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Sinto, logo existo
Os sentimentos à flor da pele e a procura de grandes emoções controlam com frequência a vida de um adolescente. Diz um rapper numa das suas letras: Os sentimentos e eu… que loucura! Por trás disto há todo um caos hormonal que gera estados cambiantes, como na montanha russa. Mas no meio da efervescência emocional, o adolescente busca o calor afectivo dos outros, dos iguais. E, no meio de tudo isto, o “altamente!”, a vida entendida como um jogo que gera emoções intermináveis. A emoção toma o comando e as consequências podem ser as mais variadas e, por vezes, desastrosas.
Eu sou eu dependendo das minhas circunstâncias
Exactamente pela necessidade de pertencer a um grupo que traga um calor afectivo, muitos adolescentes convertem-se em seres camaleónicos, capazes de adoptar formas de estar, de se comportar, que encaixem no grupo de amigos, com o momento.
Trata-se de um ensaio. O adolescente ainda não sabe quem é; está a construir a sua identidade. O grupo de amigos passa a ocupar o lugar central, o que ocupavam os pais quando era criança, na família. Faz-se o que for preciso pelos amigos e ainda mais pelo namorado/a…
O problema surge quando esses ensaios levam o adolescente para terrenos perigosos (drogas, sexo, comportamentos violentos…).
Eu sou eu!
“Não ralhes comigo!” é a frase dirigida com mais frequência aos adultos. “Eu já me conheço, não é preciso que ninguém me diga como sou!”. Ferozes defensores da sua identidade, os adolescentes desconfiam da palavra do adulto. Não obstante, como me dizia um jovem de 18 anos: “Eu sou quem faz o guisado, e sou eu que o como, mas… às vezes preciso de alguém que me ajude a fazer o guisado!”
O adulto tem de saber ler entre linhas, porque estes rapazes raramente lançam um SOS.
Carpe diem!
Esta frase, que se tornou mundialmente conhecida com o filme O clube dos poetas mortos, curiosamente continua a ter eco nos adolescentes. Vive o presente, vive agora, ao máximo…
Indiana Jones em busca de… Quê?
Os adolescentes de hoje são um “Indiana Jones” não sabendo bem do que andam à procura ou como o conseguir. O personagem dessa saga vai sempre à procura de não se sabe o quê e aquilo que procura lança-o ao caminho, dá-lhe forças para enfrentar qualquer tipo de perigos… Mas parece que os nossos adolescentes não andam à procura de nada. E se o fazem, nem mesmo eles sabem do que andam exactamente à procura.
Não há um projecto vital que marque uma meta para onde se dirigir. O que importa é o presente, mesmo que se vagueie à deriva.
Consumo, logo… continuo a existir
Infelizmente, o convite ao consumo é o grande apelo da nossa sociedade. Ter de tudo, que nada me falte e tê-lo já, sem esperar demasiado. À maioria dos adolescentes não falta nada, talvez por isso Indiana Jones não tenha nada a procurar.
Querer é poder e… ter
A frustração não existe, fica eliminada porque “posso conseguir tudo”. Pensemos, por exemplo, nos realities shows de cantores e bailarinas: Operação Triunfo, Factor X, Fama, Ídolos… Em todas as conversas entre os concorrentes, em todos os juízos emitidos pelos professores da Academia, ecoa esta frase: “Podes conseguir tudo aquilo que te propuseres, basta querê-lo”. E acontece que na vida, muitas vezes, não podemos chegar a viver ou a ter o que mais desejamos. Quem ajuda os adolescentes a baixar dessa nuvem quimérica onde tudo é possível? Quem lhes ensina a aceitar que tantas coisas escapam ao nosso controlo, que querer não é poder? Viver sadiamente, supõe saber lidar positivamente com a frustração.
Eu cá penso assim…
Prima a subjectividade. O adolescente universaliza o seu pensamento e dogmatiza à sua maneira.
Sou o meu “nick”.
Adolescentes ligados ao mundo virtual dos chats, mantendo conversas eternas nas comunidades virtuais, recebendo continuamente mensagens de telemóvel. No “nick” cada um procura plasmar uma síntese de si próprio, do que lhe agrada, do que o “chateia”. Uma identidade virtual que o distinga no emaranhado de milhares de presenças virtuais. O grande perigo do mundo virtual é que não poucos adolescentes criam identidades ideais para escapar de uma realidade que lhes não agrada, a uma realidade onde se sintam diminuídos ou que os supera. Para não referir os outros perigos que os espreitam na internet e que todos conhecemos.
Não posso dormir sem o meu Ipod, não posso viver sem o meu telemóvel, não posso estar sem o messenger…
Frases que oiço em qualquer convívio. Adolescentes que parecem “homens orquestra”, abarrotados de aparelhos, mas com poucas possibilidades de escutar o seu coração com profundidade.
Não tenho tempo
Desde pequenos, as agendas estão saturadas de actividades extra-escolares e de todo o tipo. Noutros casos, não há adultos que supervisionem o uso que o adolescente faz do seu tempo, e este emprega uma percentagem elevada desse tempo a “navegar”, falar ao telefone ou a vaguear pelos centros comerciais. Trata-se de um excesso de responsabilidades ou de uma ausência total delas. A consequência é a nítida dificuldade que encontram para parar, para sentir, para ficar em silêncio, para dar asas à imaginação, etc.
Hoje conta comigo, amanhã… não sei
Fruto do Carpe Diem encontramos outro “tique” próprio da adolescência de hoje. Assume compromissos a curto prazo. Pressente-se um medo a ter de renunciar ao que “me apetece” por causa daquilo a que me comprometi.
De “zapping” pela vida
Se há algo que caracteriza os nossos adolescentes é a sua capacidade em passar de uma coisa a outra sem solução de continuidade. O jovem que viveu um retiro “na maior” num fim de semana e saiu “alucinado”, no próximo fim de semana embarcará, porventura, numa outra experiência radicalmente oposta e também a viverá “na maior”. Zappeando pela vida, ou navegando por ela, à maneira de internauta, conecta-se com os programas que mais o chamam à atenção, às páginas web que mais impacto lhe causam, vivendo a espaços universos paralelos.
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Foram algumas imagens para reconhecer o adolescente dos nossos dias. Algumas são comuns a todas as épocas, mas diferem na sua formulação. Outras, são próprias deste momento de mudança. Estas frases são apenas uma tentativa de retrato dos adolescentes. Pensa nos teus adolescentes: que outras frases acrescentarias?
Estes adolescentes não são nem melhores nem piores do que fomos nós também. São assim, e assim os temos de acompanhar. Talvez tenhamos a sensação de que neste esboço apenas apareçam traços negativos. Contudo, o sumo destas frases põe-nos a descoberto um adolescente desinibido, mais sincero à hora de expressar o que realmente sente e pensa. Em muitos casos, são rapazes e raparigas capazes de enfrentar sérios problemas familiares e pessoais com uma grande força, assumindo, por vezes, responsabilidades excessivas para a sua idade. Na sua maioria estão conscientes das suas carências e dos seus medos e, quando interrogados, expressam-no com clareza. Por último, conhecem muito bem o grande nível de exigência que lhes coloca a sociedade em que vivem e o grau de stress que isso lhes acarreta.