Grupo de catequistas: vencer as disfunções

Às vezes o grupo de catequistas não funciona bem... O que podemos fazer para lhe dar a volta?

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Na Igreja católica temos vindo a ultrapassar o clericalismo, um modelo de organização onde alguns (os clérigos) sabiam tudo, faziam tudo, mandavam em tudo. É certo que esse modelo tarda em desaparecer porque agora há muitos leigos que assumem o “clericalismo”: são eles agora a pretender saber tudo, a fazer tudo…
Porque somos comunidade, consideramos que “fazer juntos” é melhor do que fazer isolados. Esta opção levou ao aparecimento de grupos de trabalho, a equipas, a reuniões… Muitas vezes pouco eficientes.
Este vídeo quer ajudar o grupo de catequistas a vencer as cinco disfunções mais frequentes. A catequese não é feita por uma pessoa só. Há vários catequistas, com diferentes respon-sabilidades e tarefas. É do mais elementar bom senso que eles se sintam um grupo, que trabalhem em conjunto para a missão comum. Para isso acontecer, o grupo dos catequistas tem de ser saudável. Mas qualquer grupo formado por pessoas tem as suas disfunções. Elas são uma inevitabilidade. Mas não temos de nos resignar a elas. É possível superá-las.
Disfunção 1: Ausência de confiança
A ausência de confiança é das disfunções mais graves de um grupo de trabalho. Porque muito do que acontece dentro de um grupo está baseado na confiança entre os seus membros. Quando ela falha, tudo é posto em causa. Sem confiança, crescem as intrigas e o desinteresse.
Como aumentar o grau de confiança entre os catequistas? Propomos que se construa a confiança baseada na fragilidade. A nossa proposta pode parecer estranha mas mesmo assim fazemo-la. Normalmente, achamos que a confiança cresce quando apreciamos as qualidades e a competência do outro. O ideal seria ter elementos “perfeitos”, competentes em tudo o que fazem.
Nós vamos em sentido contrário. Quando as pessoas (a começar pelos mais responsáveis) assumem as suas fragilidades, elas limitam-se a reconhecer aquilo que todos os outros já sabem. Mas ao fazê-lo transmitem duas mensagens importantes.
A primeira é que estão dispostas a “despir” as máscaras e a ser honestas perante o grupo.
A segunda é um convite aos outros elementos do grupo a participarem de tal modo que possam suprir as falhas do elemento que assumiu a sua fragilidade. Ninguém pode fazer tudo sozinho e uma confiança baseada na fragilidade permite que todos os elementos do grupo contribuam de forma significativa.
Imagina que estás num grupo com um coordenador que cultiva uma fachada de enorme competência. Qual poderia ser o teu papel nessa equipa? Limitas-te a ser um executante da visão e da decisão do coordenador. Serás um subordinado mais ou menos obediente.
Imagina agora que estás num grupo onde o coordenador e os restantes elementos não têm medo de assumir as suas fragilidades, as suas ignorâncias e incompetências. Como te sentes?
Podes sentir-te motivado a dar o teu melhor para os ajudar, numa relação de igual para igual. Porque sentes que podes confiar naquelas pessoas. Porque sentes que o teu contributo, a tua energia, vai ser mesmo necessária.
A confiança não é um vago sentimento de bem estar. É uma qualidade bem prática e concreta que permite a um grupo tomar melhores decisões, mais depressa, com melhores resultados. A existência e o tipo de confiança nas equipas de responsáveis da comunidade tende a propagar-se ao resto da comunidade.
Disfunção 2: Medo do conflito
Quando falamos de conflito não estamos a falar de agressão, de insultos, de gritos. Isso são apenas más formas de gerir os conflitos. O conflito nasce da diferença honesta de opiniões e de visões. Na Igreja, temos muito receio do conflito. Talvez porque fomos reduzindo Jesus a uma figura suave, inócua, descafeinada. Talvez porque fomos esquecendo que Jesus é Alguém que faz apelos fortes, que exige decisões arrojadas. Alguém que nunca teve medo aos conflitos. Alguém que foi morto por fazer apelos claros e inequívocos à mudança.
Em muitos grupos de catequistas, foi-se criando uma cultura de meias-tintas, onde poucos assumem claramente as suas convicções, onde se procura estar de acordo com tudo e com o seu contrário. Onde só se decide quando não há risco de ofender nenhuma sensibilidade. Onde não há coragem de assumir os rumos propostos pela Igreja e se vai pactuando com as tradições de sempre.
Quando um grupo quer, acima de tudo, evitar o conflito, é impossível tomar as melhores decisões. E a qualidade das relações entre as pessoas ressente-se: porque todos sabem que ninguém está a ser totalmente franco e honesto no que diz e defende.
Quando os nossos grupos não se empenham num debate saudável, apaixonado, sem preconceitos, acerca das questões realmente importantes… dão espaço à intriga e aos jogos de bastidores. E só se conseguem tomar decisões medíocres. Que, por sua vez, vão produzir resultados medíocres.
O conflito é energia. Energia que nasce da nossa adesão apaixonada à causa de Jesus Cristo. É essa paixão e energia que nos leva a procurar os caminhos que melhor permitam evangelizar. Mas quando essa energia não é canalizada para o grupo, para o debate e o conflito saudáveis, ela tende a aparecer sob outras formas: reuniões informais com grupinhos, denúncias anónimas, pequenas sabotagens…
É esta visão madura de conflito que nos permite “discordar e comprometer-se”. Quando o diálogo é franco, quando o conflito foi gerido de forma saudável, também aqueles cujas opiniões não foram seguidas se sentem solidários e comprometidos com as decisões tomadas.
Disfunção 3: Falta de compromisso
Já te aconteceu estares numa reunião e saíres sem perceberes o que é que foi decidido?
Os grupos saudáveis sabem qual é o tempo de debater e qual é o tempo de decidir. Não há decisões perfeitas. Mas todo o debate e conflito devem levar a uma decisão e a um compromisso.
Quando as pessoas saem de uma reunião sem perceber o que foi decidido, vão regressar às suas tarefas habituais, preocupadas com o que lhes parece mais urgente ou mais fácil, sem saberem exactamente o que é esperado que façam.
Assumir compromissos e tomar decisões serve para traduzir uma visão, uma estratégia em acções concretas, em modos novos de fazer.
Disfunção 4: Fuga à responsabilidade
Educar as pessoas a serem responsáveis pelos seus actos é difícil. E não admira que o evitemos. Imagina uma situação: Na última reunião do grupo de catequistas, decidiu-se convocar uma reunião de pais. Distribuíram-se as tarefas: quem preparava a sala (os catequistas da 1ª fase), quem faria o tema (o pároco), quem preparava os “comes e bebes”(os catequistas da adolescência), quem escreveria e fotocopiaria o convite aos pais (a Hermengarda).
Três dias antes da data marcada para a reunião, o coordenador percebe que os convites não foram ainda fotocopiadas nem (obviamente!) entregues. Que fazer? O mais normal é não fazer nada. Para não ferir a susceptibilidade da Hermengarda, o coordenador reúne-se com alguns catequistas e por telefone lá vão entrando em contacto com os pais.
Outra hipótese é dialogar privadamente com a Hermengarda e chamar-lhe a atenção.
Mas numa equipa saudável ambas as opções são insuficientes. Numa equipa que se quer eficaz e que quer viver os valores da comunhão, todos são responsáveis perante todos. Porque todos estão empenhados na mesma causa. Eu posso ser responsável por um sector mas tenho o direito e o dever de lutar porque todos os outros sectores estejam a funcionar bem. Quando isso não sucede cai-se no “sectorialismo” em que cada sector funciona (melhor ou pior) por si mesmo e onde não há atenção ao funcionamento do todo.
Disfunção 5: Desatenção aos resultados
Quando uma empresa tem resultados negativos, quando as despesas são mais do que os proventos… há problemas e alarme. Reúnem-se as chefias, debate-se, identificam-se as causas do fracasso e procuram-se alternativas.
Na Igreja tendemos a “espiritualizar” os fracassos pastorais e os resultados: “Não correu bem, mas alguma coisa ficou”; “Nós semeámos… a seu tempo virá a colheita”. Talvez. Ou talvez não.
É claro que nestas coisas da Fé e da Graça os resultados não estão totalmente nas nossas mãos. Podemos fazer tudo bem e, mesmo assim, o destinatário da nossa catequese, usando a sua liberdade, pode dizer “não”. Tudo o que fazemos na pastoral é apenas criar as condições parta um diálogo de amor e liberdade entre as pessoas e Deus.
Mas dizer isto não é dizer que a mediocridade e o desleixo são coisas boas. Quando tu acordas de manhã não te limitas a rezar pedindo e agradecendo ao Senhor o teu pequeno-almoço: tu vais preparar o teu pequeno-almoço!
Além desta tendência a ignorar os resultados em nome dum sentido de Fé mal entendido, há aqueles que (imitando a lógica das empresas) começam a procurar os culpados. Não é muito inteligente nem muito cristão. Se os resultados são fracos não interessa saber “de quem é a culpa” mas sentir que isso é um problema para todos e que, com todos, devemos mudar.
Um grupo saudável vai fazer uma “autópsia” aos maus resultados. Os grupos com qualidade estão constantemente a aprender. Procuram ler os resultados à luz da Palavra de Deus e, sem desânimos, procuram novas e melhores maneiras de fazer as coisas. Com humildade perguntam-se: “O que poderíamos ter feito de diferente?”; “O que podemos aprender com isto?”; “Como poderemos recuperar o melhor do que fazíamos antes mudando o que é necessário neste contexto novo?”
O empenho por responder a questões deste tipo ajudam a criar um grupo de catequistas saudável, com alto rendimento.
Em síntese…
Ser Igreja passa por criar equipas e grupos saudáveis: espiritualmente, relacionalmente e intelectualmente saudáveis. Há dificuldades. Não temos muita tradição de trabalhar em equipa. Mas cruzando estas pistas com uma crescente abertura ao estilo fraterno das comunidades dos primeiros cristãos será possível aumentar a eficácia dos nossos grupos de trabalho. E ir fazendo com que também eles se tornem lugares de crescimento na fé.

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{tab=Para dialogar}

Depois de o grupo de catequistas ver o vídeo pode dialogar a partir deste guião:

Concordas que estas disfunções pode existir?

Concordas com as soluções propostas?

O que será necessário para que cada um e nós todos como grupo de catequistas superemos estas disfunções?

Que outras disfunções existem que nos impedem de crescer e realizar bem a nossa missão na Igreja?

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