Quando falamos de “1º anúncio” falamos do anúncio da fé a quem a não conhece mas também àqueles que a deixaram decair. Podemos falar de 1º anúncio a quem não conhece a fé ou a quem não crê no conteúdo da fé. Mas também 1º anúncio para superar a fractura entre fé e vida. Para tomar consciência que a fé tem na vida pessoal uma importância decisiva.
Cronologia e genética
Neste sentido “1º anúncio” não é uma expressão cronológica mas genética. Não é o anúncio do Evangelho que pela 1ª vez chega aos ouvidos de uma pessoa. Isso seria o sentido cronológico do 1º anúncio. O sentido genético refere-se ao facto de ser aquele anúncio a partir do qual se vai desenvolver progressivamente todo o edifício da vida cristã. Como se este anúncio contivesse em si o DNA do cristianismo. Um anúncio que procura um primeiro encontro efectivo com Deus através de Jesus Cristo, a partir do qual pode brotar e crescer progressivamente todo o edifício da vida cristã.
É um primeiro anúncio “genético” e não teológico. Não estamos a falar daqueles conteúdos de verdade que desenvolvidos logicamente podem conduzir a uma mundo-visão cristã. Este centro genético não é um conteúdo intelectual ou teológico da fé.
Este núcleo fundamental é essencialmente um encontro, uma experiência existencial de relação com o mistério de Deus em Jesus; encontro a partir do qual se pode desenvolver toda a existência cristã: como reflexão sobre a identidade pessoal, como tomada de consciência da própria experiência, como empenho ético, como relação de comunhão com os outros.
Ressuscitou!
No centro do anúncio cristão está a proclamação que Deus ressuscitou Jesus Cristo dos mortos. Isto é bastante óbvio. Mas esta afirmação nunca está isolada. Não se pode entender o anúncio da ressurreição de Jesus se não ligado ao significado da sua morte. Deus ressuscitou Jesus dos mortos, porque Jesus levou à perfeição a sua obediência a Deus na obediência da cruz; porque Jesus fez da morte de Jesus uma morte “para” (o meu corpo para vós, o cálice do meu sangue derramado por vós). A ressurreição é a resposta de Jesus a esta opção de Jesus em viver entregando-se. Falar da ressurreição de Jesus é falar da sua morte e do seu significado.
Mas também não se pode falar da morte de Jesus como “morte para” sem entender toda a vida de Jesus como “vida para”. Se Jesus na última ceia diz “Este é o meu corpo oferecido para vós” é porque viveu toda a sua vida nessa lógica de oferta em favor dos outros. Toda a sua pregação, os seus milagres, o seu estilo de vida, os seus encontros com as pessoas são vividos como doações, como ofertas de si mesmo. A pró-existência de Jesus tem o seu cume na cruz mas abraça toda a sua vida.
João resume tudo muito bem: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. O anúncio que propõe a re4ssurreição, deve anunciar a “morte para” e também a “vida para”.
Mas, por outro lado, só é possível compreender a vida de Jesus como cumprimento das promessas de Deus. Se falamos da vida e da morte de Jesus como vida e morte redentoras, como lugar de reconciliação… é porque em Jesus todas as promessas de Deus, desde Abraão, se realizam, se tornam um “sim”. Não é possível entender a vida de Jesus sem toda a história da salvação.
E isto tem algo de paradoxal: o primeiro anúncio contem tudo. Anuncio a ressureeição mas não a posso anunciar sem referir a “morte para”, mas não a posso anunciar sem uma referência à “vida para”, mas não a posso fazer sem uma referência ao desígnio de salvação de Deus que quer a salvação da humanidade e que o homem participe na vida divina.
Não é possível anunciar a ressurreição de Jesus sem ter claro e sem comunicar que aquele Jesus de quem falamos está vivo. Não estamos a falar de alguém que morreu há 2000 anos e que foi reanimada ou que está viva como símbolo ou como mem+oria. Estamos a falar d’Aquele que disse: “Eu estou convosco todos os dias até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20), “Eu estive morto mas agora vivo para sempre e tenho poder sobre a morte e sobre os abismos” (Ap 1, 18).
Anunciar Jesus ressuscitado é anunciar que Ele está presente na sua Igreja como espírito que a edifica e anima.
Este texto é uma adaptação muito livre de um texto de Luciano Monari