Lectio divina: 26º Domingo Comum (ano C)

São maravilhosas as imagens que nos são apresentadas neste XXVI DTC.

Os textos são autênticas peças literárias. As mensagens que transparecem são intuitivas. Num sentido analítico, o nosso primeiro olhar vai para o que contemplamos na descrição de Amós (1.a leitura) ou na parábola do rico e do pobre (Evangelho). Em Amós encontramos um retrato caricato dos ricos. O que está em evidência é o desprezo dos pobres e o poderio dos ricos. No Evangelho encontramos elementos muito humanos, muito próximos dos comportamentos do homem de hoje. Senão vejamos: o rico não tem nome mas conserva o seu estatuto de rico. Fala ao pobre Lázaro, mesmo mendigando intercessão, como rico. Esquece-se de não lhe ter dado importância, de o ter como objeto desprezível. Nem uma migalha lhe deu. A experiência de abandonado fá-lo pedir pelos seus cinco irmãos. Mas, em nenhum momento deixa o seu estatuto. O rico nunca imagina que, um dia, pode ser pobre. Descobre a ideia de “inferno” (Lc)
como soma de infinitas solidões. Só depois de morto descobre a espetacularidade do “seio de Abraão” (Paraíso, céu). Finalmente, o nosso último olhar vai para o discípulo da Palavra que observa a história e faz dela uma leitura espiritual. Vê a terra cheia de Lázaros. Deus está nas suas feridas. Deus tem gravado nas Suas mãos os nomes dos seus pobres. No seu agir experimenta antecipadamente a história da salvação. Deus cuida da história humana como Sua obra-prima. “Onde mora Deus? Deus mora onde O deixamos entrar”. (Buber) (Ler Poema “Luz de Deus” – Uma leitura espiritual da vida do homem).
1. Introdução
O tema deste Domingo pergunta-nos se fazemos uma leitura espiritual do sentido da história. Leva-nos ao coração do Ano da Misericórdia: não somos donos dos bens de Deus mas Seus colaboradores na administração e na partilha com os mais carenciados (1.ª leitura). A carta a Timóteo traça-nos o perfil do “homem de Deus”. O Evangelho desmonta tantas seguranças ilusórias. A parábola esclarece.
2. Amós 6, 1a.4-7
2.1 Texto
Eis o que diz o Senhor omnipotente: «Ai daqueles que vivem comodamente em Sião e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria. Deitados em leitos de marfim, estendidos nos seus divãs, comem os cordeiros do rebanho e os vitelos do estábulo. Improvisam ao som da lira e cantam como David as suas próprias melodias. Bebem o vinho em grandes taças e perfumam-se com finos unguentos, mas não os aflige a ruína de José. Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados e acabará esse bando de voluptuosos».
2.2 Desilusão em falsas seguranças
Amós desmonta as frágeis seguranças do seu povo indolente, apoiado nos prazeres e na exploração do próximo. A parábola lucana do rico e do pobre Lázaro do Evangelho de hoje põe ao rubro esta realidade desumana. Os povos da Samaria irão despidos de tudo para o exílio.
3. Salmo 145 (146), 7-10 (R.1b)
3.1 Carrilhão musical
“É assim que o Salmo 146 nos convida a cantar os «doze belíssimos nomes» de Deus, decalcando aqui a expressão muçulmana que exalta os «noventa e nove belíssimos nomes » de Allah” (Dom António Couto). Neste Ano da misericórdia, que bela a descrição das obras de Deus: ilumina os olhos dos cegos, faz justiça aos oprimidos, ampara o órfão e a viúva, dá pão aos que têm fome…
4. 1ª Timóteo 6, 11-16
4.1 Texto
Caríssimo: Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé perante numerosas testemunhas. Ordeno-te na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos: Guarda o mandamento do Senhor, sem mancha e acima de toda a censura, até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual manifestará a seu tempo o venturoso e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele a honra e o poder eterno. Ámen.
4.2 Perfil do homem de Deus
Se Paulo iniciou a carta chamando a atenção para aspetos negativos, agora, termina-a fazendo uma série de exortações inspiradas na justiça, na piedade, na fé e na caridade, na perseverança, na mansidão. Faz ver a Timóteo que tem de ser “homem de Deus” travando um bom combate. O texto finaliza com uma bela “doxologia” que o levará até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo. É arrebatado pela beleza transcendente da Sua presença, “que nenhum homem viu nem pode ver”. “A Ele a honra e o poder eterno. Ámen”.
5. Lucas 16, 19-31
5.1 Texto
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».
5.2 Perda de valores
Esta parábola só existe em Lucas, o evangelista dos pobres. Em cena, o rico e o pobre. O rico domina nesta terra e até depois da morte. Não consegue perceber que já morreu. Todos os pedidos que faz partem do seu posto de ser rico. Não percebe que adorou ídolos durante a vida, iludido pelas riquezas. Agora está cego. Quer alguém que o compreenda, mas nem o Pai Abraão sabe quem ele é. Vive um drama. Os festins e as riquezas tiraram-lhe a lógica da salvação.

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