1-18), é descrita a aliança entre Deus e Abraão: depois da desobediência da Adão e Eva, Deus decide intervir na história do homem, para lhe oferecer a possibilidade de reentrar em comunhão com Ele e escolhe um homem, Abraão. Com ele, depois de ter posto à prova a sua fé, estabelece uma aliança.

Abraão, seguindo o que Deus lhe ordenara, separa alguns animais, mata-os, corta-os ao meio e coloca duas metades uma em frente à outra.

Segundo a tradição, os dois contraentes do pacto – neste caso, Deus e Abraão- deveriam ambos passar por entre os animais cortados, pronunciando esta fórmula, chamada imprecatória: “Se não for fiel à aliança, que me torne como estes animais: cortado em pedaços“. Uma verdadeira condenação à morte!

Diz a escritura que somente uma língua de fogo – que na terminoligia bíblica simboliza presença de Deus – passa entre os animais cortados. Abraão, pelo contrário, fica no seu lugar. Que quer dizer?

Deus conhece a fraqueza do homem, tem compaixão dele, sabe uma descendência numerosa… – e pede-lhe simplesmente que confie n’Ele, que tenha fé n’Ele. Todavia, o homem não acredita, não tem confiança no seu Deus.

Então, deveria ser punido, feito em pedaços, segundo os termos do pacto antigo…neste momento, Deus intervém novamente, e segundo a sua lógica de amor, decide pagar pelo homem!

Na Última Ceia, Jesus, partindo o pão, duiz “Isto é o meu corpo…”; na cruz o seu peito é dilacerado, rasgado por uma lança. Jesus morre no nosso lugar, paga pelas nossas infidelidades a Deus. A alinaça estabelecida com Abraão encontra a sua plenitude em Jesus no Calvário.

{tab=A hóstia partida}

Quando o sacerdote parte a hóstia, simboliza – com este gesto – o sacrifício do Cordeiro de Deus partido para a nossa salvação, para a nossa justificação. É um gesto que deveria ser cumprido ao retardador, de tão importante que é que seja assimilado e vivido em profundidade!

Antigamente, não eram usadas as hóstias, mas era o povo que fornecia o pão para a Eucaristia. A acção de partir o pão, portanto, podia prolongar-se bastante, consoante o número dos participantes na missa. Durante esse período de tempo, o povo, para manter o recolhimento, agradecia a Jesus pelo seu sacrifício, cantando repetidamente a invocação “Cordeiro de Deus”.

A Igreja, depois do Concílio Vaticano II, convidou a recuperar estes gestos e sugeriu alguns meios para o fazer (cf Instrução sobre o culto do mistério eucarístico):

» substituam-se o mais possível as habituais hóstias pequenas brancas, insípidas, por verdadeiro pão ázimo que possa ser partido e distribuído;

» o sacerdote evite consagrar só a hóstia, comê-la e, depois, ir buscar ao sacrário as outras para as distribuir: estas hóstias, como acontecia nos primórdios do cristianismo, deveriam ser guardadas para os doentes, os efermos, aqueles que não podem participar na celebração. O pão – todo – é consagrado na Eucaristia;

» sobre o altar deveriam estar somente o cálice, a patena, o missal e, no máximo, um pequeno arranjo de flores. Tudo o resto – microfones, castiçais, galhetas, avisods, óculos… – deveria ser colocado numa mesinha ao lado do altar, de modo a permitir à assembleia ver bem o pão e o vinho;

» poderia repetir-se o canto “Cordeiro de Deus” durante todo o tempo que dura o partir do pão.

…unido ao vinho no cálice

Depois de ter partidoo pão, o sacerdote coloca um pedacinho no cálice do vinho consagrado. Na liturgia é chamado o rito da imisção: carne e sangue, unidos de novo, são o sinal da ressurreição de Jesus.

Na antiguidade, este rito era denominado fermentum.

O Papa, que celebrava a Eucaristia principal em Roma, partia o pão e conservava alguns pedaços naquele que nós, hoje, chamamos tabernáculo: era a comunhão destinada aos doentes. No domingo seguinte, no momento do fermentum, o pão que sobrava da distribuição aos enfermos era lançado todo no cálice: em parte, para amolecer, mas sobretudo, para mostrar a continuidade da Missa no tempo, de domingo em domigo. Além disso, uma parte do pão reservado aos doentes, era enviado para outras igrejas de Roma onde se celebrava a Missa. Os sacerdotes que celebravam a Eucaristia nessas igrejas pegavam nestes pedaços de pão e colocavam-nos, no momento do fermentum, no cálice para exprimir a unidade com o Papa.

{tab=A comunhão}

Estamos no quarto momento da liturgia eucarística: a distribuição do pão partido.

Trata-se dum acto desejado por Jesus na Última Ceia, cumprido fielmente pela Igreja primitiva e reafirmado fortemente pelo Concílio Vaticano II (ccf Sacrosantuctum Concilium, 48): a comunhão é indispensável para uma perfeita participação na Eucaristia.

Nos séculos passados, pelo contrário, devido à influência negativa do jansenismo, tinha-se chegado ao absurdo de receber a comunhão somente quando se sentiam dignos, ou seja, quase nunca.

Esta rarefação da participaçao na mesa eucarística atingiu o cúmulo em 1800 quando, até no interior dos mosteiros de clasusura, era fácil encontrar quem se “gabasse” de ter recebido a comunhão uma única vez em três anos!

Na Igreja primitiva, a comunhão era sempre sob as duas espécies, como acontece – ainda hoje – nas Igrejas orientais e em algumas comunidades africanas.

A Igreja, na Instrução sobre o culto do mistério eucarístico (Cf n.2), recomenda a comunhão sob as duas espécies, tomando o sangue diretamente do cálica, em ocasiões de grandes festas como, por exemplo, um matrimónio.

Para anunciar o momento da comunhão, antigamente pronunciavam-se as palavras “Se alguém é santo, aproxime-se!” ou “As coisas santas para os santos!”. Hoje, por vezes, toca-se uma campainha – que quer dizer “acordai” – e o sacedote proclama: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”.

Indo receber a hóstia, recordemo-nos de que não se trata de um “self-service”, mas de um dom que vamos receber. São esclarecedoras as palavras de S. Cirilo, bispo de Jerusalém:

“Quando te abeiras da comunhão, não estendas as palmas das mãoes nem alargues os dedos: mas faz de mão esquerda um rono para a tua mão direita, pois esta deve receber o rei, e na cova da mãoesquerda recebes o corpo de Cristo, dizendo: “Ámen”.

Então, com arrependimento, santifica os tesu olhos em contacto com o santo corpo, depois toma-o e presta atenção para não deixar cair nada…

Depois de ter comungado o corpo de Cristo, aproxima-te também do cálice do  seu angue. Não estendas as mãos, mas, inclinado e em atitude de adoração e de respeito, dizendo ‘ámen’, santifica-te, tomando também um pouco do sangue de Cristo. E, enquanto os teus lábios ainda estão molhados, passa neles suavemente as tuas mãos e santifica os teus olhos, a tua fronte e os outros sentidos.”

{tab=Ámen}

Não pode haver comunhão sem comunicação: o “ámen” que pronunciamos antes de receber a hóstia, é a nossa chancela à aliança com Deus. Este “ámen” significa:

» aceitar entrar no mistério da salvação. O Concílio sintetiza o itinerário de fé do cristão em três palavras:

mistério ( a história da salvação), comunhão ( a unidade entre o homem e Deus), missão ( o anúncio a todos os homens).

S. João Crisóstomo afirmava: “A essência do cristianismo é tornar-se um só, com Cristo e com os outros”;

» alegrar-se porque, por meio da hóstia, Deus Trindade vem viver em nós e nós podemos viver n’Ele;

» agradecer por este dom, que é o maior de todos;

» permitir a Crsito que nos transforme, sem oferecer resistência;

» empenhar-se a amar e difundir a menagem de Cristo;

» ter fé, tomar consciência de que naquele pedaço de pão, naquela hóstia branca, está Jesus inteiro.

 Texto retirado do livro “Eucaristia coração da vida”, PEYRON, Francesco, ANGHEBEN, Paolo, Edições Salesianas 2004

 

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