Estive na semana passada num concerto em Arcozelo.
O salão estava cheio, com pessoas de diversas gerações.
Centrei a minha atenção num grupo de crianças que teriam uns seis anos de idade.
Enquanto o espectáculo não começava tive oportunidade de ouvir a suas conversas e as reacções de alguns pais, que estavam sentados perto de mim.
O meu olhar descobriu o da Francisca, uma menina muito bonita. Parecia uma boneca de porcelana. Cabelo ondulado, amarrado num rabo-de-cavalo, que lhe chegava ao meio das costas. Olhos verdes, pele clara, com umas pequenas sardas. Julgo que as tinha mesmo, não foi a minha imaginação que as pintou no seu rosto, para que ele ficasse perfeito.
Não foi preciso esperar muito para descobrir que ela era uma menina especial.
Algo no seu olhar distante e, no entanto, tão meigo mexeu comigo. Os seus gestos mais lentos, um pouco desarticulados, o seu sorriso diferente, a dificuldade em expressar-se oralmente.
Passei então a observar o triângulo amoroso que existia entre ela e os seus pais. Comoveu-me o olhar de amor, cúmplice, dos pais da Francisca. Desconcertou-me a liberdade que lhe davam, como se ela fosse uma menina normal, seja lá o que isso for.
Ela estava de pé, com uns colegas, e a dada altura veio a chorar para junto dos pais, a queixar-se que a tinham magoado na cara. Os pais não se moveram do lugar. A mãe repetiu-lhe umas três vezes, num tom suave: “Já passou, foi sem querer.”
Ela entendeu a mensagem, deu meia volta e foi de novo ter com os colegas.