Samaritana: um comentário ao Evangelho do 3º domingo da quaresma

Algumas ideias sobre ao Evangelho da samaritana

Há algumas informações que são mais ou menos sabidas de todos. A hostilidade entre judeus e samaritanos era notória. Era étnica mas também religiosa. E, como sempre acontece nestas situações, tudo é bom pretexto para odiar o “outro”, aquele que é diferente de nós.

A tal samaritana deveria ter mesmo um teor de vida algo promíscuo. Não só pela referência que Jesus faz aos cinco maridos que já teve (vai no sexto) como também pela hora a que a senhora vai buscar água ao poço. A aldeia só tem um poço, que está um pouco afastado. De manhã cedo, pela fresca, as mulheres vão buscar a água de que necessitam para o dia: cozinhas, limpezas… É um trabalho pesado. Aqui a nossa samaritana prefere ir fazer este trabalho pesado e cansativo ao meio-dia. Estranho. Provavelmente prefere ir ao poço a esta hora porque há menos riscos de encontrar vizinhas que comentem a sua situação matrimonial.

 

O episódio todo tem que ver com a identidade de Jesus.

Ele vai ser descoberto como “água viva”, como resposta aos desejos mais profundos da humanidade. Como salvador.

É interessante esta perspectiva. Quais são os teus desejos mais sérios, mais profundos? Jesus apresenta-se como realizador desses desejos. Se calhar podes responder-me “Pois o único desejo que tenho é arranjar emprego e não estou a ver como é que Jesus me resolve o problema!” Talvez tenhas de fazer um processo de análise dos teus desejos. Talvez aquilo que te ocupa mais a cabeça não seja senão uma manifestação de outros desejos mais radicais: segurança, amor, sentido para a vida.

 

Mas a identidade de Jesus é mostrada não apenas no título que Ele reclama mas também no modo como Ele comunica.

Havia entre Jesus e a samaritana uma série de barreiras.

De raça: judeus e samaritanos alimentavam aqueles ódios velhos de gerações. Jesus, com a maior das descontracções, ignora tudo isso e não perde a ocasião de lançar pontes para aquela gente

De género: entre homens e mulheres não era possível um encontro paritário. Havia apenas dois modelos possíveis de relação entre homens e mulheres. O primeiro era de origem social, marcava muito claramente os papéis de cada um dos géneros, as obrigações, os direitos, os deveres. O segundo era mais instintivo; baseava-se na lei do mais forte e via as mulheres como objectos em função de uma lógica masculina. Também aqui Jesus não se detém. Ele consegue olhar para aquele mulher e vê nela alguém a quem amar e salvar. Alguém que Deus quer ver feliz. Não aceita ver esta mulher como mão de obra doméstica nem como objecto sexual.

De moral. Entre o jovem rabi da Galileia que faz apelo a uma fé profunda e a uma vida coerente e a mulher consumidora de amantes parece que não há diálogo possível. E contudo Jesus não deixa que os erros do passado, os amores desencaminhados, desta mulher sejam obstáculo à comunicação.

 

E isto é importante. Começamos a perceber que Jesus é o salvador, o único que nos pode trazer a felicidade. Mas ficamos também a saber que Ele tem poder para trazer a felicidade até aqui. Ele tem poder para derrubar os muros que nos encerram. Não há nada na tua vida que O possa impedir de trazer Evangelho à tua vida.

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